Com tom de tristeza na voz, a aposentada Maria Luiza Silva Carvalho da Costa, 59, mãe de Ivanice Carvalho da Costa, morta a tiros por engano pela polícia em Portugal, diz só querer que lhe entreguem de volta a filha, para poder ser sepultada em Amaporã, cidade de pouco mais de 6.000 habitantes no noroeste do Paraná.
“Quero trazer o corpo dela para o Brasil”, disse. Para a aposentada, é difícil acreditar no que aconteceu. “A gente tem medo de a filha ser morta por um bandido, mas nunca espera que será atingida inocentemente pela polícia.”
Ivanice foi morar em Portugal há 17 anos. Filha de trabalhadores rurais e com o ensino médio completo, a moça não via grandes oportunidades em Amaporã.
“Eles foram em cinco pessoas aqui da cidade. Junto dela viajaram uma tia, um primo e dois amigos. Minha filha logo arrumou emprego em novembro de 2000, em um estabelecimento comercial dentro do aeroporto de Lisboa. E lá estava trabalhando até acontecer esta tragédia”, disse a mãe.
Morta por engano pela polícia de Lisboa enquanto se dirigia para o trabalho, Ivanice fazia o mesmo trajeto praticamente todos os dias.
Há 17 anos no país, ela trabalhava havia mais de uma década no aeroporto da capital portuguesa, conta sua tia, Célia Nunes, que também vive em Portugal.
As duas chegaram juntas ao país, mas acabaram se distanciando nos últimos cinco anos, por conta do relacionamento de Ivanice com o namorado, que dirigia o carro no momento em que ela foi atingida.
O relacionamento era descrito como difícil também por colegas de trabalho de Nissinha, como a paranaense era conhecida.
Em seu perfil nas redes sociais, por exemplo, ela se apresentava como solteira.
A paixão pelos animais, sobretudo pelos cachorros, também era uma de suas marcas registradas.
“O corpo deve ser liberado amanhã [sexta-feira, 17], mas ainda não sabemos o que vamos fazer. Se o corpo vai ficar aqui ou vai para o Brasil. Sabemos que é um processo muito caro para levá-lo de volta ao Brasil, e a família provavelmente não tem condições. Ainda nem sabemos quanto iria custar”, conta.
O CASO
Ivanice morreu por volta das 3h30 de quarta (15), em um bairro próximo ao aeroporto de Lisboa. Seu carro foi atingido por mais de 20 disparos.
A polícia confundiu o veículo em que ela e o companheiro estavam, um Renault Megane preto, com um outro veículo que havia acabado de participar de um assalto a um caixa-eletrônico, em uma cidade da região metropolitana de Lisboa.
Por conta do crime, havia um grande efetivo policial destacado para tentar enfrentar os bandidos.
O veículo em que os assaltantes estavam, um Seat Leon preto, havia escapado de uma perseguição policial minutos antes, em uma região próxima ao local onde a brasileira foi atingida.
Segundo a PSP (Polícia de Segurança Pública), o motorista não obedeceu às ordens de parar o carro e, durante a fuga, tentou ainda atropelar os policiais, “que tiveram de afastar-se rapidamente para não serem atingidos” e “foram obrigados a recorrer a armas de fogo”.
Fontes ouvidas pela reportagem dizem que o companheiro da vítima estava dirigindo o veículo sem carteira de habilitação e nem seguro do carro (que é obrigatório em Portugal). Por isso, acabou se assustando ao se deparar com vários carros da polícia na estrada.
Após dar marcha a ré e bater em uma parede, o homem acabou avançando em direção aos policiais, que abriram fogo.
Ivanice foi a primeira vítima fatal da polícia portuguesa em 2017.
Em julho de 2005, o mineiro Jean Charles de Menezes, 27, morreu após ser atingido pela unidade armada da Scotland Yard no metrô de Londres. Ele fora confundido com um terrorista pela polícia inglesa.
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