Caetano Veloso, Wagner Moura e Camila Pitanga diziam que era golpe.
Marcelo Serrado e Marcio Garcia apareceram numa foto com colegas globais como Susana Vieira, todos de camiseta verde-amarela do #MoroBloco, a bordo de uma van que os levaria a um protesto a favor do impeachment que acabou se concretizando e removendo Dilma Rousseff da Presidência.
Há um ano, seria difícil acreditar que o retrato postado pela atriz Letícia Sabatella no Instagram, nesta quinta-feira (1º), não era uma montagem. Pode acreditar. Em 2017, Caetano, Wagner, Camila, Marcelo e Marcio dividiram o quadro após encontrar um denominador comum: “Fora, Temer”. Quer dizer…
“‘Fora, Temer’, não, isso lembra o passado. Mudamos o slogan: ‘Temer, jamais'”, diz à reportagem Serrado, que em 2014 votou em Aécio Neves (hoje senador afastado) para presidente (“e, antes, duas vezes no Lula”, ressalta).
Ele interpreta o juiz Sergio Moro em “Polícia Federal – A Lei É para Todos”, filme sobre a Lava Jato. Já Wagner criticou o magistrado (“age como um promotor”) em artigo publicado na Folha de S.Paulo em março de 2016. A discórdia ideológica não os impediu de unir forças num evento que juntou artistas de esquerda e direita que querem a queda do presidente Michel Temer.
Aconteceu na casa de Paula Lavigne, empresária e companheira de Caetano, na quarta (31). “Eles pediram a casa, emprestei com amor”, ela diz sobre os articuladores do encontro: Wagner e o músico Tico Santa Cruz, que em dezembro de 2015 defendeu Dilma, “mulher honesta até que provem o contrário”, hoje investigada na Lava Jato.
Numa noite “superdemocrática”, em que “cada um trouxe um vinho, e a mulher do Tico, uma torta de frango maravilhosa”, as divergências foram poucas, afirma Paula. Uma ala, por exemplo, era reticente à ideia de eleições diretas caso o presidente caia.
Seguidores de Sabatella no Instagram desconfiaram do apartidarismo daquela trupe, que incluiu 30 pessoas -os atores Juliano Cazarré, Gloria Pires, Dira Paes, Christiane Torloni e Maria Padilha entre eles. “Tem muito infiltrado da direita nessa foto!”, comentou um. Outro: “Olha o coxinha Serrado!!”.
O ator achincalhado diz que tem uma “frase bordão” para horas como essa: “Quem ficou no fla-flu perdeu o bonde, a gente já tá lá na frente, não tem mais essa discussãozinha”. Afirma não ter um “bandido de estimação” e que, se Aécio errou, “a culpa é dele”, não de seu eleitor.
“Fiz meu papel de cidadão [ao votar]. Sempre fui esquerda, a vida inteira. Votei no Lula duas vezes, subi no palanque dele até. Em 2014 tinha dois incompetentes [Dilma e Aécio], tive que escolher um deles.”
Picuinhas políticas não deram o tom da noite, diz Paula. “Ninguém falou em Aécio, a parada é ‘Temer, jamais’. Todo mundo quer se livrar deste homem para ver se a gente começa a falar sobre futuro.”
O tom conciliador aparece no manifesto criado na reunião, que começou por volta das 21h e se estendeu até 1h30 (“terminou com todo mundo se beijando, não rolou nenhuma briga”, segundo Serrado).
Eis: “Mesmo com todas as nossas diferenças de pensamentos, provamos que podemos dialogar e nos respeitar uns aos outros. Isso é democracia. Saímos desse encontro com o desejo em comum de ver Temer cassado no próximo dia 6 para que possamos dar os próximos passos rumo a um Brasil melhor. #TemerJamais”.
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