As delações da Odebrecht chegaram às raízes da eleição de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República em 2002.
Nos documentos que apresentou ao Ministério Público antes de depor, o patriarca da empresa, Emilio Odebrecht, afirmou por escrito que até a “Carta ao Povo Brasileiro” -documento com que Lula conquistou a confiança do mercado e foi essencial para sua vitória- tem as mãos da empresa.
“Essa carta tem muita contribuição nossa”, escreveu.
Emilio relata que, em 2001 e 2002, organizou uma série de encontros com empresários para apresentar o petista.
“Havia uma grande desconfiança acerca de como seria um eventual governo do PT”, escreve.
Apesar disso, e “em razão da estreita relação” que mantinham, o apoio financeiro da Odebrecht ao petista se iniciou “quando ninguém o apoiava”.
“E não posso negar que fazíamos pagamentos em volumes consideráveis.”
Ele diz, no entanto, que o apoio não se restringia aos recursos.
“A ‘Carta ao Povo Brasileiro’, datada de 22 de junho de 2002, e feita com o propósito de acalmar o mercado financeiro, é um exemplo exato do tipo de apoio não financeiro que dávamos ao ex-presidente.”
O depoimento por escrito em que Emilio revelou a “contribuição” da empreiteira ao documento foi tornado público por decisão do ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF (Supremo Tribunal Federal).
INVESTIGAÇÃO
O ministro determinou a abertura de inquérito contra oito ministros do governo Michel Temer (PMDB), 24 senadores e 39 deputados federais. Serão abertas 76 investigações pedidas pela Procuradoria-Geral da República após as delações da Odebrecht.
Entre os citados estão os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), e do Senado, Eunício Oliveira (PMDB). Dois dos principais aliados de Temer, Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secreraria-Geral), também estão na lista, que abrange ainda os senadores Romero Jucá e Renan Calheiros, do PMDB, e Aécio Neves (PSDB).
No total a relação tem 98 nomes e inclui três governadores e um ministro do Tribunal de Contas da União. Algumas suspeitas da Procuradoria são corrupção, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, fraude e cartel. Fachin remeteu 201 outros casos a tribunais de instâncias inferiores envolvendo citados sem foro no Supremo -entre os mencionados estão os ex-presidentes Lula, Dilma Rousseff e Fernando Henrique Cardoso.
Os inquéritos iniciam longo trâmite. Investigarão o teor das delações, que precisarão de provas adicionais para tornar-se efetivas. Ainda há as fases de denúncia e do processo, com ampla defesa, antes do julgamento. (Folhapress)
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