22 de dezembro de 2024
Política

Bolsonaro usou discurso na ONU para se defender, diz sociólogo

Bolsonaro durante abertura da Assembleia-Geral da ONU. (Foto: Reprodução)
Bolsonaro durante abertura da Assembleia-Geral da ONU. (Foto: Reprodução)

O discurso de Jair Bolsonaro na abertura da Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) foi utilizado para a defesa do governo federal, aponta o doutor em sociologia José Elias Domingos. De acordo com o professor, a tom da fala do presidente é consonante com aquele que ele adota no país. Domingos, todavia, criticou a atitude de Bolsonaro em transformar o púlpito da ONU num palanque.

“O palco da ONU foi usado como uma possibilidade dele se defender. Foi um discurso de defesa do seu governo”, afirmou. “O que Bolsonaro fez foi tentar sensibilizar alguns líderes mundiais para que eles compreendam o porquê de seu governo ter tomado algumas iniciativas”, completou.

Domingos ressalta que o discurso do presidente foi todo voltado para seu público fiel, mas no lugar errado. “Muitas vezes parecia que ele estava direcionando a fala para ter um recorte que vai agradar determinados nichos do bolsonarismo. Novamente, ele faz uso dessas arenas públicas de promoção de debates para falar com seus nichos. Ele se esqueceu que esse tipo de mensagem não tem tanta eficácia na ONU, quando você fala para países soberanos, que conseguem fazer uma análise da política brasileira com distanciamento.”

O sociólogo aponta ainda inconsistências do discurso de Bolsonaro com a realidade do país. O presidente enalteceu a economia, que sofre com inflação galopante, a vacinação contra a covid-19 e a política adotada pelo governo na Amazônia.

“Ele enfatizou, por exemplo, o tratamento precoce contra a covid. Ele defendeu a economia do governo dele com dados distorcidos. Usou dados distorcidos também sobre o desmatamento da Amazônia. Falou de um sucesso na vacinação quando sabemos das iniciativas que ele tomou para remar contra isso”, pontuou.

Além disso, o discurso crítico a medidas que visam estimular a imunização, como o passaporte da vacina, soa mal na comunidade internacional. “Vai na contramão do que outros países da democracia ocidental têm entregado. No contexto da afirmação, nas grande capitais, da necessidade de se estabelecer critérios para ingresso de pessoas em estabelecimentos privados”, avalia o professor.

O exotismo do governo e do discurso de Bolsonaro, diz Domingos, se converte num país sem prestígio diplomático. “Na comunidade internacional, o Brasil hoje é visto como um estado pária e temos muitas dificuldades de fortalecer nossas relações exteriores”, destaca.


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