O Departamento Estadual de Trânsito de Goiás (Detran-GO) notificará 203 das 609 autoescolas do Estado por não alcançarem o índice mínimo de 60% de aprovação exigido para manter o credenciamento. A medida segue uma recomendação do Ministério Público, feita em 2018 e reforçada em 2021, que previa a criação de mecanismos para punir autoescolas com baixos desempenhos. A iniciativa foi oficialmente estruturada em 2023 e conta com respaldo judicial. A medida é prevista na resolução 789 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran).
Durante entrevista coletiva na manhã desta segunda-feira (16), o presidente do Detran-GO, Delegado Waldir, afirmou que as autoescolas notificadas terão um prazo de três meses para se adequar. Nesse período, o órgão acompanhará os índices de aprovação e oferecerá treinamentos aos instrutores. “Estamos preocupados com a qualidade dos motoristas colocados no mercado. Muitos apresentam péssimas condições de dirigir, o que compromete a segurança no trânsito”, afirmou.
O primeiro passo é notificar as autoescolas, o que já está sendo feito neste momento por nossa Gerência de Educação. Elas terão um prazo de três meses para se adequar. Caso as notas de seus alunos continuem insatisfatórias, essas autoescolas poderão perder o credenciamento e serão impedidas de funcionar. Essa medida está em total conformidade com o que determina a legislação.
O Detran-GO também reforçou seu compromisso em melhorar o sistema de avaliação, com a contratação e treinamento de mais de 100 novos examinadores. “Queremos dar uma resposta à sociedade e mostrar que estamos preocupados com a má formação dos futuros motoristas. Muitos condutores experientes não conseguem realizar manobras simples, como rotatórias ou sinalizações, o que reflete a necessidade de um controle mais rigoroso no processo de formação”, concluiu Waldir.
Em entrevista ao Diário de Goiás, o presidente do Sindicato dos Profissionais dos CFCs (SinpoCFC), Nuno Ângelo informou que realizou uma reunião com o presidente do Detran na última sexta-feira (13), mas que até o momento não foi comunicado formalmente a decisão ao sindicato. “Tive uma reunião com ele na última sexta-feira e fui informado sobre a coletiva de imprensa de hoje, mas ele não mencionou qual decisão havia tomado. Agora, provavelmente, entrarei em contato para entender melhor a escolha e os próximos passos”, informou.
Ao ser informado sobre a decisão, Nuno destacou a importância do diálogo e defendeu a opção do Detran em notificar e convidar a apresentar propostas de melhorias. “Deve se ter procedimentos, alguma advertência, alguma coisa para poder fazer, uma reciclagem, por exemplo. Agora eu vou ter que sentar, ouvir o sindicato, e depois eu tenho que estar com a diretoria do Detran, para nós avaliarmos essas propostas”, concluiu Ângelo.
Não é simplesmente o Detran apresentar uma proposta ou uma ação que ela será automaticamente implementada. O processo envolve muitos aspectos e precisa ser discutido cuidadosamente.
Por fim, Nuno ainda argumentou que são diversos fatores que podem levar a reprovação, e nem sempre a responsabilidade é das autoescolas. “Às vezes, o problema não está nem na autoescola, mas na prova em si, pois o exame é feito pelo Detran. Se o examinador adotar uma postura ríspida ou agir de forma intimidante, isso pode afetar seu psicológico e causar nervosismo, o que pode interferir no desempenho. Mesmo que o aprendizado tenha sido adequado, a tensão no dia da prova, muitas vezes, está relacionada ao comportamento do examinador”.
Conforme decisão comunicada nesta segunda (16), atendendo a Resolução 789/2020 do Conselho Nacional de Trânsito, para renovar o credenciamento os CFCs devem ter índice de aprovação de pelo menos 60% dos candidatos à obtenção, mudança ou adição de categoria. Esse índice deve ser apurado nos doze meses anteriores ao mês da renovação do credenciamento. Para isso, o Detran-GO irá estabelecer ações de acompanhamento, controle e avaliação das atividades e dos resultados de cada CFC.
Confira o Ranking de aprovação do Detran-GO:
Indústria da reprovação
Além da preocupação com a formação dos motoristas, o Detran busca combater a chamada “indústria da reprovação”. Segundo Waldir, algumas autoescolas lucram com a reprovação dos alunos, já que cobram valores entre R$ 200 e R$ 500 por novos testes, enquanto o custo do reteste no Detran é de aproximadamente R$ 40. “O aluno reprovado é lucrativo para a autoescola, mas isso vai contra nosso objetivo de formar motoristas capacitados”, disse o presidente.
O Detran-GO está comprometido não apenas com o combate à “indústria da reprovação”, mas também com a formação de motoristas verdadeiramente capacitados para enfrentar o trânsito de Goiânia e outras cidades. “Nosso objetivo é formar motoristas qualificados, que respeitem as regras de trânsito e promovam a segurança nas vias. Goiânia foi apontada como uma das capitais com os piores motoristas do país, e queremos mudar essa realidade”, declarou Delegado Waldir.
A nova abordagem do Detran busca atacar os problemas em várias frentes: desde a qualidade do ensino oferecido pelas autoescolas, passando pelo comportamento dos condutores, até o aprimoramento da fiscalização nas vias públicas. “Trata-se de proteger não só os alunos, para que não sejam prejudicados pela reprovação excessiva, mas também de assegurar um trânsito mais seguro para toda a população”, concluiu.
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