As altas temperaturas seguem sendo pauta nacional desde setembro e, com a oitava onda de calor chegando ao fim, a meteorologista do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) da Unicamp, Ana Ávila, disse que o El Niño ainda atingirá seu pico deste ano em dezembro. O fenômeno sazonal é, em grande parte, responsável por promover um aquecimento atípico das águas do Oceano Pacífico equatorial e que traz calor a países da América do Sul.
“A temperatura das águas vai ficar cerca de 2,5°C acima do esperado. E os modelos indicam que até junho do ano que vem a gente deve ter o El Niño em curso”, disse Ana. O El Niño favorece a ocorrência de ondas de calor porque as frentes frias ficam bloqueadas no sul do país e não conseguem avançar, explicou a meteorologista. “Outra questão é que o aquecimento das águas no Oceano Pacífico ajuda a aquecer a atmosfera em termos globais.”
Uma onda de calor, segundo definição do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), ocorre quando há temperaturas de pelo menos 5ºC acima da média da região para o período, durando no mínimo três dias consecutivos.
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Ainda segundo as previsões do Cepagri, a onda de calor na Região Metropolitana de Campinas (RMC) deve continuar até sábado (18). A partir de domingo (19), a expectativa é que as temperaturas comecem a cair.
Por conta da onda de calor observada nos últimos dias, o Ministério da Saúde disponibilizou uma página especial com recomendações e informou que correm risco todas as pessoas, mas especialmente idosos, crianças, diabéticos, gestantes, a população em situação de rua e aqueles com problemas renais, cardíacos, respiratórios ou de circulação.
Entre negacionismos e visões apocalípticas, o fenômeno tem gerado ampla repercussão midiática e debates nas redes sociais sobre a relação dele com as mudanças climáticas. Afinal, do ponto de vista científico, é possível estabelecer com razoabilidade esse vínculo?
O meteorologista Bruno Bainy, do Cepagri, explica haver um ramo das ciências atmosféricas que busca responder justamente a relação das ondas de calor e as mudanças climáticas. É a chamada ciência da atribuição climática, que estuda o impacto da atividade humana na probabilidade de ocorrência de fenômenos específicos. Os pesquisadores utilizam recursos de simulação computacional para investigar se determinados eventos ocorreriam ou não – e, se ocorreriam, com que magnitude – sem a influência antropogênica no clima.
“Os estudos costumam apontar que as ondas de calor podem ter uma relação bastante íntima com as mudanças climáticas. Em geral, as pesquisas mais conclusivas quanto a essas atribuições são relativas às ondas de calor. Então, é uma das principais hipóteses que a gente tem para explicar esse calor extremo. Mas claro que temos outros fatores em jogo, como o El Niño”, esclarece Bainy.
O meteorologista explica ainda que o momento atual coincide com uma fase da chamada oscilação de Madden-Julian. “É um mecanismo de variabilidade climática que dura algumas semanas. E há ciclos. Algumas fases tendem a deixar a parte leste do país mais seca, como é o caso agora. E outras fases tendem a promover chuvas mais volumosas, como é o esperado a partir do final de semana.”
Com informações da Unicamp
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