16 de agosto de 2024
Alerta • atualizado em 13/12/2022 às 15:28

Câncer de boca tem 70 vezes mais casos entre quem usa álcool e cigarro

De acordo com especialista, cerca de 70% a 80% dos diagnósticos realizados são de casos que apresentam lesões em estágio avançado
Câncer de boca é mais comum em homens com mais de 40 anos. Foto: Reprodução/Banco de Imagens
Câncer de boca é mais comum em homens com mais de 40 anos. Foto: Reprodução/Banco de Imagens

O quinto tipo de câncer mais frequente entre os homens no Brasil, em 2022, com mais de 10 mil casos confirmados no ano, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), pode ser evitado com exames de rotina e uma ida ao dentista. O câncer de boca pode começar com uma simples lesão, facilmente diagnosticada, mas que em 70% a 80% dos casos, só é descoberta em estágio avançado. 

Segundo o Chefe do Departamento de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital do Câncer Araújo Jorge e do Hospital das Clínicas (HC-UFG/Ebserh), e Coordenador do Departamento de Boca e Orofaringe da Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Dr. José Carlos de Oliveira, o câncer de cavidade oral, ou câncer de boca, se caracteriza por uma ferida que não cicatriza. “Passou de dez, quinze dias, e essa ferida não cicatrizou, deve procurar um médico”, ressalta. De acordo com o especialista, o câncer de boca pode acometer toda a cavidade oral, sendo mais comum na língua e no assoalho da boca. 

Fatores de Risco 

Um dos principais fatores de risco para desenvolver o câncer de boca é o hábito de fumar e consumir álcool. O especialista em cirurgia de cabeça e pescoço destaca que a associação de álcool e cigarro aumenta em 70 vezes as chances de ter câncer de cavidade oral. “Quando você faz associação dos dois, você fuma e bebe, essa taxa pode aumentar até 70 vezes mais, comparando com as pessoas que não fazem uso”, explica Dr. José. 

Além disso, entre os fatores que aumentam as chances de ter o câncer de boca estão má higiene bucal, o hábito de mordiscar a boca e lábios, exposição solar, uso habitual de fogão à lenha, infecção por HPV (Papilomavírus Humano) transmitido em relações sexuais desprotegidas, pacientes imunossuprimidos, pacientes transplantados, e próteses dentárias mal adaptadas, que acabam causando lesões recorrentes na boca. “O uso da prótese é indicado para em torno de 6 anos, têm pessoas que usam por 12 anos, 13 anos essas próteses, e aí pode provocar lesões”, acrescenta o médico. 

Esse tipo de câncer também costuma ser mais comum em homens, com mais de 40 anos, mas a incidência na faixa etária entre 30 e 40 anos têm aumentado no país. Entretanto, com a intensificação de hábitos de fumar e beber, os diagnósticos em mulheres também cresceram nos últimos anos. 

Infográfico outubro rosa alerta ilustrado de Luana Cardoso

Sintomas

Os principais sintomas que sinalizam um possível câncer de boca em estágio inicial, que deve ser investigado, é a presença de sangramentos, lesões na gengiva, e feridas prolongadas. Já nos casos de estágio mais avançado, além destes sintomas, há também a presença de gânglios no pescoço, que sinalizam inflamação na boca. 

Dr. José Carlos acrescenta que a presença de nódulos no pescoço também podem ser sinais de que há algo fora da normalidade. “Outra questão que temos que observar também é a presença de nódulos no pescoço. Muitas vezes a pessoa manifesta somente com nódulos no pescoço e, vai ver, a lesão está dentro da boca do paciente”, conta. 

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Identificação e Diagnóstico

A identificação das lesões é simples e podem ser descobertas em consultas de rotina. O papel do odontologista é essencial nessa etapa, não somente na prevenção, mas também no diagnóstico precoce da doença. 

O especialista em Implantodontia e Coordenador do curso de Odontologia do Centro Universitário Universo, Carlos Bandeira, ressalta a importância de fazer consultas periódicas. “É muito importante a identificação das lesões, feita pelas consultas rotineiras ao cirurgião dentista. Hoje, todos nós olhamos a língua, bochecha, o assoalho da boca e, principalmente, perguntamos ao paciente quando existe alguma lesão. Se aquela lesão persiste por mais de 14 dias, nós recomendamos a biópsia para fazer o histopatológico, ou seja, análise microscópica para confirmar ou não se é uma lesão maligna”, pontua. A recomendação é ir ao dentista a cada 6 meses.

Carlos Bandeira é odontologista, especialista em implantodontia. Foto: Reprodução/Acervo pessoal

Bandeira destaca que é preciso ficar de olho nas lesões que aparecem na boca, principalmente as que demoram para cicatrizar. “É importante procurar o médico de cabeça e pescoço todas as vezes que tiver algum nódulo e esse nódulo persistir por mais aí de 30 dias. Quando tiver uma lesão tipo afta, que já tem um tempo maior do que 14 dias e se visualizar qualquer mancha, nódulo, ou caroço, deve procurar um cirurgião dentista ou um médico, para poder fazer o diagnóstico”. 

As anormalidades podem ser identificadas também por outros profissionais da saúde, como médicos da família, que geralmente são mais acessíveis em regiões periféricas, médico otorrinolaringologista, cirurgião de cabeça e pescoço e um cirurgião dentista. O diagnóstico é feito através do exame clínico, radiográfico e histopatológico, ou seja, quando se faz a biópsia e leva para análise microscópica.

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Tratamento

O cirurgião José Carlos explica que a maioria dos casos em tratamento são cirúrgicos, “mas pode fazer quimioterapia, radioterapia e imunoterapia”. Entretanto, segundo ele, o Sistema Único de Saúde (SUS), hoje, “libera muito pouco destes tratamentos, porque são caríssimos”. No Brasil, os tratamentos contra o câncer são de alto custo.

O especialista acrescenta que ainda há ressalvas quanto ao tratamento cirúrgico. “Tem limitações, então, é quando o paciente tem condições de fazer a cirurgia. Muitas vezes, ele pode ser mutilado. Pode ser um paciente que pode ficar com uma traqueostomia definitiva, ficar com uma sonda definitiva, isso pode acontecer”, explica. 

A retirada das partes lesionada pelo tumor pode trazer danos irreversíveis à vida do paciente. “Pode perder a voz e a deglutição, afetando a fala e a alimentação”, detalha o médico. Isso representa não somente perda da qualidade de vida, mas também um isolamento familiar e social, pois o paciente se sente inseguro em conviver com outras pessoas, por conta do constrangimento e das restrições. Nestes casos, que infelizmente, são maioria, há pouco o que se fazer pelo paciente em relação a tratamento, os cuidados se resumem em tentar amenizar a dor e melhorar a qualidade de vida.

Um dado muito preocupante no Brasil é que a maioria dos diagnósticos é feito em lesões já em estado avançado, que necessitam de tratamentos mais agressivos e invasivos. Com destaca o cirurgião de cabeça e pescoço.

 “70% a 80% dessas lesões já são lesões avançadas. Tem que fazer tratamentos, muitas vezes, mutilantes e agressivos. Em muitos que chegam para nós hoje, com tratamento paliativo, você não tem mais o que fazer, só o tratamento sintomático”.

Campanhas de Conscientização

O câncer é a segunda maior causa de mortes no mundo, atualmente. Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), todos os anos, são cerca de 15 mil novos diagnósticos de câncer de boca no país. 

O especialista ressalta a importância das campanhas de conscientização, no aumento de diagnósticos precoces e na prevenção, com a diminuição dos fatores de risco entre a população. “O grande objetivo nosso, hoje em dia, é estabelecer o diagnóstico precoce e a prevenção. A prevenção, muitas vezes, é ter uma equipe que orienta essas pessoas que fumam, que bebem, como devem fazer para tentar reduzir esse hábito, gradativamente. As campanhas são fundamentais”, pontua. 

Dr. José Carlos é Chefe do Departamento de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital das Clínicas (HC-UFG/Ebserh). Foto: HC-UFG/Ebserh

O Julho Verde, campanha dedicada à conscientização dos tumores de cabeça e pescoço no país, tenta levar mais informações à sociedade todos os anos, destacando o mês de julho como o Mês Nacional do Combate ao Câncer de Cabeça e Pescoço. Além das maiores chances contra as complicações da doença, o diagnóstico precoce é garantia de um tratamento mais tranquilo e com menos custos. 

“Se as lesões forem iniciais o tratamento é mais rápido, em torno de 15 dias a 1 mês, e esse paciente está apto a desenvolver suas atividades normais. Paciente com lesões avançadas é tratamento prolongado de 3 meses, 4 meses, ou até mais”, explica o especialista.

Além da demora para a recuperação, com risco de mutilação e invalidez do paciente, o tratamento em casos avançados exige acompanhamento com equipe multidisciplinar. “O paciente precisa estar preparado para essa situação, e depende de uma equipe multidisciplinar, da fisioterapia, da fonoaudiologia, da psicologia, da equipe de enfermagem, toda uma equipe envolta para reabilitar esse paciente”, explica José Carlos. 

O médico ressalta que “não é qualquer centro que consegue oferecer esse tratamento”. De acordo com ele, geralmente, “tem que ser um serviço especializado, de preferência oncológico, então nos Hospitais Oncológicos, nas Universidades e nas Santas Casas”. Em Goiânia, o Hospital de Câncer Araújo Jorge e o Hospital das Clínicas (HC-UFG/Ebserh) são referência nesse tipo de atuação.  


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