Tiveram início nesta quarta-feira (23), com empresários dos setores de fármacos, de saúde e do agronegócio as reuniões entre líderes de setores econômicos goianos, o governador Ronaldo Caiado (UB) e equipe, sobre estratégias para mitigar os impactos do tarifaço de 50% anunciado pelos Estados Unidos (EUA) sobre produtos do Brasil a partir de 1º de agosto.
As reuniões foram fortalecidas com a instalação de um comitê de governo com seis secretarias para garantir um contato diário e permanente com os afetados. Além disso, na terça-feira (23) houve o lançamento de linhas de crédito em apoio ao empresariado, como mostrou o Diário de Goiás.
Governador e auxiliares do primeiro escalão iniciaram o ciclo de diálogo pelo setor de Fármacos e Saúde. Na sequência, ouviram produtores de Carne, Derivados e Pescados.
Durante a tarde desta quarta Caiado fará mais dois encontros temáticos: empresas do setor mineral, produtores de Soja e de Cítricos. Na quinta-feira (24), ele encerra a rodada de reuniões encontrando empresas dos setores Sucroenergético e de Curtumes.
Caiado quer entender os temores e as demandas específicas de cada área e alinhar a atuação das secretarias de governo para auxiliar o empresariado.
Preocupação com reciprocidade
Caiado afirmou que a preocupação comum aos setores é a adoção, por parte do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, da reciprocidade tarifária, o que causaria a escalada de uma grave crise econômica e social. O governador tem dito que o Brasil sofre consequências de uma polarização política: “Precisamos trabalhar para que essa taxa não venha impor ao Estado de Goiás uma penalização que não tem nada a ver. O que nós vamos sofrer, em decorrência de uma briga ideológica que está acontecendo neste momento?”, tem questionado o governador goiano.
Ao mesmo tempo em cita que o Brasil e os EUA são aliados da livre iniciativa, da economia de mercado e da liberdade de expressão, o governador diz que, “se a posição do presidente da República é provocativa aos americanos, não é por isso que Goiás ou outros estados tenham que ser penalizados”. Caiado atacou o presidente: “Essa posição é do Lula, e não nossa [dos governadores]. Nós queremos acordo, diálogo. Queremos deixar os empresários trabalharem e garantir o emprego dos trabalhadores”.
Fármacos e saúde falam em desastre se houver reciprocidade ao tarifaço dos EUA pelo Brasil
Conforme divulgou o governo, na primeira reunião desta quarta, lideranças do setor de fármacos e da saúde apontaram as consequências desastrosas de uma eventual reciprocidade tarifária. Isso porque grande parte de equipamentos ou insumos têm origem, ou controle americanos.
O governador, inclusive, pediu um “gesto humanitário” por parte do governo americano para excluir a saúde do tarifaço prometido pelos EUA contra o Brasil. “É o sentimento de todos que vieram à reunião, já que coloca em risco a vida de pessoas”, apelou Caiado.
O secretário da Saúde, Rasivel dos Reis, fez eco: “Em torno de 30% dos custos relativos aos hospitais estão relacionados a insumos, materiais e medicamentos. A estimativa é que, se houver retaliação, aumente na ordem de 2 a 3% o custo total dos hospitais. Pode ser a diferença entre a sustentabilidade do hospital, ou não”.
O secretário aponta que um cenário desses representa risco do fechamento de unidades de saúde, o que pode sobrecarregar o sistema.
Ainda conforme divulgado pelo governo, o CEO da Halex Istar, Thiago Salinas, deu o exemplo de como a crise pode afetar o setor, citando o soro fisiológico, que é um dos insumos mais utilizados na saúde. “O principal custo está na embalagem, e ela é vinda diretamente dos Estados Unidos”, alertou. O empresário ainda comentou sobre os entraves regulatórios: a troca de fornecedor de embalagens poderia levar anos até ser autorizada.
Já o presidente da Associação dos Hospitais Privados de Alta Complexidade do Estado de Goiás (Ahpaceg), Renato Daher, indicou o risco de “desabastecimento de alguns produtos estratégicos, como equipamento de imagem e OPME [Órteses, Próteses e Materiais Especiais]”.
Carne, Derivados e Pescados
No encontro com representantes do agronegócio, Caiado enfatizou os anúncios de terça. “Estamos nos preparando antecipadamente, tomando medidas ao invés de começar a discutir só a partir de 2 de agosto. Somos o único Estado que está preparando um plano”. Ele se referia às linhas de crédito apresentadas.
Na terça, Caiado lançou três medidas:
- Fundo Creditório, que apoiará os segmentos da economia goiana que mais exportam para os Estados Unidos;
- Uso do Fundo de Equalização para o Empreendedor (Fundeq), que fornece recursos financeiros para subsidiar o pagamento de encargos em operações de crédito;
- Fundo de Estabilização Econômica do Estado de Goiás, uma reserva financeira que pode ser utilizada em momentos de crise econômica para garantir a continuidade de serviços essenciais.
O encontro reuniu lideranças da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg), da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), além de empresários do segmento e representantes sindicais.
Conselho de Governo
Há alguns dias o Governo de Goiás também criou um comitê para garantir um contato diário e permanente com os empresários para que, junto à gestão estadual, busquem soluções e definam ações a serem tomadas para minimizar o impacto das tarifas impostas.
Titular da Secretaria-Geral de Governo, Adriano da Rocha Lima, explicou que o comitê é um conselho de governo formado por seis secretarias que vão avaliar as autorizações de suplementação orçamentária e definir quais são as áreas estratégicas que devem receber esse recurso de financiamento através das linhas de crédito anunciadas, “sempre de forma a manter o desenvolvimento do Estado, preservando empregos e evitando os impactos dessas tarifas norte-americanas”, explicou.
A Secretaria da Economia será responsável por validar os créditos acumulados de ICMS e autorizar a transferência dos valores entre os contribuintes, garantindo a regularidade fiscal da operação. A expectativa é que a liberação desses recursos comece a partir de 6 de agosto.
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