28 de dezembro de 2024
Brasil • atualizado em 13/02/2020 às 00:16

Autor de atentado em Itumbiara é um enigma, dizem moradores

Um homem descrito como tranquilo, que gostava de pescaria e de trabalhar em campanhas eleitorais, o autor do atentado em Itumbiara é o enigma que abala a política local.

A polícia ainda não apontou por que, na quarta (28), Gilberto Ferreira do Amaral, 53, pegou uma pistola Taurus modelo PT-100 e disparou contra a carreata do então candidato favorito nas pesquisas, o ex-prefeito Zé Gomes (PTB), 58.

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Junto, morreu o segurança do candidato, o policial militar Vanilson Pereira, 36. O vice-governador de Goiás, José Eliton (PSDB), se feriu.

Em seguida, Amaral foi cercado e morto quando pretendia sair em fuga no carro que dirigia.

Conhecido como “Béba”, era auxiliar de serviços gerais da Secretaria Municipal de Saúde e estava em licença para trabalhar na campanha do candidato a vereador Rogério Rezende (PR), da coligação adversária de Gomes.

Funcionava como faz-tudo e transportava cabos eleitorais e o candidato. “Ele fazia para nós um trabalho voluntário. Me disse que estava de férias na prefeitura. Ele era calmo, risonho, uma pessoa tranquila”, diz o candidato.

“Acho que aconteceu alguma coisa para aquele ataque suicida. Ele foi tomado de muita ira, muita raiva. Não sabemos o que aconteceu, ele não falou nada, nada”, ressalta.

Em semanas anteriores ao crime, o candidato do PR ouviu Amaral falando mal de Zé Gomes, que foi prefeito de Itumbiara duas vezes (2005-2012). “Ele falou que tinha trabalhado muito tempo, mais de 30 anos, com o Zé Gomes, mas que ele só o pagou com beijos e abraços”, conta.

Segundo Rezende, no dia do crime Amaral “estava cabisbaixo, triste”, mas isso não levantou maiores dúvidas na equipe de campanha. “Não tem aqueles dias que você acorda mais para baixo, diferente? Podia ser só isso.”

O atentado ocorreu por volta das 17h45 em uma das principais avenidas de Itumbiara. O atirador chegou ao local em um carro Siena alugado.

O principal segurança de Zé Gomes, Fábio de Araújo, 45, diz que trabalhou com Amaral no passado, que não o via há cerca de cinco anos e desconhecia qualquer rixa ou dívida cobrada pelo atirador.

“Cem mil moradores de Itumbiara querem saber, o mundo quer saber o motivo. Um cara desses sair para atirar no candidato, no vice-governador, o cara é o quê? Um suicida. Sabe que não vai sair vivo”, diz Araújo. “O cara [Amaral] foi para morrer, mas ele conseguiu matar. Matou-se ele, mas ele matou o Zé Gomes”, afirma.

Araújo também negou que ele ou Gomes tenham tido uma briga com Amaral horas antes do crime, ao contrário de rumores que circulam em redes sociais e em Itumbiara e que estão sendo investigados pela polícia.

No órgão em que Amaral estava lotado, o Núcleo de Atenção Básica da Secretaria de Saúde, uma servidora que convivia com ele disse à reportagem, sob a condição de anonimato, que o colega estava de licença mas costumava passar no local.

“Era risonho, tranquilo, nunca deu nenhum problema aqui, nada. Estamos todos surpresos como toda a cidade”, diz.

O prefeito Chico Balla (PTB), aliado de Zé Gomes, confirmou que Amaral nunca teve problemas administrativos. “Não havia nada de relevante, era um comportamento tido como normal dentro da secretaria”, afirma.

Há uma ação judicial de cobrança de horas extras movida por Amaral contra a prefeitura municipal, mas o mesmo tipo de processo, segundo Balla, foi aberto por “centenas de servidores”.

“Tem testemunhas que afirmaram que ele criticava muito o Zé Gomes. Não no ambiente de trabalho, mas em bar, essas coisas. Demonstrava ter um certo ódio do Zé Gomes. E isso fazendo críticas políticas, não na parte pessoal”, disse o prefeito que, acredita, porém, na tese de motivação eleitoral.

Após o crime, a polícia apreendeu 84 quilos de maconha em endereços ligados à família de Amaral. Parte da droga, segundo a polícia, estava dentro de um carro estacionado na casa de Amaral, mas não se sabe ainda se há ligação entre os entorpecentes e o crime.(Folhapress)


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