22 de dezembro de 2024
Henrique Morgantini

As cores das viaturas e o cachorro de Pavlov

O processo científico do cachorro de Pavlov é revolucionário. E, aos olhos da ciência de hoje, o cachorro é um idiota. O cachorro de Pavlov somos nós. Pelo menos perante o Ministério Público goiano que resolveu se imiscuir numa questão de incrível importância: a escolha das cores dos veículos da Polícia Militar de Goiás. Segundo a denúncia ofertada recentemente, as cores dos carros também são as cores do partido do atual governador, Marconi Perillo: o azul e amarelo do PSDB. E, por esta razão, devem ser removidas imediatamente.
Coincidentemente, também são as cores de Goiás, o Estado. Ou são cores da bandeira brasileira. O problema, segundo o Ministério Público, é: o uso das cores pode e deverá influenciar eleitores por serem cores de um grupo partidário que, ao fazer isto, irá se beneficiar desta grande e estratégica manobra para influenciar o eleitor, esta significativa matilha de Pavlov.
Ah, tá… o tal russo, no século 19, criou um experimento que analisou – e posteriormente – estabeleceu bases lógicas para se definir o estímulo-resposta a incitações provocadas pelo ambiente. Explicando rapidamente: ele colocava uma musiquinha pros cachorros e mostrava uma comidinha. Com isto, o cão salivava em resposta a isto. Então, Pavlov dava a comidinha. Com o tempo, ele passou só a tocar a musiquinha sem dar comida. O que ele percebeu? Que
os cães já salivavam só de ouvir a música, sem nem ver comida alguma.
É mais ou menos assim, como o cachorrinho babão, que o Ministério Público imagina que somos: ao vermos cores de um partido vamos correr para as urnas para votar neste ou naquele partido. Sem ver mais nada, sem observar qualquer outro aspecto: pintou a cor na parede ou poste ou carro, lá vamos nós, babantes, votar no candidato.
Parece que nos tornamos idiotas? Sim, parece e é isto a que estamos sendo reduzidos.Há tempos que a atividade – quase sempre louvável – dos promotores em todo o Brasil muitas vezes se confunde com a democracia e a escolha da nação em ser regida por um sistema democrático. Isto porque um individuo que deseje promover incrementos, melhorias e até mesmo, por que não? um estilo à gestão da coisa pública precisa passar obrigatoriamente por um processo democrático que tem seu arauto na eleição. Uma vez eleito, ele se torna credenciado a aplicar a sua ideologia e sua premissa para aquela administração.
Pois a lógica está sendo subvertida em alguns casos pela ação do Ministério Público ou mesmo do Poder Judiciário em alguns casos. Agora, ao invés de tornar-se candidato para ter acesso a este tipo de prerrogativa, torna-se juiz, promotor e, com a aprovação em um concurso, tem-se acesso (um torto acesso) a um atalho para ingerir em decisões que devem ser prerrogativas inalienáveis do gestor público democraticamente eleito. Sim, escolher a cor das coisas públicas é uma delas.
Em última análise acerca da situação em Goiás, não nos ocorre que a Segurança Pública no Estado é um dos mais graves problemas de conhecimento popular? A crise institucional por que passa o atual governo tem uma ligação direta com o setor. Logo, atrelar as cores partidárias a uma área contaminada por erros, crimes, desmandos e uma crise infecciosa e generalizada não seria uma atitude das mais inteligentes quando se teria em tese a intenção de “promover” as cores de uma legenda com vistas a se ter mais visibilidade positiva nas próximas eleições.
Submeter o eleitor à experiência de Pavlov ao atacar cores de viaturas é demonstrar que, na verdade, mais do que o eleitor, o detentor de tal ideia está mais perto do cachorrinho babante do que nunca. Goiás tem mais problemas que este. Mais relevantes que este. Mais graves que este.
O eleitor vai se decidir no futuro votar em um ou outro projeto com base em recursos analíticos para além das cores.
E meter-se nisto é afrontar – de forma bastante rasteira – a democracia e a prerrogativa de que há poderes que só cabem aos vencedores dentro deste processo democrático, ou seja, aquele processo chato em que se precisa ir às ruas, encontrar e conversar com a população, depois tornar-se candidato e torcer para ser eleito. Um concurso fechado não deve dar poderes semelhantes a ninguém.
Se fosse assim, até o cachorrinho de Pavlov teria vez e voz. Latido, no caso.

As cores e o cachorro de Pavlov

O processo científico do cachorro de Pavlov é revolucionário. E, aos olhos da ciência de hoje, o cachorro é um idiota.O cachorro de Pavlov somos nós. Pelo menos perante o Ministério Público goiano que resolveu se imiscuir numa questão de incrível importância: a escolha das cores dos veículos da Polícia Militar de Goiás. Segundo a denúncia ofertada recentemente, as cores dos carros também são as cores do partido do atual governador, Marconi Perillo: o azul e amarelo do PSDB. E, por esta razão, devem ser removidas imediatamente.
Coincidentemente, também são as cores de Goiás, o Estado. Ou são cores da bandeira brasileira. O problema, segundo o Ministério Público, é: o uso das cores pode e deverá influenciar eleitores por serem cores de um grupo partidário que, ao fazer isto, irá se beneficiar desta grande e estratégica manobra para influenciar o eleitor, esta significativa matilha de Pavlov.
Ah, tá… o tal russo, no século 19, criou um experimento que analisou – e posteriormente – estabeleceu bases lógicas para se definir o estímulo-resposta
a incitações provocadas pelo ambiente. Explicando rapidamente: ele colocava uma musiquinha pros cachorros e mostrava uma comidinha. Com isto, o cão
salivava em resposta a isto. Então, Pavlov dava a comidinha. Com o tempo, ele passou só a tocar a musiquinha sem dar comida. O que ele percebeu? Que
os cães já salivavam só de ouvir a música, sem nem ver comida alguma.
É mais ou menos assim, como o cachorrinho babão, que o Ministério Público imagina que somos: ao vermos cores de um partido vamos correr para as
urnas para votar neste ou naquele partido. Sem ver mais nada, sem observar qualquer outro aspecto: pintou a cor na parede ou poste ou carro, lá vamos
nós, babantes, votar no candidato.
Parece que nos tornamos idiotas? Sim, parece e é isto a que estamos sendo reduzidos.Há tempos que a atividade – quase sempre louvável – dos promotores em
todo o Brasil muitas vezes se confunde com a democracia e a escolha da nação em ser regida por um sistema democrático. Isto porque um individuo
que deseje promover incrementos, melhorias e até mesmo, por que não? um estilo à gestão da coisa pública precisa passar obrigatoriamente por um
processo democrático que tem seu arauto na eleição. Uma vez eleito, ele se torna credenciado a aplicar a sua ideologia e sua premissa para aquela
administração.
Pois a lógica está sendo subvertida em alguns casos pela ação do Ministério Público ou mesmo do Poder Judiciário em alguns casos. Agora, ao invés de
tornar-se candidato para ter acesso a este tipo de prerrogativa, torna-se juiz, promotor e, com a aprovação em um concurso, tem-se acesso (um torto
acesso) a um atalho para ingerir em decisões que devem ser prerrogativas inalienáveis do gestor público democraticamente eleito. Sim, escolher a cor
das coisas públicas é uma delas.
Em última análise acerca da situação em Goiás, não nos ocorre que a Segurança Pública no Estado é um dos mais graves problemas de conhecimento popular? A crise institucional por que passa o atual governo tem uma ligação direta com o setor. Logo, atrelar as cores partidárias a uma área contaminada por erros, crimes, desmandos e uma crise infecciosa e generalizada não seria uma atitude das mais inteligentes quando se teria em tese a intenção de “promover” as cores de uma legenda com vistas a se ter mais visibilidade positiva nas próximas eleições.
Submeter o eleitor à experiência de Pavlov ao atacar cores de viaturas é demonstrar que, na verdade, mais do que o eleitor, o detentor de tal ideia
está mais perto do cachorrinho babante do que nunca. Goiás tem mais problemas que este. Mais relevantes que este. Mais graves que este.
O eleitor vai se decidir no futuro votar em um ou outro projeto com base em recursos analíticos para além das cores.
E meter-se nisto é afrontar – de forma bastante rasteira – a democracia e a prerrogativa de que há poderes que só cabem aos vencedores dentro deste processo democrático, ou seja, aquele processo chato em que se precisa ir às ruas, encontrar e conversar com a população, depois tornar-se candidato e torcer para ser eleito. Um concurso fechado não deve dar poderes semelhantes a ninguém.
Se fosse assim, até o cachorrinho de Pavlov teria vez e voz. Latido, no caso.


Leia mais sobre: Henrique Morgantini