JULIANNE CERASOLI
MANAMA, BAHREIN (UOL/FOLHAPRESS) – Em 2004, o Bahrein se tornou o primeiro país do Oriente Médio a ter uma corrida da Fórmula 1, dentro de uma estratégia de expansão para territórios ainda sem tradição no automobilismo desencadeada pelo então chefão da categoria, Bernie Ecclestone.
Preparando-se para sua 14ª participação no calendário -a prova ficou de fora da temporada 2011 por questões políticas-, o GP barenita uniu diferentes táticas para se tornar o mais lucrativo da categoria.
Desde o início, a intenção do rico reino do Bahrein, cuja economia gira em torno do petróleo, era tornar-se a capital do esporte a motor do Oriente Médio, vendo potencial de crescimento deste mercado na região.
Para tanto, passou a atrair diversas categorias ao circuito de Sakhir, do kart ao Mundial de Endurance, além de abrir a pista a treinamentos e também para amantes do automobilismo testarem carros esportivos.
Com isso, o país foi se concretizando como um destino voltado ao automobilismo, até sofrer um baque com a entrada de Abu Dhabi no calendário, em 2009. Vizinha dos Emirados Árabes e sem o apelo turístico de Dubai, a etapa teve de se reinventar para continuar gerando interesse.
Mudanças como o horário da prova, que passou a ser disputada sob o entardecer em 2014, e a contratação de artistas de peso, além da adoção de ingressos especiais para famílias, funcionaram e o GP do Bahrein hoje é um evento para entusiastas endinheirados de automobilismo no Oriente Médio, como também para quem busca entretenimento.
A posição no início do calendário também é pensada para atrair turistas europeus: afinal, em abril o país árabe, com temperaturas na casa dos 30ºC no início de primavera, oferece um refúgio para o frio depois de meses de inverno no Velho Continente.
Os números comprovam que essa fórmula é de sucesso: segundo o chefe-executivo do circuito, Shaikh Salman bin Isa Al Khalifa, o impacto do GP chega a quase 300 milhões de dólares (quase um bilhão de reais), o que representa mais da metade do lucro médio das demais sedes da temporada. Estima-se que o GP do Brasil, por exemplo, gere 250 milhões de reais para a economia de São Paulo.
Os lucros do Bahrein com a F-1 não param por aí: desde 2014, um fundo ligado à família real tem ações da McLaren e hoje controla mais de 30% da equipe.
BOAS CORRIDAS
A pista também está longe de desapontar. Apesar de ser um traçado feito por Hermann Tilke, criticado por ter criado várias pistas que não produzem boas provas, e de ter áreas de escape muito largas e asfaltadas, outro fator que geralmente está atrelado a corridas sem muita ação, o circuito de Sakhir costuma ter médias de ultrapassagens altas e corridas agitadas.
Parte disso é explicado pela areia, que é trazida para a pista pelo vento e vai alterando a condição do asfalto ao longo do final de semana. E o fato da prova ser no início do ano, quando a tendência é que os carros tenham mais problemas e desempenhos menos constantes, também ajuda o espetáculo.
Os pilotos gostam do Bahrein, dentro e fora da pista. “Uma das minhas coisas favoritas é o paddock. Parece algo que veio direto de ‘Mil e Uma Noites’, com luzes e construções que criam essa atmosfera. É uma das minhas corridas prediletas da temporada”, disse Nico Hulkenberg, da Renault.
Falando da corrida em si, Fernando Alonso, que venceu três vezes no circuito, destaca a duração da prova, que costuma ser mais longa devido à média de velocidade relativamente baixa. “São muitas as variáveis para se pensar e é uma das provas mais longas do ano, e isso geralmente produz algum tipo de drama.”
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