19 de novembro de 2024
'Ato contra pacote da destruição'

Caetano Veloso diz que governo despreza natureza e que projetos ambientais ‘são aberrantes’

O cantor espera uma reação do Senado sobre a série de projetos de lei que tem flexibilizado a gestão ambiental do País
O cantor espera uma reação do Senado sobre a série de projetos de lei que tem flexibilizado a gestão ambiental do País
O cantor espera uma reação do Senado sobre a série de projetos de lei que tem flexibilizado a gestão ambiental do País

Caetano Veloso vai botar o trio elétrico na rua, mais precisamente em frente ao Congresso Nacional, em defesa do meio ambiente. Um dos líderes do “Ato pela Terra contra o pacote da destruição”, mobilização artística e social que ocorrerá nesta quarta-feira, 9, em Brasília, o cantor e compositor disse, em entrevista ao Estadão, que espera uma reação do Senado sobre a série de projetos de lei que tem flexibilizado a gestão ambiental do País, com aval do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). As medidas são defendidas pelo governo do presidente Jair Bolsonaro, que pressiona a votação e fala em “prosperidade”

Caetano diz que “é notória a tendência do atual governo para o desprezo pela natureza” e que “todo desejo de salvar o meio ambiente está sendo reprimido e negado”. Um documento com demandas será entregue ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). “Os projetos de lei que estão em pauta são aberrantes”, afirma Caetano, ao criticar a atuação do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). “Esperamos que a luz lançada no Senado possa levar a resultados práticos. O presidente da Câmara tem dado mostras de fazer passar toda a desastrosa permissividade que o atual governo propõe.”

Sobre a abertura de terras indígenas para exploração comercial, diz que “a ideia de liberar garimpo e mineração em terras indígenas é uma agressão à história do movimento indígena brasileiro”.

Além de Caetano Veloso, o ato contará com a participação de músicos e artistas como Nando Reis, Seu Jorge, Natiruts, Bela Gil, Criolo, Maria Gadú e Bruno Gagliasso. O evento pretende ser um grande manifesto contra as propostas que têm sido votadas a passos largos pelo plenário da Câmara, muitas vezes sem passar por debates e ajustes nas comissões parlamentares.

Leia abaixo a entrevista:

O presidente da Câmara, Arthur Lira, tem atuado para acelerar a votação de projetos polêmicos, como o que flexibiliza a entrada de mais agrotóxicos e que fragiliza o licenciamento ambiental. São temas que estão no Senado. Como avalia a atuação de Lira e Rodrigo Pacheco sobre o assunto? Tem havido espaço para diálogo?

Muitos artistas, comunicadores e representantes de movimentos sociais vão à Brasília ampliar a voz da sociedade civil. Esperamos que a luz lançada no Senado possa levar a resultados práticos. O presidente da Câmara tem dado mostras de fazer passar toda a desastrosa permissividade que o atual governo propõe. O mundo vendo as proximidades de pesadelos bélicos e o Legislativo brasileiro apressando projetos que desrespeitam todo o cuidado que devemos ao tema ambiental. Esperamos que Pacheco seja mais sensato, educado e capaz de entender onde mora nossa dignidade como nação.

O que podemos esperar do Ato pela Terra? Como a classe artística, ao lado das ONGS socioambientais, pode pressionar para que a postura do Congresso Nacional mude em relação à questão ambiental?

Que abra os olhos e o coração de muitos brasileiros para a grandeza do papel que nosso País pode – e, portanto, deve – desempenhar na criação de um futuro mais elevado para a espécie humana. Queremos tocar inclusive a sensibilidade de legisladores de várias cores ideológicas. Que eles se vejam numa história maior do que aquela em que acreditam estar.

Os povos indígenas são alvos centrais nos planos do governo Bolsonaro, que pretende abrir suas terras para todo tipo de empreendimento. Como você avalia esse avanço sobre os direitos indígenas?

A ideia de liberar garimpo e mineração em terras indígenas é uma agressão à história do movimento indígena brasileiro. Vem no combo de desrespeitar as reservas florestais e de associar-se ao lado menos sábio do agronegócio. Este, economicamente fundamental para o Brasil atual, deve saber crescer preservando, em trabalho conjunto com as entidades que estudam a questão, não num reduzir tudo ao critério do lucro imediato. A sociedade civil brasileira não pode representar a sanha do colonizador europeu.

O governo Bolsonaro tem protagonizado os maiores índices de queimadas e desmatamento. Como o governo acabou por chancelar essa realidade?

Não sou técnico, mas é notória a tendência do atual governo para o desprezo pela natureza. Os projetos de lei que estão em pauta são aberrantes.

Sob o argumento de que é preciso modernizar a legislação ambiental, esses projetos tratam de flexibilizar licenciamentos, fragilizar a fiscalização e avançar sobre terras indígenas. Há uma captura da proteção ambiental pela bancada ruralista?

Todos os organismos de proteção ambiental estão sob ofensiva por parte do Poder Executivo e por grande parte do Legislativo, na verdade. Todo desejo de salvar o meio ambiente está sendo reprimido e negado.

Você vê, no Brasil de hoje, uma consciência sobre a preservação ambiental mais consolidada e presente do que nas últimas décadas?

A consciência do problema ambiental só tem crescido nas últimas décadas. O Brasil oficial hoje se põe na contramão desse progresso. Mas o Brasil Brasil não pode se resumir ao Brasil oficial de um governo. Tem de espelhar seu povo, sua história, seu Estado.

Há uma cultura mais “permissiva” com a questão da preservação ambiental, um viés mais voltado à exploração dos recursos naturais a qualquer custo, e menos voltado à forma com que essa exploração deve ser feita?

É a cultura de quem manda no momento. Não devemos nos submeter a ela. Os grupos políticos responsáveis, os movimentos sociais, a sociedade civil devem externar sua rejeição ao que for claramente destrutivo. (Por André Borges/Estadão Conteúdo)


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