Brasília – O Banco Central anunciou nesta noite de terça-feira, 24, que decidiu colocar um ponto final no programa de swap cambial que teve início em agosto de 2013. Havia uma divisão no mercado financeiro sobre a continuidade da chamada “ração diária”, que injeta dólares por meio de leilões que equivalem à venda da moeda americana no mercado futuro.
A decisão do BC marca uma mudança da equipe econômica na política cambial com menor intervenção no mercado. O anúncio, que era esperado apenas para o final do mês, acabou sendo antecipado diante da fala hoje do presidente do BC, Alexandre Tombini, na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal. O discurso de Tombini provocou diferentes interpretações, com apostas de renovação e outras de manutenção do programa.
O primeiro impacto da decisão tende a levar a um alta imediata do dólar, pelo menos em um primeiro momento. A avaliação é do gerente de câmbio da Correparti Corretora, João Paulo de Gracia Corrêa.
Segundo ele, embora esta decisão já refletisse em parte nas cotações do dólar, ainda havia uma parcela do mercado apostando que os leilões seguiriam para além de março. “O primeiro impacto é de subida do dólar, mas depois a moeda volta à normalidade. A volatilidade também deve continuar até que o mercado se adapte ao antigo sistema”, comentou Corrêa.
O BC já ofereceu ao mercado com o programa o equivalente a US$ 114 bilhões. Com essa quantia em estoque que trabalhará a partir de agora. Em nota divulgada hoje à noite, o BC avaliou que esse volume foi suficiente para promover proteção ao mercado (hedge).
Na avaliação do economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, o BC aproveitou o anúncio de manutenção da classificação de risco do Brasil pela Standard & Poor’s.
De acordo com o Perfeito, o BC já conseguiu fornecer liquidez ao mercado e agora é a hora de fazer essas saídas ou diminuir o ritmo. “O BC foi muito oportunista, no bom sentido, ao se aproveitar deste momento, de esperar a manutenção de grau de investimento para fazer esse movimento de saída.”
A instituição garante a renovação dos contratos que vencem a partir do dia 1.º de maio. Levará em conta, no entanto, o interesse pelos leilões e também as condições de mercado. “Sempre que julgar necessário o Banco Central do Brasil poderá realizar operações adicionais por meio dos instrumentos cambiais ao seu alcance”, informou a nota do BC.
Sem consenso
Hoje de manhã, em audiência com senadores, Tombini, disse que o estoque pode durar até 10 ou 20 anos. Em seguida, emendou: “Não quer dizer que é o que vamos fazer”. O mercado, porém, não conseguiu chegar a um consenso sobre se haveria extensão do programa. Durante a audiência de Tombini, a cotação do dólar se manteve bastante volátil, mas fechou em queda de 0,83%, a R$ 3,12. (Colaboraram Fabrício de Castro e Carla Araújo)
(Estadão Conteúdo)
Leia mais sobre: Economia