23 de novembro de 2024
Mundo

Brasileiro morto por tubarão era campeão de bodyboard e sonhava com Havaí

Arthur Medici morreu com 26 anos. (Foto: Reprodução/Instagram)
Arthur Medici morreu com 26 anos. (Foto: Reprodução/Instagram)

Como morava na frente da praia, o capixaba Arthur Medici aprendeu a pegar onda aos dez anos. Na adolescência, participou de competições de bodyboard e quando decidiu ir morar nos Estados Unidos, levou com ele sua prancha profissional. “Ele era destemido e entrava no mar mesmo quando a maré estava mais forte”, lembra Márcio Araújo Passos, padrasto do estudante de engenharia. “O mar era a vida dele.”

Arthur morreu na tarde do último sábado (15) ao ser atacado por um tubarão na praia de Newcomb Hollow em Cape Cod, Massachusetts, nos Estados Unidos. Foi a primeira morte por tubarão nessa região desde 1936. Aos 26 anos, Arthur deixa uma família desolada com a triste ironia de ter perdido a vida fazendo aquilo que mais gostava: pegar onda.

Há quatro anos, o capixaba se mudou para os Estados Unidos para estudar. Conseguiu variados trabalhos para pagar a faculdade. Morava em Rovere, uma pequena cidade de pouco mais de 50 mil habitantes, e namorava uma brasileira, estudante de medicina. Aos fins de semanas, ia à praia para surfar.

Na última sexta-feira convidou Isaac Rocha, irmão de sua namorada, para um passeio na praia de Newcomb Hollow, um lugar que ele conhecia bem por já ter frequentado diversas vezes. Arthur queria iniciar seu cunhado adolescente em seu esporte preferido. Os dois caíram na água na sexta antes do sol se pôr e voltaram ao mar na manhã seguinte.

“Nós estávamos surfando e eu o vi descendo, e de repente subindo de novo”, disse Isaac à TV WCVB, afiliada da ABC em Boston, sobre o momento do ataque. “Vi um monte de sangue e ele estava gritando. Segurei ele e ele não estava falando mais. Tirei ele da água, peguei a corda da prancha e tentei amarrar a corda em volta da perna para estancar o sangramento.”

Banhistas e outros surfistas prestaram os primeiros socorros e fizeram massagem cardíaca, mas Arthur foi declarado morto no hospital de Cape Cod. A praia foi interditada. Ao pôr do sol, surfistas, moradores e turistas fizeram uma homenagem ao brasileiro.

“Ele era apaixonado”, disse um amigo de Arthur em contato com a reportagem. “Trabalhamos juntos por uns dois anos. Era um cara bem fácil de se fazer amizade. Era despojado, brincalhão, e amava surfar.”

O amigo também lembrou de uma conversa recente com Arthur: “Um dia ele me disse que tinha um primo ou amigo que mora no Havaí e o chamou pra mudar pra lá. Ele disse que o sonho dele era surfar no Havaí.”

Segundo a família, Arthur tinha organizado a viagem para o arquipélago preferido dos surfistas, mas problemas meteorológicos adiaram seus planos.

“O bodyboard era o esporte que ele mais amava”, disse o padrasto Márcio. “Ele foi campeão municipal, estadual e participou de Brasileiro. Tinha o perfil de um atleta. Não fumava, não bebia, era um menino espetacular.”

Arthur tinha um irmão mais velho, que trabalha como engenheiro de petróleo. Sua mãe havia passado férias de um mês com o filho mais novo em Massachusetts, ocasião em que conheceu a família de sua namorada. Durante o fim de semana, a família organizou uma vaquinha online para financiar o traslado do corpo até Vila Velha. Em oito horas, a campanha arrecadou U$ 16,5 mil (R$ 69 mil). O corpo de Arthur deve deixar Boston nesta segunda.

Léo Costa, tricampeão brasileiro de bodyboard (uma variação do surfe em que o atleta se deita de bruços na prancha), era o dono da escolinha em que Arthur aprendeu o esporte. Ele soube da morte de seu antigo aluno no postinho onde o adolescente costumava se reunir com os amigos antes de cair no mar, no Pico da Pompeia, praia em Vila Velha preferida dos bodyboarders.

O professor está organizando um campeonato local da modalidade e fará uma homenagem ao atleta amador que morreu no mar de Massachusetts. “Espero que ajude a dar um carinho para a família do Arthur nesse momento difícil”, disse Leo. “Será bonito uma homenagem na mesma praia em que ele aprendeu a pegar onda.” (Folhapress)

Leia mais:


Leia mais sobre: / Mundo