23 de novembro de 2024
Brasil • atualizado em 13/02/2020 às 10:15

Após chacina, conselho de segurança do Ceará pedirá intervenção federal

O conselho Estadual de Segurança do Ceará pedirá intervenção de forças federais na segurança pública do Estado, que vive o aumento da violência urbana. Na madrugada deste sábado (27), um grupo abriu fogo em uma festa no bairro de Cajazeiras, a 10 quilômetros do centro da capital cearense, deixando ao menos 14 mortos e dezenas de feridos.

O conselho, que é órgão vinculado ao gabinete do governador Camilo Santana (PT), já havia pedido intervenção no último dia 12, quatro dia após a primeira chacina no Estado, ocorrida no município de Maranguape, que vitimou quatro pessoas.

Na ocasião, o conselho resolveu solicitar ao secretário de segurança do Estado, André Costa, uma proposta atualizada de enfrentamento à guerra do tráfico de drogas que ocorre na região. As facções GDE (Guardiões do Estado) e CV (Comando Vermelho) estão em disputa pela venda de drogas no Estado, em um cenário que se repete em diversos locais das regiões Norte e Nordeste do país.

O PCC (Primeiro Comando da Capital) tem apoiado traficantes locais com o objetivo de dominar o tráfico nessas regiões. Grupos rivais têm reagido à tentativa de expansão, o que tem causado violentos conflitos nas cidades e nas cadeias.

O presidente do Conselho e Segurança do Ceará, o advogado criminalista Leandro Vasquez, classificou a situação da segurança no Estado como “completo descontrole”. Repercutiu mal a declaração do secretário de segurança do Estado de que a chacina deste sábado seria um caso isolado. Segundo o jornal “O Povo” somente no ano passado 46 pessoas morreram em chacinas no Estado.

“Diante desta situação de completo descontrole, eu, como presidente do conselho, irei ativar a OAB-CE para debater essa questão na próxima sexta, e iremos rediscutir o pedido de intervenção federal”.

Ainda neste domingo, o governador anunciará uma força-tarefa para enfrentar as ações das facções criminosas, assim como acompanhar a apuração do caso e prestar assistência às famílias. Devem participar da reunião integrantes da segurança, judiciário e Legislativo. O conselho é composto por representantes do Executivo, da OAB, Ministério Público e outras entidades.

Segundo Vasquez, o Estado vive um momento crítico da violência, seja nas ruas, seja nos presídios. “No final de 2017 batemos o recorde histórico de homicídios no Ceará. Tínhamos no ano passado uma média de 14 homicídios por dia. Quando iniciamos 2018, com as duas chacinas que já ocorreram, essa média se elevou para 18 mortes por dia”, disse.

Ainda de acordo com o advogado, o secretário de Segurança foi instado a expor em reunião do Conselho de Segurança um plano para enfrentar a escalada da violência, mas no dia da reunião, ocorrida no último dia 22, o titular da pasta não teria comparecido. O representante do Executivo presente teria apresentado propostas recicladas de um projeto anterior.

“O que foi apresentado não representa o plano, mas apenas intenções do governo. É uma espécie de carta de intenções, com muitos verbos no infinitivo, como ‘elaborar’, ‘construir’, ou seja, não há concretude e nem medidas urgentes de reação à violência”, disse o advogado.

Chacina

No sábado, por volta das 00h30, um grupo em três carros abriu fogo contra uma festa popularmente conhecida na região como Forró do Gago. Homens da GDE teriam como alvos traficantes do CV que estariam no local. Segundo testemunhas, a ação levou pânico ao bairro. Pessoas sem qualquer relação com a disputa do tráfico foram atingidas.

A ação foi a maior chacina da história do Ceará. Além das 14 pessoas que morreram, outras 16 ficaram feridas. Ao menos oito pessoas baleadas permanecem no hospital para atendimento. Seu estado de saúde é estável e estão sendo feitas avaliações com relação à necessidade ou não de cirurgias.

A polícia prendeu ainda no sábado um suspeito de participar da chacina. Há a suspeita de que pelo menos 15 homens fortemente armados tenham participado da ação.

Violência

O Ceará é um dos Estados que apresentam piores índices de violência no Brasil.

No relatório Atlas da Violência 2017, divulgado em junho do ano passado, o Ceará aparece com a terceira mais alta taxa de homicídios, com 46,75 por 100 mil habitantes. Apenas Sergipe (58,09) e Alagoas (52,33) contam com índices piores. O melhor índice é o de São Paulo, com 12,22.

Entre as capitais, Fortaleza conta com a segunda maior taxa de homicídios, com 66,72, perdendo somente para São Luis (MA), com 70,58.

Elaborado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), órgão ligado ao governo federal, em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública,

ONG especializada no assunto, o estudo analisou dados do SIM (Sistema de Informação sobre Mortalidade), do Ministério da Saúde, que traz informações sobre incidentes até o ano de 2015.

Em 2015, houve, no Brasil, 59.080 homicídios, o que equivale a uma taxa de 28,9 por 100 mil habitantes.

Divulgado em outubro de 2017, o IHA (Índice de Homicídios na Adolescência), métrica elaborada pelo Unicef, o Observatório de Favelas e a Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente, do governo federal, aponta o Ceará como o Estado em que mais adolescentes são assassinados (8,71 a cada 100 mil), ao passo que Fortaleza lidera o ranking entre as capitais, com 10,74. São Paulo tem o terceiro índice mais baixo do país, de 1,6, acima apenas de Roraima (1,4) e Santa Catarina (0,9). Na capital paulista, o IHA é 2,2.

A medição é feita com dados de 2014, os últimos disponíveis, e considera apenas as 300 cidades do país com mais de 100 mil habitantes. (Folhapress)

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