O trabalho de auditoria é regulamentado pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC), que acompanha normas internacionais com o objetivo de prevenir erros humanos na elaboração de balanços. As normas não preveem investigação de atos de administração das companhias.
Empresas de auditoria que atestaram resultados financeiros da Petrobras nos últimos anos acompanham os desdobramentos das investigações da Polícia Federal, na Operação Lava Jato, estão receosas em repetir a história da Arthur Andersen, que faliu em 2002 junto com a distribuidora de energia americana Enron, auditada por ela. De 2008 a 2012, período investigado pela PF, a KPMG e a PricewaterhouseCoopers (PwC) validaram balanços da estatal que incluíam gastos com projetos superfaturados, segundo delação do ex-diretor de abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa.
Oficialmente, as auditorias não se pronunciam. Mas, executivos ouvidos pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, que não quiseram se identificar, afirmam que o grande temor é o da perda de credibilidade. “A Justiça concluiu que a Arthur Andersen não tinha responsabilidade nas fraudes da Enron. Mas, quando saiu a decisão, a sua credibilidade já havia sido manchada e não havia mais retorno para a empresa”, afirmou um executivo de uma grande auditoria instalada no Brasil.
O diretor-técnico do Instituto Brasileiro de Contabilidade (Ibracon), Idésio da Silva Coelho, diz ser impossível para uma auditoria perceber desvios de recursos como o revelado pelo ex-diretor na delação premiada. Costa assumiu que, na época em que era diretor de abastecimento, cobrava dos fornecedores com os quais fechou contrato propina de 3% sobre o valor total dos projetos. “Auditor não é polícia e não tem capacidade de auditar o que não é revelado. Às vezes, as pessoas acham que auditor analisa todas as transações de uma empresa. Isso seria proibitivo, por uma questão de tempo e volume de negócios de uma companhia de grande porte”, ressaltou Coelho, ao comentar casos genéricos de denúncias de corrupção. Ele diz que é muito difícil um auditor identificar fraudes, “a não ser que seja muito mal feita”. “A fraude é arquitetada para não ser descoberta”, afirmou.
O trabalho de auditoria é regulamentado pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC), que acompanha normas internacionais com o objetivo de prevenir erros humanos na elaboração de balanços. As normas não preveem investigação de atos de administração das companhias.
Entre todas as auditorias que atestaram os resultados da Petrobras, a que está em uma posição mais sensível é a PwC. Ela presta serviço para a estatal desde 2011 e, em todos esses anos, não fez qualquer ressalva aos números apresentados pela Petrobras e suas controladas.
No mês passado, a PwC protagonizou um episódio que deixou o Conselho de Administração da estatal em maus lençóis. Diante da citação do nome do presidente da Transpetro, Sérgio Machado, por Costa, na Operação Lava Jato, a auditora demonstrou constrangimento em atestar o balanço financeiro da subsidiária de transporte da Petrobras. O desdobramento foi o afastamento temporário de Machado do cargo. Segundo o Ibracon, nenhuma auditoria pode exigir a demissão de executivos. Mas pode alegar dificuldade de executar o trabalho diante da permanência de administradores ou considerar que, diante de denúncias de corrupção, a imagem da auditoria pode ser comprometida e decidir interromper o serviço.
“Suspeitas podem ser levadas pelo auditor ao comitê de auditoria e ao conselho de administração da companhia aberta. A definição das iniciativas para eliminar o problema cabem aos órgãos internos da empresa”, explica Eliseu Martins, ex-diretor da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e professor emérito da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP.
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