21 de novembro de 2024
Justiça • atualizado em 05/11/2024 às 19:49

Câmara aprova pedido de urgência para votação do PL que antecipa prisão por crimes hediondos

O PL prevê a prisão em audiências de custódia para acusados de crimes hediondos, roubo, associação criminosa qualificada e reincidência criminal
Se aprovado na Câmara, o projeto seguirá para votação no Senado. Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados
Se aprovado na Câmara, o projeto seguirá para votação no Senado. Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

O pedido de urgência para acelerar a votação do Projeto de Lei 714/2023 foi aprovado na Câmara dos Deputados na última segunda-feira (4). O PL determina a prisão preventiva durante a audiência de custódia nos casos de crimes hediondos. Se aprovado na Câmara dos Deputados, o projeto seguirá para votação no Senado Federal.

O advogado criminalista Renato Alexandre, especialista em execuções penais, vê a proposta como um possível retrocesso ao sistema acusatório brasileiro. A medida prevê a prisão em audiências de custódia para acusados de crimes hediondos, roubo, associação criminosa qualificada e reincidência criminal.

O sistema acusatório, implementado pelo Código de Processo Penal, baseia-se no princípio de que todo indivíduo tem o direito de ser ouvido em igualdade de condições e de ter defesa plena antes de qualquer decisão sobre sua liberdade. O objetivo é assegurar que a prisão preventiva seja utilizada somente após rigorosa análise do caso pelo magistrado.

Se aprovada, a lei pode antecipar prisões, comprometendo o direito de defesa dos acusados. “A prisão preventiva obrigatória em audiência de custódia é uma grave afronta ao direito ao contraditório”, afirma o advogado. Segundo o especialista, o projeto desrespeita os princípios fundamentais da Constituição Federal e ignora o direito ao contraditório e à ampla defesa.

“O princípio fundamental do contraditório é que o acusado tenha o direito de ser ouvido e que cada decisão judicial, especialmente sobre liberdade, seja individualizada e fundamentada nos detalhes e especificidades daquele caso concreto. A prisão não pode ser a regra, ela deve ser a última opção”, completa.

Além disso, o criminalista detalha que a o PL 714/2023 propõe uma decretação quase automática da prisão preventiva, esvaziando o papel do juiz como garantidor dos direitos do indivíduo e eliminando a análise criteriosa de cada caso. “O juiz de custódia tem a função de avaliar a legalidade da prisão, ouvir argumentos das partes e garantir que os direitos do acusado sejam respeitados. O projeto de lei 714/2023 subverte esse papel, transformando a audiência em um ato protocolar, desprovido de análise e de sensibilidade jurídica”, explica Renato Alexandre.

Por fim, Renato explica que manter um indivíduo preso preventivamente sem uma análise adequada dos fatos pode acarretar graves consequências para o acusado. “Esse projeto ignora que a privação de liberdade deveria ser um último recurso e não um instrumento de punição antecipada. Também desconsidera os impactos psicológicos e sociais da prisão prolongada, especialmente para acusados ainda não condenados, que perdem emprego, vínculos familiares e enfrentam estigmatização social que poderá marcar para sempre suas vidas”, conclui Renato Alexandre.


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