Dois dias após a eleição de Jair Bolsonaro (PSL), com 55,13% dos votos válidos, o PT decidiu intensificar, ainda este ano, uma campanha internacional pela libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sob a justificativa de que sua integridade física está ameaçada. O ex-mandatário está preso na superintendência da Polícia Federal de Curitiba desde abril.
Um dos argumento para a criação de uma rede de solidariedade pela liberdade de Lula, como foi batizada, é a recente declaração de Bolsonaro de que, por ele, o ex-presidente apodrecerá na cadeia.
Nesta segunda-feira (30), após reunião com a cúpula petista, a presidente do partido, senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), afirmou que será feito um pedido de proteção a Lula.
“Tememos pela vida do presidente. Precisamos deixar um alerta à sociedade. Lula tem direto a um julgamento justo. Não tem ninguém que possa definir o que fazer com ele, sem antes seu processo ser julgado de forma justa”, alegou Gleisi.
Chefe de gabinete da presidência do PT, o ex-ministro Gilberto Carvalho afirma que, como presidente, Bolsonaro teria prerrogativa para piorar muito as condições carcerárias garantidas a Lula.
“Não estou dizendo que ele vá fazer. Mas uma coisa é o comportamento formal [de Bolsonaro, como presidente]. Outra coisa é a energia que ele libera [a seus apoiadores]”, disse Carvalho.
A campanha não se restringirá a Lula. O partido vai propor uma instalação de um observatório internacional para proteção de militantes de esquerda, indígenas, negros e jornalistas durante o governo Bolsonaro.
Durante a reunião, o ex-prefeito Fernando Haddad, que perdeu a eleição para Bolsonaro, foi reverenciado como porta-voz da oposição ao futuro governo. Atendendo à recomendação de Lula, Gleisi afirmou que o PT vai dar todas as condições para que Haddad exerça papel de articulador para consolidação de uma frente de resistência.
Segundo Gleisi, Haddad terá papel maior que PT, “porque ele sai depositário da esperança e da luta do povo pela democracia”.
Apontada como rival do ex-prefeito nas disputas dentro do partido, Gleisi chegou a dizer que “depois de Lula, Haddad é hoje uma grande liderança do PT”.
Haddad falou ao partido no início da manhã, deixando o local da reunião ao meio-dia. Segundo participantes, o ex-prefeito se emocionou ao falar de sua família e dos ataques sofridos com a divulgação de fake news via WhatsApp durante a corrida presidencial.
Com voz embargada, o ex-prefeito pediu desculpas caso tenha cometido erros na condução da campanha. Disse que deu o seu melhor. E foi muito aplaudido quando, como olhos marejados, disse que gostaria de vencer a eleição pelo legado petista, pelo perigo que Bolsonaro representa e pela injustiça contra Lula.
Em respeito a outra sugestão de Lula –para que o partido espere a poeira baixar antes de levar a cabo qualquer ofensiva oposicionista- o partido preferiu não fazer um balanço do futuro governo nem traçar uma estratégia agora.
Mas definiu medidas emergenciais, como uma ação contra a a aprovação da reforma da Previdência ainda no governo de Michel Temer (MDB).
Na palavras de petistas, o presidente Temer e Bolsonaro fizeram um conluio para que o atual governo aprove medidas impopulares antes da posse do capitão reformado, no dia primeiro de janeiro.
Questionado sobre o que Temer ganharia com esse “consórcio” com Bolsonaro, o líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta (PT-RS), limitou-se a afirmar: “o salvo-conduto”.
Essa é uma referência à possibilidade de Bolsonaro conceder liberdade a Temer caso ele seja condenado pela Operação Lava Jato após o fim de seu mandato.
Em troca, Temer trabalharia pela aprovação de medidas antipáticas, como a reforma da Previdência, a criminalização de movimentos sociais e a cessão onerosa do pré-sal. (Folhapress)
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