NELSON DE SÁ
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Iniciado no Reino Unido e alcançando hoje centenas de marcas pelo mundo, o boicote à publicidade no YouTube, do Google, para evitar que os anúncios sejam veiculados junto a vídeos com discurso de ódio e até terrorismo, ainda divide os grandes anunciantes brasileiros.
Consultado, o Banco Itaú diz que continua na plataforma, mas atento: “Apesar de nossos anúncios não terem sido veiculados em espaços inadequados, estamos acompanhando de perto a situação e acreditamos que o Google tomará todas as medidas necessárias para que exposições desse tipo não voltem a acontecer”.
A instituição financeira acrescenta que “repudia qualquer tipo de ligação direta ou indireta com manifestações que incitem ódio e discriminação”.
Já a PepsiCo responde ter deixado de veicular publicidade no YouTube no Brasil: “Ficamos preocupados e desapontados com a inserção de anúncios de nossas marcas em vídeos que promovem o ódio e têm conteúdo ofensivo. [Tomamos] medidas imediatas para remover toda a publicidade de plataformas que não sejam de busca até que o Google possa garantir que não aconteça novamente.”
A multinacional de bebidas e alimentos acrescenta que “tem o histórico de promover a diversidade e a inclusão; conteúdos como este violam nossos valores fundamentais”.
‘TRANSPARÊNCIA’
Também procurado, o Google Brasil respondeu: “Não comentamos casos individuais, mas, conforme anunciado, iniciamos uma ampla revisão de nossas políticas de anúncios e assumimos o compromisso público de implementar mudanças que forneçam às marcas mais controle sobre onde seus anúncios são exibidos”.
Em uma segunda nota, encaminhada nesta segunda (3), a empresa acrescenta: “Como parte do nosso compromisso de proporcionar ainda mais transparência e visibilidade aos nossos parceiros de publicidade, começaremos a oferecer relatórios de segurança de marca no YouTube feitos por instituições reconhecidas no mercado”.
Trata-se da permissão, há muito solicitada pelo mercado publicitário, para que empresas independentes como comScore, Integral Ad Science e DoubleVerify monitorem os anúncios do YouTube –o que será feito através de um canal de “segurança de marca”.
O Google também diz ter ampliado a sua estrutura própria de identificação de vídeos que podem ser considerados inadequados por anunciantes, inclusive com mais envolvimento humano, o que teria levado a um resultado cinco vezes maior, em detecções.
Também na segunda (3), a Johnson & Johnson do Brasil afirmou em resposta a uma consulta da reportagem que, voltando atrás na suspensão iniciada na semana passada, a empresa “retomou a publicidade digital no YouTube em um número seleto de países após a implementação de medidas de proteção de marca pelo Google”.
‘PONTO DE MUDANÇA’
O boicote ao YouTube começou há cerca de um mês, depois que uma série de reportagens do “Times” de Londres encontrou anúncios de grandes marcas junto a vídeos de grupos extremistas, como o Estado Islâmico e o neonazista Combat 18. Os produtores dos vídeos recebem parte do dinheiro que os anunciantes pagam ao Google.
O movimento foi em parte liderado pela subsidiária britânica do grupo francês Havas, que representa anunciantes como Hyundai e Domino’s Pizza. O presidente da Z+, agência brasileira do Havas, Armando Strozenberg, também presidente da Abap (Associação Brasileira de Agências de Publicidade), descreve o quadro no país:
“O que a gente sabe é que a orientação das multinacionais foi no sentido de que, em todas as praças, essas práticas devem ser obedecidas. Então, supomos que todas as agências que atendem às filiais dessas empresas que começaram a retirar a sua publicidade lá fora estão fazendo a mesma coisa no Brasil.”
Segundo ele, trata-se de um “movimento de agências e anunciantes multinacionais”, porém: “Não só como presidente da Abap, mas como profissional, eu considero que esse episódio pode se transformar num extraordinário ‘turning point'”, num ponto de mudança para o mercado publicitário.
O boicote parcial no Brasil já estaria afetando positivamente uma página especializada no YouTube, a Vevo, de música, que em fevereiro registrou 1,6 bilhão de visualizações no país. “No caso da publicidade na Vevo, quem comercializa é a Vevo”, diz Fátima Pissarra, diretora geral da empresa no Brasil.
“Muitas marcas já nos procuraram, pedindo propostas, por conta dessa paralisação”, acrescenta. “Elas não querem parar de veicular no YouTube e nos procuram. Reforçando essa comunicação, a gente soltou um comunicado, falando que, dentro do nosso conteúdo, a comercialização dos anúncios é feita por nós.”
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