23 de dezembro de 2024
Especial • atualizado em 13/02/2020 às 09:16

Avós buscam fôlego e ajustam a casa para receber netos durante as férias

Os conceitos sobre velhice mudaram, idosos estão potencialmente ativos em sociedade e não possuem mais todo o tempo do mundo para dispor, mas o valor e o impacto emotivo de mandar a filharada para passar as férias na casa dos avós continua presente entre as famílias.

É o caso da pequena Isabella Cruz Meneses, 6, que vai passar nove dias no sítio dos avós paternos, Inês Salomé, 71, e Vivaldo Sousa, 75, em Salto, no interior paulista, onde terá amplo contato com a natureza e vai brincar longe da tecnologia.

“Ela gosta do sítio, encontra amigos lá, e é onde ela se desconecta, não quer nem assistir televisão. Preservamos muito a relação dela com os avós, a convivência com as coisas simples. Lá, mal pega celular, não tem wi-fi. As crianças acabam resgatando brincadeiras antigas, usando a imaginação”, diz Luciana Cruz Meneses, 36, mãe de Isa.

Mas antes de fazer as malas da molecada e enviá-las para o desfrute dos ares interioranos e do mimo dos avós, é preciso que haja, por parte dos idosos, “disposição e estrutura”, conforme explica a psicóloga e pedagoga Elizabeth Monteiro, 68.

“Não vale depositar os filhos na casa dos avós. As crianças não podem representar um peso para eles. Se houver uma disponibilidade interna para receber os netos, com uma estrutura mínima para ampará-los, sem prejuízo para ninguém, vai ser algo maravilhoso para os dois lados”, afirma a pedagoga.

A própria Elizabeth, autora de diversos títulos sobre relações humanas, está com cinco netos passando férias em seu sítio, em Valinhos, na região de Campinas (SP).

“As crianças precisam ter suas histórias com seus avós, com a criação de boas lembranças, que vão ficar sempre na emoção de todos. Por isso, a experiência tem que ser prazerosa, sem estar ligada a obrigações.”

E é por esse caminho que os pais de Ana Maria, 3, pretendem seguir ao enviá-la para Santa Rita do Passa Quatro, na região de Ribeirão Preto (SP), para passar uma semana com os avós, sozinha, pela primeira vez.

“Ela já entendeu que nem todos os coleguinhas estão fazendo o curso de férias na escola e também quer algo diferente. Vai ter outra rotina lá com os avós. Como será a primeira vez, estamos todos um pouco inseguros, mas queremos que ela desenvolva mais esse laço e fique bem sem a gente”, declara Michelle Barroso, 34, mãe de Ana.

Segundo Rita Petronilho, da Faculdade Aberta – Terceira Idade, ligada à Faculdade Metodista Granbery, de Juiz de Fora (MG), é preciso ficar atento ao “espaço” dos avós.

“Estar com os netos é muito bom, estar com a família é fundamental para sua saúde e para o fortalecimento do idoso. Entretanto, isso tudo tem que vir acrescido de respeito a sua vida, a sua rotina e a seu espaço. Não estamos mais diante da realidade do idoso que não tem mais nada para fazer”, afirma.

Os especialistas se dividem em relação a que regras devem ser seguidas durante as férias na casa dos avós.

Elizabeth Monteiro entende que as crianças devam, afora em questões de saúde, andar conforme o que determinem os avós.

“As crianças precisam saber que as casas funcionam de formas diferentes. Na casa dos avós, se os pais não estiverem juntos, a regra é dos avós. No meu sítio, o território é livre para eles fazerem o que quiserem, dou toda a liberdade. Não posso criar um ambiente pesado, ficar criando problema para tudo. Quero que elas vivam o que não podem em casa.”

Avós no comando

Para Elisabete Junqueira e Jorge Luiz de Souza, editores do site “Avozidade”, que trata de questões envolvendo avós e netos, os pais devem seguir no controle das regras.

“Consideramos que está fora de questão qualquer desvio das diretrizes estabelecidas pelos pais para a educação das crianças. Um dos maiores pontos de discórdia entre pais e filhos por causa dos netos são as regras quanto à alimentação e do tratamento de doenças. Cabe aos pais criarem as regras e aos avós cabe acatá-las.”

Ainda de acordo com a dupla, “mesmo que discordando, os avós não devem esquecer que a responsabilidade pela criação e educação é dos pais. É falsa essa ideia de que os avós estragam os netos.

Pais e avós têm objetivos convergentes em relação às crianças e o que os divide é só a parte subjetiva, a forma de ver uma coisa ou outra”.

Sem limites

Os especialistas convergem, porém, em relação a não haver uma idade limite para que os avós curtam e recebam os netos em casa.

Mesmo aqueles com menor vigor físico, mas com o desejo de ficarem com as crianças, podem promover atividades como contar histórias, fazer comida juntos ou brincar de jogos simples.

“É preciso ver a casa dos avós como um lugar gostoso de ir e de ficar, mas com bom senso e respeito à pessoa que mora lá. Avós não são substituto das babás”, declara a professora Rita.

Guilherme Fernandes Barreiros, 8, que vai a Santos, no litoral paulista, ficar 15 dias com os avós paternos, quer deles atenção para o básico: brincadeiras na areia da praia, companhia para passeios de bicicleta.

A mãe do garoto, Cristiane Uhlig, 36, diz que seu segredo para readequar o filho à dinâmica da casa é trazê-lo de volta de três a cinco dias antes do início das aulas. (Folhapress)

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