05 de dezembro de 2025
MEDIDAS PREVENTIVAS

Caiado inicia diálogo com empresários para conter impactos do tarifaço dos EUA em Goiás

Governador reúne setores estratégicos, articula comitê de governo, explica crédito emergencial para minimizar prejuízos com tarifas americanas e ouve temores do empresariado
Caiado se reúne com setores afetados pelo tarifaço - Foto: Wesley Costa e André Saddi
Caiado se reúne com setores afetados pelo tarifaço - Foto: Wesley Costa e André Saddi

Tiveram início nesta quarta-feira (23), com empresários dos setores de fármacos, de saúde e do agronegócio as reuniões entre líderes de setores econômicos goianos, o governador Ronaldo Caiado (UB) e equipe, sobre estratégias para mitigar os impactos do tarifaço de 50% anunciado pelos Estados Unidos (EUA) sobre produtos do Brasil a partir de 1º de agosto.

As reuniões foram fortalecidas com a instalação de um comitê de governo com seis secretarias para garantir um contato diário e permanente com os afetados. Além disso, na terça-feira (23) houve o lançamento de linhas de crédito em apoio ao empresariado, como mostrou o Diário de Goiás.

Governador e auxiliares do primeiro escalão iniciaram o ciclo de diálogo pelo setor de Fármacos e Saúde. Na sequência, ouviram produtores de Carne, Derivados e Pescados.

Durante a tarde desta quarta Caiado fará mais dois encontros temáticos: empresas do setor mineral, produtores de Soja e de Cítricos. Na quinta-feira (24), ele encerra a rodada de reuniões encontrando empresas dos setores Sucroenergético e de Curtumes.

Caiado quer entender os temores e as demandas específicas de cada área e alinhar a atuação das secretarias de governo para auxiliar o empresariado.

Preocupação com reciprocidade

Caiado afirmou que a preocupação comum aos setores é a adoção, por parte do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, da reciprocidade tarifária, o que causaria a escalada de uma grave crise econômica e social. O governador tem dito que o Brasil sofre consequências de uma polarização política: “Precisamos trabalhar para que essa taxa não venha impor ao Estado de Goiás uma penalização que não tem nada a ver. O que nós vamos sofrer, em decorrência de uma briga ideológica que está acontecendo neste momento?”, tem questionado o governador goiano.

Ao mesmo tempo em cita que o Brasil e os EUA são aliados da livre iniciativa, da economia de mercado e da liberdade de expressão, o governador diz que, “se a posição do presidente da República é provocativa aos americanos, não é por isso que Goiás ou outros estados tenham que ser penalizados”. Caiado atacou o presidente: “Essa posição é do Lula, e não nossa [dos governadores]. Nós queremos acordo, diálogo. Queremos deixar os empresários trabalharem e garantir o emprego dos trabalhadores”.

Fármacos e saúde falam em desastre se houver reciprocidade ao tarifaço dos EUA pelo Brasil

Conforme divulgou o governo, na primeira reunião desta quarta, lideranças do setor de fármacos e da saúde apontaram as consequências desastrosas de uma eventual reciprocidade tarifária. Isso porque grande parte de equipamentos ou insumos têm origem, ou controle americanos.

O governador, inclusive, pediu um “gesto humanitário” por parte do governo americano para excluir a saúde do tarifaço prometido pelos EUA contra o Brasil. “É o sentimento de todos que vieram à reunião, já que coloca em risco a vida de pessoas”, apelou Caiado.

O secretário da Saúde, Rasivel dos Reis, fez eco: “Em torno de 30% dos custos relativos aos hospitais estão relacionados a insumos, materiais e medicamentos. A estimativa é que, se houver retaliação, aumente na ordem de 2 a 3% o custo total dos hospitais. Pode ser a diferença entre a sustentabilidade do hospital, ou não”.

O secretário aponta que um cenário desses representa risco do fechamento de unidades de saúde, o que pode sobrecarregar o sistema.

Ainda conforme divulgado pelo governo, o CEO da Halex Istar, Thiago Salinas, deu o exemplo de como a crise pode afetar o setor, citando o soro fisiológico, que é um dos insumos mais utilizados na saúde. “O principal custo está na embalagem, e ela é vinda diretamente dos Estados Unidos”, alertou. O empresário ainda comentou sobre os entraves regulatórios: a troca de fornecedor de embalagens poderia levar anos até ser autorizada.

Já o presidente da Associação dos Hospitais Privados de Alta Complexidade do Estado de Goiás (Ahpaceg), Renato Daher, indicou o risco de “desabastecimento de alguns produtos estratégicos, como equipamento de imagem e OPME [Órteses, Próteses e Materiais Especiais]”.

Carne, Derivados e Pescados

No encontro com representantes do agronegócio, Caiado enfatizou os anúncios de terça. “Estamos nos preparando antecipadamente, tomando medidas ao invés de começar a discutir só a partir de 2 de agosto. Somos o único Estado que está preparando um plano”. Ele se referia às linhas de crédito apresentadas.

Na terça, Caiado lançou três medidas:

  • Fundo Creditório, que apoiará os segmentos da economia goiana que mais exportam para os Estados Unidos;
  • Uso do Fundo de Equalização para o Empreendedor (Fundeq), que fornece recursos financeiros para subsidiar o pagamento de encargos em operações de crédito;
  • Fundo de Estabilização Econômica do Estado de Goiás, uma reserva financeira que pode ser utilizada em momentos de crise econômica para garantir a continuidade de serviços essenciais.

O encontro reuniu lideranças da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg), da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), além de empresários do segmento e representantes sindicais.

Conselho de Governo

Há alguns dias o Governo de Goiás também criou um comitê para garantir um contato diário e permanente com os empresários para que, junto à gestão estadual, busquem soluções e definam ações a serem tomadas para minimizar o impacto das tarifas impostas.  

Titular da Secretaria-Geral de Governo, Adriano da Rocha Lima, explicou que o comitê é um conselho de governo formado por seis secretarias que vão avaliar as autorizações de suplementação orçamentária e definir quais são as áreas estratégicas que devem receber esse recurso de financiamento através das linhas de crédito anunciadas, “sempre de forma a manter o desenvolvimento do Estado, preservando empregos e evitando os impactos dessas tarifas norte-americanas”, explicou.

A Secretaria da Economia será responsável por validar os créditos acumulados de ICMS e autorizar a transferência dos valores entre os contribuintes, garantindo a regularidade fiscal da operação. A expectativa é que a liberação desses recursos comece a partir de 6 de agosto.


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