Marcus Vinícius
Deputados, senadores e até governador, eleitos na “Onda Bolsonaro” tendem a receber o desgaste do governo do presidente, que se afunda em escândalos e não cumpre as promessas de campanha.
O bolsonarismo está em queda. A imagem do “mito” se deteriora a cada dia, e além da queda na popularidade, a fama de pé-frio o acompanha. Em abril deste ano, ele visitou Israel, onde o então primeiro-ministro Benjamin Netanyahu era candidato a se manter no cargo. Bolsonaro teceu loas ao político israelense, porém “Bibi”, como é conhecido perdeu as eleições. Depois, em junho, Bolsonaro visitou a Argentina, onde o presidente Maurício Macri concorria à reeleição. O ex-capitão exortou os argentinos a manterem Macri no poder, mas no dia 27 de outubro, o presidente argentino tomou uma surra e perdeu as eleições no primeiro turno para o peronista Alberto Fernandes, que tem como vice a ex-presidenta Cristina Kchiner.
Por estas e outras o candidato do direitista Partido Nacional, Luis Lacalle Pou, rejeitou de imediato o apoio de Bolsonaro à sua campanha, que disputa o segundo turno das eleições do Uruguai contra o candidato do governo, Daniel Martins, da centro-esquerdista Frente Ampla.
Ibope
Pesquisas confirmam o ocaso do presidente Jair Bolsonaro e também do seu partido o PSL. Um exemplo é a pesquisa Ibope, que entrevistou 2002 pessoas entre os dias 18 e 22 de outubro.
De acordo com o levantamento, 50% dos entrevistados responderam que não votariam “de jeito nenhum” no presidente Bolsonaro e no PSL. Essa é uma rejeição altíssima para um partido e um presidente que não tem nem um ano á frente do Executivo. . A rejeição maior ao PSL se concentra entre os mais pobres, com renda familiar até 1 salário, entre os quais 55% responderam que não votariam “de jeito nenhum” no partido e em Jair Bolsonaro.
A rejeição ao PSL nas capitais é de 55%; nas periferias, de 52%, e no interior, de 48%. Entre pessoas com mais de 55 anos, a rejeição ao PSL atingiu 55%.
Defesa
Em Goiás vários políticos tem identificação direta com o presidente Bolsonaro e o seu partido. O governador Ronaldo Caiado (DEM) é um deles. No segundo turno das eleições presidenciais de 2018 ele trabalhou intensamente para garantir a vitória do ex-capitão. Recentemente, em evento na Câmara Federal, Caiado defendeu enfaticamente o presidente contra as recentes acusações de envolvimento no caso da morte da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ).
Neste final de semana, Caiado disparou no twiiter:
“As calúnias lançadas ontem contra o presidente Jair Bolsonaro não têm nenhuma sustentação. A matéria sequer podia ser publicada, pois o presidente estava na Câmara dos Deputados. Qual é o objetivo disso? Desestabilizar a estrutura democrática porque não ganharam as eleições?”, perguntou.
Caiado aposta na boa relação com o presidente Bolsonaro e com o ministro da Economia, Paulo Guedes, para alavancar recursos da União para o Estado de Goiás. Mas nestes dez meses de governo, nada aportou no erário estadual.
O senador Jorge Kajuru (sem partido), embora se declare independente, durante a campanha colou sua imagem à do “mito” e de Ronaldo Caiado. Com este empurrão extra conseguiu ficar à frente de Lúcia Vânia (PSB), Wilder Morais (DEM) e Marconi Perillo (PSDB) para garantir uma das duas vagas no Senado.
Bolsonaristas de primeira –hora, os deputados federais Delegado Waldir (primeiro deputado a defender a candidatura de Bolsonaro à presidência) e Glaustin da Focus (PSL) vivem momentos diferentes. Waldir perdeu a liderança do PSL na Câmara Federal em meio à briga pelo controle da legenda. Ele está às turras com o presidente e seu filho, o também deputado federal Eduardo Bolsonaro, e se alinha agora com o presidente da sigla, Luciano Bivar. Glaustin se mantém fiel à base do governo, assim como o Major Vitor Hugo.
Mito ou mico?
Mas há algo que une os bolsonaristas Kajuru, Waldir e Glaustin: as eleições municipais. Seus nomes estão cotados para disputa das prefeituras de Goiânia (Kajuru e Waldir) e de Aparecida de Goiânia (Glaustin). Até que ponto o alinhamento com Bolsonaro ajuda ou prejudica suas trajetórias políticas?
O mesmo pode ser perguntado em relação ao governador Ronaldo Caiado. Seus primeiros dez meses de governo ainda não permitiram criar uma marca que lhe seja favorável o bastante para influenciar nas eleições de prefeitos em Goiás. Seu partido, o DEM é minúsculo diante do gigantismo do PSDB e do MDB no interior do Estado.
O anti-bolsonarismo poderá ser usado por algumas candidaturas ou partidos em Goiás? Em Anápolis, pelo menos, este é um fator que pode ajudar a candidatura do ex-prefeito e hoje deputado estadual Antônio Roberto Gomide (PT). O mesmo Ibope que revela rejeição ao PSL nos grandes centros urbanos, mostra que rejeição geral do PT entre os entrevistados da pesquisa é de 43%. Entretanto, 27% dos entrevistados responderam que votariam “com certeza” neste partido. É um percentual considerável, que varia entre 17% no Sul, 23% no Sudeste, 33% no Centro-Oeste e 42% no Nordeste. Em cidades como Anápolis e Goiânia, segundo o Ibope, 25% votariam “com certeza” em candidatos do PT e 45% não votariam.
Provavelmente os candidatos de partidos aliados ao governo federal farão a mesma opção do uruguaio Lacalle Pou, e rejeitarão a presença de Bolsonaro no palanque. É certo que as eleições municipais tem como tema principal as demandas locais, mas a rápida deterioração do governo Bolsonaro pode apimentar o debate, colocando nas cordas do ringue os bolsonaristas, seja nas disputas pelas capitais de Estado ou nas cidades de médio e pequeno porte por todo o país.
Quando Getúlio Vargas foi candidato à presidência da República em 1950, a música de sua campanha, uma marchinha de carnaval de autoria de Haroldo Lobo dizia:
Bota o retrato do velho outra vez
Bota no mesmo lugar
O sorriso do velhinho
Faz a gente trabalhar
Eu já botei o meu
E tu, não vai botar?
Já enfeitei o meu
E tu vais enfeitar ?
O sorriso do velhinho
Faz a gente trabalhar
É improvável que alguém bote o adesivo do presidente para pedir votos nas eleições municipais.
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