07 de agosto de 2024
EXCLUSIVO

Campo Minado analisa tentativa de Rogério Cruz se salvar com marqueteiro experiente

Entrevista com Luis Signates, pesquisador, doutor em Ciências da Comunicação e professor, aponta a dificuldade para Cruz reverter a má avaliação a tempo
Campo Minado dessa terça-feira, 17, analisa a tentativa do prefeito de melhorar sua avaliação correndo contra o tempo - Foto: Reprodução / Diário de Goiás
Campo Minado dessa terça-feira, 17, analisa a tentativa do prefeito de melhorar sua avaliação correndo contra o tempo - Foto: Reprodução / Diário de Goiás

O Campo Minado dessa semana explorou, entre outros temas políticos, a tentativa do prefeito Rogério Cruz (SD), melhorar sua avaliação através de um novo marqueteiro contratado. A análise foi durante entrevista com o pesquisador, doutor em Ciências da Comunicação e professor universitário, Luis Signates, realizada pelo editor-chefe do Diário de Goiás, Altair Tavares.

A estratégia de um novo marqueteiro é o primeiro assunto e segue nessa reportagem, abordando a tentativa do Prefeito de Goiânia, dar uma reviravolta na sua avaliação como gestor, que tem sido ruim.

Como mostrou o DG, o socorro virá de Paulo Moura, um marqueteiro conhecido, e que não é de Goiás. Mas, haverá tempo hábil para isso? Confira!

Altair Tavares – Estamos em um momento interessante da pré-campanha. Temos chapas se formando, pré-candidaturas lançadas, sem que isso signifique que esses nomes vão sobreviver às convenções, no final de julho. Nas últimas horas, o prefeito Rogério Cruz fez um movimento para mudar sua imagem. Contratou Paulo Moura, um marqueteiro que vem de Recife (PE), com experiência em várias campanhas, como no Tocantins, na campanha do governador Vanderlei Barbosa (Republicanos). O prefeito está Investindo pesado na reeleição. Se alguém tinha dúvidas de que ele pretendia realmente disputar, ele deu um sinal claro de que sim.

Luis Signates – No fim, o prefeito caminha no sentido de profissionalizar sua campanha eleitoral. O prefeito de uma capital, com possibilidade de concorrer, é um candidato natural à reeleição. Em momento nenhum eu duvidei que ele lançasse, se colocasse. Um sistema eleitoral como o brasileiro que garante o direito à reeleição, é quase uma obrigação o administrador em vigor colocar seu nome à disposição, até para ter um juízo administrativo e político da população. É muito interessante, e importante, que ele profissionalize a sua candidatura. Isso o coloca de maneira forte no jogo. A profissionalização é uma coisa fundamental, então. Vamos ver como é que ele consegue otimizar a percepção que a população tem sobre o prefeito.

Altair Tavares – No inverso disso, o pré-candidato a prefeito de Goiânia do PSDB (Matheus Ribeiro, jornalista) de forma surpreendente,  disse que não vai contratar marqueteiro. É como se o marqueteiro fosse ele. Sandro Mabel (UB) nem escolheu ainda, começou agora.

Luis Signates  – O PSDB foi um dos introdutores da profissionalização de campanha em Goiás. A primeira campanha que elegeu Marconi Perillo  governador foi uma campanha altamente profissionalizada. A trajetória do PSDB sempre foi de trabalhar com isso. Talvez seja por falta de recurso.

Altair Tavares – Só contrata os grandes profissionais do marketing no mercado quem tem recurso para investir na campanha. Importar marqueteiro não é motivo de crítica porque não é novidade. Criticar é sinal de provincianismo.

Luis Signates – A gente, que é da terra, pensa que é claro sempre bom valorizar os bons profissionais que existem na região. Até para que os recursos valorizem os profissionais da terra. O estado de Goiás tem hoje bons profissionais de marketing e ótimos institutos de pesquisa. Contar com a prata da casa me parece importante. Mas, no caso do prefeito Rogério Cruz, nem ele mesmo pode ser considerado prata da casa. Ele é um político originário de outro estado. A forma como ele se tornou vice na chapa de Maguito Vilela veio de um acordo político. Então trazer um profissional de fora não é um pecado completo não. Muitos políticos trouxeram profissionais de fora e tiveram sucesso, outros não tiveram. Não existe mágica. Agora, a profissionalização da política melhora o relacionamento com o eleitor. Esse é o papel dela e ao menos em princípio, uma equipe de Goiás, com tanta competência quanto uma de fora, já conhece como se dão as relações com o eleitor, as especificidades de uma cidade como Goiânia. Um de fora pode trabalhar com grandes sentidos que são próprios do marketing político, mas ele não tem o conhecimento mais profundo e detalhado da realidade de Goiânia a ponto de instruir seu candidato nesse sentido. Mas não é nada intransponível. Especialmente se ele trabalhar com pesquisa adequada, com informações de boa qualidade, ele resolve, sim, a maioria dos problemas.

Altair Tavares – O grande desafio de Rogério Cruz é fazer com que o eleitor perceba a gestão dele como uma gestão com avaliação positiva e, evidentemente, transportar para ele essa avaliação. O tempo de fazer essa grande obra política é suficiente?

Luis Signates – Isso é questionável. Considero que o político para ter um enfrentamento que o deixe tranquilo, tem que trabalhar uma boa comunicação. O eleitor brasileiro, especialmente após o processo de redemocratização, que aconteceu ao menos a 40 anos, está da segunda para a terceira geração nascida no Brasil dentro da Democracia, sem saber o que é uma ditadura, um golpe. Apesar que nossa Democracia às vezes dá umas estremecidas, como em janeiro do ano passado. Mas nossa população já se acostumou a votar. O Brasil tem eleições a cada dois anos. Essa frequência eleitoral, inevitavelmente, tem um sentido pedagógico importante. O eleitor aprendeu que pode escolher seu representante, ele pode tirar esse representante caso não dê certo. É um eleitor já com cultura construída e cada vez mais consolidada para a decisão eleitoral com racionalidade. Por esta razão é que digo que uma imagem construída a respeito de um mandato, uma gestão, dificilmente pode ser invertida, alterada, dentro de um ano eleitoral. Por que, quanto mais perto chega da eleição, e as pesquisas mostram isso, o eleitor enxerga a melhoria de comunicação de um político como ato eleitoreiro, algo artificialmente construído para conquistar o voto dele. O prefeito é o cargo mais próximo da população. O eleitor de baixa renda, especialmente que depende muito da relação que ele consegue estabelecer com os serviços públicos olha o prefeito, olhando no bolso, na qualidade de vida recente dele, e forma uma imagem que quando entra no ano eleitoral, já é uma imagem consolidada, que demora mais a ser mudada dentro de um mandato.

Altair Tavares – Me lembro de uma entrevista que fizemos com o senhor em que o senhor argumentava que a imagem de um gestor, consolidada em seis meses, percorre o mandato.

Luis Signates  – Sim. Quando nos seis primeiros meses, ou no primeiro ano, o gestor estabelecer uma boa marca da administração, ela tende a se consolidar. Quando é o contrário, ela também se consolida negativa. E a consolidação negativa é mais difícil de reverter, ela dificilmente consegue que o eleitor decepcionado se torne um eleitor favorável a uma administração. A curto prazo é muito difícil efetuar grandes modificações de imagem. Tive alguns casos de políticos com imagens negativas que conseguiram reverter processos eleitorais, mas aí o que a gente conseguiu fazer foi que a imagem negativa, geralmente pessoal, como uma pessoa vista como sovina, que não tem dó dos outros,  e não uma imagem ruim agregada à gestão, conseguimos fazer com que a imagem positiva fosse percebida na administração. Aí a gente conseguiu reverter o processo eleitoral. Mas são casos raros em que a imagem negativa é trabalhada como um ganho. ‘Eu sou muito ruim, muito sovina e vou ser sovina com a administração pública. Vou tratar que a verba pública vá para o povo de verdade. Acabou favoritismo, acabou a corrupção’. Aí o negativo se torna eventualmente positivo.

Altair Tavares – Um sovina reconhecido era o próprio Iris Rezende que dizia ‘eu economizo até no cafezinho, eu vigio a conta, peço relatório todo dia’

­ Luis Signates – Inclusive, o Iris Rezende sempre teve uma imagem relativamente negativa junto ao funcionalismo público. Em que ele compensava com imagem muito positiva de gestor e realizador junto ao eleitorado. Aí ele conseguia fazer essa reversão das expectativas dentro do eleitorado dele. No caso de uma imagem exatamente negativa do administrador como gestor, dificilmente a gente consegue essa mesma margem de fazer com que o eleitor que já julgou como mal um gestor, na cabeça dele, passe a dar privilégio a esse gestor frente a outras candidaturas já posicionadas. E esse é o caso específico, infelizmente, do atual prefeito Rogério Cruz, que tem uma imagem bastante desgastada por conta de problemas que ele enfrentou dentro da administração. Esse profissional que ele contratou, e que parece ser um bom profissional, não vai enfrentar um mar tranquilo. Não vai ser um caminho fácil esse de transformar em voto, de modificar a imagem do Rogério Cruz em tão pouco tempo a ponto de superar outras candidaturas que estejam melhor posicionadas que a dele.

Altair Tavares – Algumas pessoas usaram um trocadilho infame, de que ele tem uma grande ‘cruz’ para carregar

Luis Signates – Eu chamo isso de um grande desafio. Eu acho que se esse profissional conseguir colocar Rogério Cruz no segundo turno terá sido uma obra fenomenal. Acho difícil até isso acontecer. A não ser que ele consiga informações de altíssima qualidade que permita que ele faça um trabalho impecável, que atinja o coração do eleitor. As pesquisas que tenho feito mostram que o eleitor está profundamente insatisfeito. Essa é a realidade de Goiânia, constatável em todas as regiões da cidade. Mas a gente sabe que em política a gente só tem condições de dizer depois que abre a urna.

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