A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) comparou, nesta segunda-feira (23), a custódia de Lula ao regime prisional na ditadura militar. “Eu tenho uma certa experiência com estar presa. Mesmo durante a ditadura, havia a possibilidade de receber parentes, amigos e advogados”, disse a jornalistas, em frente à Superintendência da Polícia Federal em Curitiba (PR).
Dilma tentou visitar o ex-presidente Lula, preso na PF desde o dia 7 de abril, mas foi barrada pela juíza Carolina Lebbos, responsável pela execução da pena do petista.
“A própria ditadura tentou cobrir de legalidade os processos nos quais éramos condenados. E nunca deixamos de ter condições de recursos”, afirmou Dilma.
A juíza indeferiu todos os pedidos de visita a Lula e uma diligência na cela do petista, solicitada por deputados federais. Ela afirma que o regime de visitas deve atentar-se à segurança e à disciplina do estabelecimento, e que Lula já tem seus direitos garantidos ao receber visitas semanais da família e dos advogados.
“Mormente em ambiente no qual se desenvolvem outras funções públicas, como atividades de investigação e de atendimento à população, razões de interesse público possuem o condão de justificar validamente a restrição, de modo a não inviabilizar o bom funcionamento da instituição”, escreveu na decisão.
A Câmara dos Deputados autorizou a diligência na cela de Lula, na esteira da visita realizada por senadores na última terça-feira (17). Assim, a decisão de Lebbos vai de encontro ao entendimento da Casa. Os deputados pediram para realizar a diligência às 11h desta terça (24).
O Ministério Público Federal não havia manifestado objeção às visitas, desde que no dia e horário adequados. O ex-presidente pode receber visitas às quintas-feiras, quando tem se encontrado com sua família.
“Nesse mesmo dia e hora, é feita a visita de familiares, que, por razões óbvias, deve prevalecer em relação à visita de amigos que podem comparecer na sede da SR/DPF e lá realizarem a visita de acordo com a ordem de chegada até o limite máximo do horário estabelecido pela autoridade policial”, escreveu a procuradoria em despacho.
‘Muito esperta’
Aos jornalistas, Dilma voltou a defender a inocência de Lula e afirmar que o ex-presidente foi condenado sem provas.
“Temos que prestar bastante atenção em como opera a Justiça. Hoje foi o Lula, amanhã pode ser qualquer cidadão ou cidadã brasileira.”
Segundo a ex-presidente, a prisão de Lula faz parte de um longo processo que começou em 2016, com o seu impeachment.
“Enquanto o golpe militar corta pela raiz a árvore da democracia, nesse momento a árvore da democracia é comida por fungos.”
Dilma negou-se a falar sobre o plano B do PT para as eleições presidenciais, dizendo que há uma preocupação quase obsessiva da imprensa em torno do tema. “Quando eu sofri o impeachment, falaram ‘renuncia, é mais digno’. Digno é lutar.”
A ex-presidente também não quis falar sobre os próprios planos políticos, ressaltando que o foco do momento é a prisão de Lula. “Se eu responder essa pergunta, vocês vão dar ênfase a isso”, disse, rindo. “Depois que sofri o impeachment, fiquei uma pessoa muito esperta.” (Folhapress)
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