“Sand Castle” (“Castelo de Areia”) é um filme de guerra ambientado durante a controversa segunda invasão dos Estados Unidos ao Iraque, em 2003.
Um prato cheio para um cineasta americano. Mas quem está à frente do projeto é o diretor paulista Fernando Coimbra (“O Lobo Atrás da Porta”), que assim se torna o primeiro cineasta brasileiro no comando de um longa-metragem original de lançamento global da Netflix.
“Eu estava na ilha de montagem quando a Netflix entrou no projeto. Então foram dois sentimentos, porque eu filmei pensando na tela do cinema. Ao mesmo tempo, a projeção mundial para 85 milhões de assinantes que esse veículo produz é incomparável”, diz Coimbra à Folha de S.Paulo, único veículo brasileiro com acesso prévio ao longa-metragem rodado na Jordânia, em 2015.
“Apesar de ser o país mais liberal do Oriente Médio, a guerra estava perto de nós, do outro lado da fronteira. Muitos jatos que bombardearam a Síria partiram dali. Eu estava fazendo um filme de guerra com a guerra ao meu lado. Foi tenso.”
Mas os quatro meses na Jordânia -incluindo ensaios, pré-produção e as seis semanas de filmagens- não geraram nenhum problema sério. A não ser a mudança drástica para o diretor brasileiro, que viajou com a mulher e os dois filhos pequenos.
“No primeiro dia útil, ela falou: ‘Vamos embora'”, brinca o cineasta. “É uma adaptação difícil, porque meus filhos precisaram ir para uma escola em árabe e inglês, mas nem inglês eles falavam. Até pegar táxi era difícil. Eu sofri menos, porque trabalhava com uma equipe britânica. Mas depois a família se acostumou, encontramos similaridades entre os países, principalmente na comida.”
O filme, coincidentemente, é sobre pontos em comum entre culturas. Nicholas Hoult (o Fera dos filmes recentes da franquia “X-Men”) é um soldado americano que se alistou para poder pagar a faculdade e só deseja cair fora da Guerra no Iraque.
Mas, ao lado do seu batalhão, acaba cultivando um senso de moralidade e compaixão ao tentar cumprir a missão de consertar uma estação de distribuição d’água que beneficiará a população de uma vila -parte da mesma que tenta sabotar a reconstrução.
O roteiro foi escrito por Chris Roessner. Ele se inspirou na própria experiência durante a Guerra do Iraque para criar essa história original que ainda tem atores famosos como Henry Cavill (“O Homem de Aço”) e Logan Marshall-Green (“Prometheus”).
“Me interessei por esse olhar atípico da guerra, a perspectiva de um soldado raso que não tinha ideia porque estava ali. Toda história tem dois lados e havia um certo distanciamento por ser uma equipe internacional”, explica o brasileiro, que saiu de “O Lobo Atrás da Porta” para fazer alguns episódios da primeira temporada de “Narcos”, também da Netflix.
“Sem ‘Narcos’, minha transição para um filme americano de guerra seria muito mais difícil”, afirma Coimbra. “A série me deu maturidade e segurança para chegar confiante ao set. Apesar de ‘Sand Castle’ parecer grande, ele é um filme pequeno. Não tinha estrutura maior que a de ‘Narcos’, que é enorme, um monstro em termos de produção.”
Apesar de vários diretores brasileiros terem passado por experiências ruins em suas estreias hollywoodianas, Coimbra diz que a sua passagem foi “bastante positiva”.
“Você é contratado para injetar sua visão estética”, revela o diretor, que já emplacou trabalhos para a segunda temporada de “Outcast”, série do mesmo criador de “The Walking Dead”, e retorna ao Brasil para o suspense “Os Enforcados”. “Foi um aprendizado chegar até o fim e manter sua visão, aprender a vender minhas ideias constantemente. Tive muita liberdade e nenhuma imposição por parte dos produtores ou da Netflix.”
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