Mladen Krstajic, 43, parecia desconfortável após o sorteio para os grupos da Copa do Mundo, em dezembro, na Rússia. Ele estava ali como quebra-galhos, um interino que tinha de responder a perguntas sobre uma seleção que meses depois ele sabia que não seria mais sua.
O ex-zagueiro havia sido escolhido para ocupar o cargo de forma interina após a saída de Slavoljub Muslin, 64, técnico que havia classificado a Sérvia para o Mundial.
“Seja de forma interina ou em definitivo, é uma honra. Qual técnico não quer representar seu país?”, questiona.
Em janeiro, ficou definido que ele será o técnico da Sérvia na Copa. Em 27 de junho, em Moscou, vai liderar a equipe contra o Brasil, na última rodada do Grupo E.
À reportagem, Krstajic diz que sua principal missão será criar um clima de harmonia entre os jogadores, algo que quase nunca foi possível no passado, quando o elenco se dividia em panelas étnicas de sérvios, croatas e bósnios.
Se conseguir isso, acredita ser possível ficar em segundo na chave e ir às oitavas de final. A primeira colocação será do Brasil, opina.
Leia a entrevista:
Pergunta – A Sérvia, mesmo quando ainda se chamava Iugoslávia, sempre chegava aos Mundiais apontada como possível surpresa por causa dos jogadores de qualidade. Em 1990, foi à disputa de pênaltis contra a Argentina e quase se classificou à semifinal. Podemos ver a sua equipe em 2018 dessa mesma forma, como candidata à zebra?
Mladen Krstajic – Quando você fala sobre a Sérvia, tem de ser honesto. Não nos classificamos para a Copa de 2014 no Brasil e não estamos na primeira linha dos favoritos. Quem for enumerar os favoritos para o próximo Mundial, não vai mencionar a Sérvia.
Pergunta – Nem mesmo como surpresa?
M.K. – Queremos ser a surpresa do torneio, claro. Temos de criar um bom clima no elenco. Não vamos falar de expectativa. Creio que jogamos melhor quando as pessoas não falam muito sobre nós.
Pergunta – Você era assistente de Slavojub Muslin, então já conhece o grupo…
M.K. – Sim, isso é uma vantagem. Não creio que haverá muitas mudanças até a estreia na Copa [em 17 de junho, contra a Costa Rica]. Já temos um elenco quase formado. Pode haver alguma novidade, mas nada significativo.
Pergunta – Você fala em boa atmosfera no grupo por causa dos problemas no passado entre sérvios, croatas e bósnios?
M.K. – É uma situação delicada e que ultrapassa o limite do futebol. Possivelmente atrapalhou a seleção no passado, mas agora cabe apenas a nós criar um clima para que a campanha seja boa. Não digo apenas por essa questão [política], mas você precisa ter harmonia no grupo em um torneio curto como a Copa do Mundo. Não há time dividido que consiga fazer uma campanha convincente.
Pergunta – Após o sorteio, você disse que o Brasil estava praticamente garantido como primeiro colocado no grupo. Continua pensando assim?
M.K. – Claro. Não é exclusividade da Sérvia. Qualquer time que caísse no grupo do Brasil teria de vê-lo como favorito. Tenho certeza que os treinadores da Suíça e da Costa Rica pensam da mesma forma. Nossa principal preocupação é derrotar esses outros dois adversários e ficar com a segunda vaga da chave. O Brasil não deve estar preocupado conosco. Deve estar preocupado em ganhar a Copa do Mundo.
Pergunta – O técnico da seleção brasileira, Tite, não gosta de ser apontado com tamanho favoritismo…
M.K. – Temos de ser realistas. Claro, no futebol você nunca sabe… Tudo é possível. Mas temos de partir do princípio que o Brasil está acima dos demais. Pelo menos no início do torneio, nosso nível de competição está com Suíça e Costa Rica. Não é nenhuma vergonha reconhecer isso. São três seleções que brigarão em igualdade de condições pela segunda vaga no grupo. Espero que sejamos nós os classificados. Temos capacidade para isso.
Pergunta – Quando montar a seleção para enfrentar o Brasil, sua maior preocupação será como parar Neymar?
M.K. – Não será minha única preocupação. Neymar é um dos melhores jogadores do mundo. Em breve, poderá ser o melhor. Tem talento para isso. Mas se em campo nos preocuparmos excessivamente com ele, estaremos perdidos. E os outros? E Philippe Coutinho? E Paulinho? E Gabriel Jesus? O Brasil tem seleção de grandes jogadores. Claro, Neymar talvez seja o principal nome, mas está longe de ser o único.
Pergunta – Após o sorteio para a Copa, você revelou quem era seu jogador brasileiro favorito e causou surpresa…
M.K. – Marcelo Bordon [zagueiro ex-São Paulo e que fez carreira no futebol alemão]? Não foi uma brincadeira. Jogamos juntos no Schalke 04. Gosto muito dele.
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