22 de novembro de 2024
Notícias do Estado

Banqueiros pressionam Meirelles a desistir de candidatura ao Planalto

Conferência de imprensa com o Ministro das Finanças do Brasil Henrique Meirelles, Ministro das Finanças do Brasil, falando na Reunião Anual de 2018 do Fórum Econômico Mundial em Davos, 23 de janeiro de 2018Copyright do World Economic Forum / Mattias Nutt
Conferência de imprensa com o Ministro das Finanças do Brasil Henrique Meirelles, Ministro das Finanças do Brasil, falando na Reunião Anual de 2018 do Fórum Econômico Mundial em Davos, 23 de janeiro de 2018Copyright do World Economic Forum / Mattias Nutt

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A resistência à candidatura de Henrique Meirelles (MDB) ao Planalto ultrapassou as fileiras de seu partido e chegou ao terreno em que o ex-ministro da Fazenda costumava circular com mais destreza: o mercado.

Empresários e investidores -antes entusiastas de uma eleição com o nome de Meirelles nas urnas- agora pressionam para que ele desista de concorrer à Presidência.
Nas últimas semanas, três dos principais banqueiros do país, Luiz Carlos Trabuco Cappi (Bradesco), Roberto Setúbal (Itaú) e André Esteves (BTG), conversaram com aliados do ex-ministro e manifestaram preocupação com os rumos da economia desde que ele deixou a Fazenda, em abril.
Desde então, enumeram, o dólar disparou, a previsão do PIB caiu (de 2,5% para 2%) e houve redução significativa dos investimentos privados.
O cálculo de quem detém boa parte do dinheiro no Brasil é pragmático: Meirelles está estacionado nas pesquisas, com 1% das intenções de voto segundo o Datafolha, e ainda não conseguiu se mostrar eleitoralmente viável, nem mesmo dentro de seu partido.
Investidores e empresários se dividem quanto ao que desejam para o ex-ministro, caso ele desista de disputar as eleições: uns defendem que seja vice na chapa de um candidato mais bem colocado, como Geraldo Alckmin (PSDB), outros o querem disponível para assumir a Fazenda no próximo governo. Há ainda quem peça para que ele volte ao comando da equipe econômica.
Parte do grupo tem subvertido um dos slogans de pré-campanha do emedebista para estimular a última opção: “chame o Meirelles”. O ex-ministro rebate dizendo que é preciso, sim, “chamar o Meirelles”, mas como presidente.
Segundo relatos, ele rechaça as três teses ao dizer que uma aliança com Alckmin é “inviável”, ser ministro de um novo governo não está em seus planos, muito menos voltar a seu antigo cargo. Meirelles tem repetido que é hora de “dar chão” aos investidores e isso, afirma, significa “futuro”.
A falta de previsibilidade eleitoral, porém, fez com que o mercado começasse a temer um segundo turno entre Jair Bolsonaro (PSL) e Ciro Gomes (PDT), cenário que o empresariado considera radicalizado e imponderável para índices como dólar e PIB.
Para eles, Meirelles não demonstrou capacidade de quebrar essa polarização.
A participação do ex-ministro no programa “Roda Viva”, na semana passada, foi considerada a pá de cal, nas palavras de um investidor, para a candidatura, visto que ele não conseguiu encaixar um discurso convincente sobre a recuperação da economia com a recente piora dos dados.
Desde então, parte do mercado voltou sua atenção aos movimentos de Alckmin para tentar desconstruir a imagem de Bolsonaro.
Apesar do desempenho aquém das expectativas -com 7% a 10% no Datafolha-, o tucano iniciou nos últimos dias um processo de polarização com o ex-capitão do Exército, que lidera as pesquisas na ausência do ex-presidente Lula, somado a ataques mais diretos a Michel Temer.
Alckmin quer se colocar à frente de Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes, respectivamente em segundo e terceiro lugares, e se cacifar como o candidato que pode ganhar o apoio do empresariado e de uma aliança de partidos mais ampla.
Além de tentar furar a resistência do mercado, Meirelles precisa convencer setores do MDB de que é a melhor opção para a sucessão de Temer.
Assessores do presidente dizem que o clima melhorou para o ex-ministro dentro do partido e que, diante da falta de unidade no campo governista, a tendência é manter sua candidatura, mas ponderam que ele precisa “vestir logo o figurino de candidato”.
Eles também rechaçam a possibilidade de o ex-ministro ser vice na chapa de Alckmin, mas dizem que, até a convenção do MDB, no final de julho, Meirelles tem que se apresentar como um nome propositivo e que pode surpreender, posicionando-se de maneira assertiva como o candidato que defende o governo.
O ex-ministro da Fazenda tem viajado o país para visitar diretórios estaduais da legenda e tentar vencer resistências internas, ao mesmo tempo em que trabalha para ajustar um discurso mais alinhado ao Planalto.


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