30 de novembro de 2024
Economia • atualizado em 13/02/2020 às 01:21

Brasil perdeu relevância para os negócios da JBS na última década

Ao concentrar seus principais investimentos fora do país durante uma década, a JBS se tornou uma das multinacionais brasileiras mais internacionalizadas.

A compra de empresas como a americana Swift por US$ 1,4 bilhão, que em 2007 permitiu a entrada no mercado de bovinos e suínos dos Estados Unidos, ou a Pilgrim’s Pride, do segmento de aves, por US$ 2,8 bilhões, em 2009, são alguns dos negócios que a levaram à liderança do ranking de internacionalização de múltis brasileiras realizado pela FDC (Fundação Dom Cabral) por quatro anos.

O perfil agressivo na expansão da brasileira logo incomodou concorrentes estrangeiros, que tentaram barrar a compra da Swift, em 2007, reclamando da forma de financiamento da JBS, que tinha o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) como principal financiador de suas aquisições e também sócio.

Embora esteja hoje sob investigação da Polícia Federal para apurar suspeitas de irregularidades na maneira como o banco público aprovou investimentos de R$ 8,1 bilhões, a expansão da JBS foi considerada positiva do ponto de vista do negócio.

“O financiamento pelo BNDES foi uma decisão acertada porque esse é um setor em que o Brasil tem tradição e vantagem competitiva”, afirma Marcos Elias, estrategista da Modena.

Para Marco Saravalle, da XP Investimentos, a internacionalização da empresa sempre foi defensável.

“Em termos de finanças, faz todo sentido diversificar a proteína, expandindo para suínos e aves, e a geografia, buscando mais mercados, pois isso reduz o risco e diminui a exposição à instabilidade da commodity”, diz.

No mapa

À medida em que a empresa foi buscando novos mercados na Austrália e na Europa, além de intensificar sua presença nos EUA, a operação brasileira perdeu relevância. O país representa hoje apenas 16% da receita, enquanto seu maior mercado, o americano, equivale a 47%.

“Em 2007, até mais de 50% da receita vinha de fora porque ela sempre exportou. Mas, se olharmos a quantidade de empresas controladas no exterior, veremos que ela praticamente só cresceu fora na década”, diz Saravalle.

A exceção foi a compra da Seara, em 2013, por R$ 5,85 bilhões, que, embora tenha sido um negócio no Brasil, contribuiu para transformar a JBS na maior processadora de frangos do mundo.

A JBS foi a primeira no ranking de internacionalização da FDC de 2010 a 2013 e só perdeu posição no ano seguinte porque adquiriu a Seara no Brasil, diluindo a proporção de receitas, funcionários e investimentos no exterior. Em 2016, retomou a trajetória de alta na lista.

Diante da crise de imagem que a empresa vive desde que os controladores Joesley e Wesley Batista fizeram a delação na Lava Jato, a perspectiva de futuro da expansão mundial fica comprometida.

A crise já suspendeu o plano da família Batista de abrir capital em Nova York, o que permitiria um novo salto em sua expansão internacional.

Para Livia Barakat, professora da FDC, ainda é difícil estimar o impacto da crise na internacionalização futura.

“Vai depender de como ela será percebida pelo mercado externo. Pode vir a afetar a confiança”, diz Barakat.

O professor Frederico Martini, do Ibmec, estima um prejuízo para a imagem não só da JBS mas de outras companhias brasileiras que queiram se expandir no exterior. (Folhapress)

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