A Organização das Cooperativas de Goiás (OCB) apresentou os dados do balanço do setor referentes a 2024 em um documento sintético por segmento. Apesar dos desafios enfrentados pelo setor agrícola, como problemas na safra e preços menores, o cooperativismo conseguiu crescer em ativos, administrando cerca de R$ 70 bilhões — equivalente a um quarto do PIB goiano.
Para 2025, há preocupação com o impacto do aumento de tarifas de exportação para os EUA que podem pressionar produtores e refletir nos custos das cooperativas principalmente do agro. Este setor é sensível às adversidades climáticas e internacionais, sofrendo com redução de preços e aumento dos custos. As cooperativas, por não focarem exclusivamente no lucro, podem oferecer melhores condições aos cooperados, ajudando a mitigar os impactos negativos das conjunturas econômicas globais, diz Luiz Alberto, presidente da OCB-GOIÁS.
Ao final de 2024, Goiás tinha 609,7 mil cooperados com estimativa de impacto sobre 2,5 milhões de habitantes do Estado de Goiás. Em 2020, eram 301,2 mil. Os dados revelam aumento no envolvimento e confiança na atividade cooperativa.
O maior destaque é para o ramo de crédito que tem 573,5 mil cooperados (86,1%) do total ao final de 2024. Em segundo, 49,9 mil estão no setor agropecuário. Nas cooperativas de consumo estão 22,5 mil e nas de saúde são 10,6 mil.
O crescimento das cooperativas em 2024 foi de 6%, com 266 unidades. Em ativos, o crescimento foi relevante e somou R$70,7 bilhões com aumento de 17,6% em relação a 2023.
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Queda no agro

Pelo segundo ano consecutivo, as cooperativas do agro registraram redução no faturamento. Em 2024, a retração foi de 7,6% em relação ao ano anterior. O faturamento caiu de R$17,4 bilhões para R$ 16,1 bilhões. Da mesma forma, as sobras (distribuídas aos cooperados) caíram de R$1,8 bilhão par R$1 bilhão.
Nas 39 cooperativas da área de saúde, incluindo as unidades da UNIMED, foi registrada uma situação preocupante do ponto de vista financeiro. Durante a pandemia, elas registraram perdas que chegaram a R$78,5 milhões. Apesar de sobras de R$55,7 milhões em 2023 houve queda de R$7,4 milhões em 2024.

ENTREVISTA – LUIZ ALBERTO PEREIRA, PRESIDENTE DA OCB
ALTAIR TAVARES – Presidente, o balanço do setor cooperativo com o panorama econômico e financeiro, no geral, apresenta crescimento com uma realidade, hoje, dura, de enfrentamento ao tarifaço. Como o senhor avalia esse ambiente para 2025?
LUIS ALBERTO – Para começar, se analisando os dados de 2024, a gente viu que, apesar dos problemas, principalmente, com a safra, com preços menores, as recuperações sociais, o cooperativismo ainda conseguiu crescer em alguns pontos importantes, principalmente nos ativos, que passou a administrar 70 bilhões de ativos, um quarto do PIB goiano está sendo administrado pelo setor cooperativo. Isso é um dado muito alvissareiro, apesar daquela conjuntura econômica do ano de 2024. Para 2025, agora, surge um fato novo, que é a questão das tarifas.
Diretamente, as cooperativas podem não ser afetadas, porque a maioria delas, que trabalham com exportação e na área de grãos, pode ser redirecionado. Mas a nossa preocupação é pressionar o produtor, tanto no preço quanto nos custos, e isso, naturalmente, vai refletir nas cooperativas do agro, nas cooperativas do transporte, nas cooperativas do crédito e, assim, no geral. Então, é um momento de preocupação, mas acreditamos que as cooperativas vão saber, também, se adequar, como adequou em outros momentos, inclusive, na época da Covid.
ALTAIR TAVARES – O setor de crédito é o que mantém dados mais positivos?
LUIZ ALBERTO – É, o setor de crédito cresce de forma muito constante, à medida que as pessoas vão conhecendo o setor de crédito, vão migrando para esse setor, mas, quando tem uma conjuntura desfavorável, ele também cresce. A questão das recuperações judiciais foi desfavorável, mas continuou crescendo.
A gente não está imune, por ser crédito, não está imune desse tarifaço, está tudo dentro de uma conjuntura, mas continua crescendo, porque as pessoas estão, cada vez mais, confiando nas cooperativas, principalmente, as de crédito. Você vê que, só de ativos, eu acabei de falar, são R$ 70 bilhões. Então, elas retém, entre bens e recursos dos cooperados, R$ 70 bilhões, que é um quarto do nosso PIB.
ALTAIR TAVARES – O setor agropecuário vem aí de dois anos de redução. É preocupante isso? Como avalia a perspectiva do futuro?
LUIZ ALBERTO – É, o agropecuário é o setor mais sensível que tem. Emprega muito. Se tem qualquer coisa, climática, por exemplo, dá problema, conjuntura internacional dá problema, geopolítica, guerra dá problema.
Então, é um setor sensível, o ano passado sofreu muito com a redução dos preços das commodities, o aumento dos custos dos insumos provocados pelos conflitos internacionais, e agora tem essa questão do tarifaço. Aí que vem a parte do cooperativismo, porque, sendo a cooperativa não ter aquela necessidade de lucro, ela pode remunerar melhor os seus cooperados nas compras dos seus produtos e, com isso, amenizar um pouco os efeitos das situações econômicas globais que se apresentam.
ALTAIR TAVARES – Agora, porque um quarto do PIB de Goiás está no setor cooperativo? situação que já vem de algum tempo, profundamente consolidada?
LUIZ ALBERTO – Consolidada, à medida que as pessoas conhecem o cooperativismo, confiam no cooperativismo e vejam as diferenças fundamentais, eles passam a trabalhar com o cooperativismo, principalmente o de crédito, onde exige-se maior confiança do cooperado em colocá-lo a seus recursos.
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