A secretária da Fazenda de Goiás (Sefaz), Ana Carla Abrão Costa, defendeu a privatização da Celg, em entrevista à Rádio 730, com o argumento de que os acionistas atuais da empresa não têm condições de fazer investimentos para que a Celg cresça. Além disso, a companhia tem déficit de R$ 100 milhões por mês.
“Como que essa empresa consegue prestar um serviço que a população demanda hoje com déficit dessa ordem? Porque ela tem uma estrutura de endividamento que a estrangula”, disse Ana Carla Abrão. Segundo a secretária, assim como já foi dito por outros secretários estaduais, os recursos adquiridos com a venda da Celg serão utilizados para investimento no Estado de Goiás. Para Ana Carla, a privatização também fará com que a companhia cresça.
“A Celg privatizada vai melhorar o Estado em dois sentidos: vamos ter uma empresa do tamanho e com a capacidade de crescimento de Goiás e vamos ter recursos para que o governo estadual invista no desenvolvimento do Estado”, afirmou.
Para a secretária, a não privatização trará problemas para o governo, uma vez que a empresa poderá “entrar em colapso”. Isso traria prejuízos a todos os consumidores goianos, incluindo residências, indústrias, comércios e agricultores. “É inviável financeiramente sem um aporte de capital que mude essa estrutura de endividamento. Esse aporte da capital teria que vir dos acionistas. Os acionistas atuais [governos estadual e federal] não têm condições de fazer isso”, ressaltou.
Leia parte da entrevista:
Altair Tavares: Qual será a contribuição da venda da Celg para eliminar esse déficit orçamentário do Estado de Goiás?
Ana Carla Abrão Costa: Zero. A Celg, desde o primeiro momento, foi colocada e tratada como algo fora do ajuste fiscal do Estado de Goiás. O ajuste fiscal do Estado de Goiás está baseado em ações com perenidade. Ou seja, nós não trabalhamos com recursos extraordinários para fechar as contas, porque isso significa que não é um ajuste de fato.
Altair Tavares: É trabalhar com o improvável.
Ana Carla Abrão Costa: Exatamente. Então, a Celg virá com dois objetivos fundamentais: propiciar que o Estado faça novos investimentos, tendo em vista que o Tesouro ainda não tem condições de fazer investimentos vultuosos com recursos próprios e a União não tem condições hoje de dar empréstimos como deu no passado. Então, a Celg virá para ajudar no desenvolvimento do Estado, com obras de infraestrutura, com investimentos que vão trazer o desenvolvimento do Estado. Ou seja, esse dinheiro vai se multiplicar. E o outro ponto, que é fundamental, é que a Celg hoje é um entrave ao desenvolvimento do Estado, ela não consegue acompanhar o crescimento de Goiás. E nem o Estado nem a União, que é inclusive a acionista controladora, não tem recursos para portar a Celg, para que faça investimentos para que ela consiga prestar um serviço à altura do que a sociedade goiana precisa e demanda. Então, a Celg privatizada vai melhorar o Estado em dois sentidos: vamos ter uma empresa do tamanho de Goiás e com a capacidade de crescimento de Goiás e vamos ter recursos para que o Estado invista no desenvolvimento do Estado.
Altair Tavares: Qual a última promessa para o processo de privatização da empresa, o efetivo, que é a divulgação do edital do processo de venda da empresa?
Ana Carla Abrão Costa: Acredito que isso esteja para acontecer. Como o cronograma da Celg foi muito maltratado nos últimos tempos, a empresa está pronta para ser privatizada desde o final do ano passado. O atropelo político, o próprio processo de impeachment da presidente Dilma acabou atravessando nisso, e para mim, inclusive, não sou política, mas é muito surpreendente ouvir discursos políticos de goianos falando mal da privatização da Celg. Isso é debater e defender algo que é ruim para o Estado. A Celg não privatizada é um problema para o Estado de Goiás, ela pode entrar em colapso e quem vai sofrer com isso é a sociedade goiana, é o empresário goiano, é o setor rural, é o agricultor goiano, é o setor industrial e o consumidor goiano. Acho que o debate da Celg tem que deixar de ser político e ser acima disso, e os políticos de Goiás também. Para mim causa estranheza esse debate ser politizado.
Altair Tavares: O discurso diz que a Celg é patrimônio dos goianos e, por isso, não pode ser vendida.
Ana Carla Abrão Costa: Primeiro que isso é uma posição ideológica que não guarda nenhuma conexão com a realidade. Primeiro que a Celg vai continuar em Goiás. Ninguém vai vender a Celg e levar embora de Goiás. Ela vai continuar goiana e, mais, vai passar a ser uma empresa eficiente, que cresce, que tem recursos para investir e melhorar a prestação de serviço dela para a sociedade goiana. Então, é muito melhor do que ter uma Celg que hoje, é importante que se diga, a Eletrobras, que é da União, gere a Celg desde 2012, e não é uma questão de “O governo do Estado não gere a Celg direito, por isso que está com problemas”. Não, quem gere a Celg é a União e ela está com problemas crescentes. A Celg precisa de investimento e nem a União nem o governo do Estado tem condições de investir na Celg mais recursos.
Altair Tavares: Segundo o governador, a empresa tem um déficit de R$ 100 milhões por mês.
Ana Carla Abrão Costa: Exatamente. Ou seja, como que essa empresa consegue prestar um serviço que a população demanda hoje com déficit dessa ordem? Porque ela tem uma estrutura de endividamento que estrangula.
Altair Tavares: A estrutura, principalmente, centralizada em dólares, contratos em dólares, e em juros que são altos.
Ana Carla Abrão Costa: São juros muito altos. Nós conseguimos lá atrás sair do contrato em dólar que a Celg tinha, isso deu um alívio, mas é inviável financeiramente sem um aporte de capital que mude essa estrutura de endividamento. Esse aporte de capital teria que vir dos acionistas. Os acionistas atuais não têm condições de fazer isso.
Altair Tavares: O governo de Michel Temer criou dificuldades para esse processo de privatização da Celg?
Ana Carla Abrão Costa: De forma alguma. O ponto é que nós tivemos que retomar essa discussão com a nova equipe econômica, com a nova equipe do Ministério de Minas e Energia. Agora, a Celg é vista como… A privatização está pronta para ser feita, um governo que ao meu ver de forma muito correta e muito corajosa assumiu dizendo que vai privatizar, que tem uma bandeira de desestatização forte, o próprio BNDES, com a presidente Maria Silvia, tem hoje esse mandato de privatizar e nós temos um ativo que é muito bom, um ativo cuja privatização, a parte técnica, está praticamente pronta e que só vai trazer o bem para todos. A gente precisa lembrar que a privatização, às vezes, entra em uma discussão ideológica que perde um pouco de racionalidade. A gente precisa lembrar que a privatização lá atrás, no final da década de 80, meados da década de 90, o bem que ela para a população. Linha telefônica fazia parte do Imposto de Renda, quando você tinha linha telefônica fixa e ia declarar o Imposto de Renda, era patrimônio, porque era tão caro e tão difícil que você tinha que declarar. Hoje todo mundo tem um celular. Isso é fruto de um processo de privatização. Então, nós não podemos ficar olhando e falando: “Mas a empresa vai sair do Estado de Goiás”, primeiro que não vai sair de Goiás, não vai deixar de ser goiana, vai passar a ser uma empresa goiana privada, eficiente e que presta melhor serviço.
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