18 de novembro de 2024
VOLTANDO A PRODUZIR • atualizado em 26/04/2024 às 18:11

Após 20 anos, Brasil retoma nesta sexta produção de insulina capaz de suprir demanda nacional

País não vai mais depender da importação de insulina; empresa teve R$ 203 milhões de crédito público; fábrica foi inaugurada com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente Lula visita planta de produção de insulina da Biomm em Nova Lima MG - Foto: Ricardo Stuckert / PR
Presidente Lula visita planta de produção de insulina da Biomm em Nova Lima MG - Foto: Ricardo Stuckert / PR

Um dos países com maior incidência de diabetes no mundo, com 15,7 milhões de pacientes adultos, o Brasil retomou, nesta sexta-feira (26), a produção de insulina que estava parada havia 20 anos. A insulina é um hormônio que ajuda nos tratamentos da doença. Foi inaugurada nesta sexta, a fábrica da empresa Biomm, em Nova Lima, Minas Gerais.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou da inauguração da nova unidade. A estimativa do Ministério da Saúde é que a empresa terá capacidade de suprir a demanda nacional de insulina e assim não precise mais importar.

O investimento da biofarmacêutica Biomm na construção da nova estrutura foi de R$ 800 milhões. A fábrica terá capacidade para 20 milhões de unidades de refis de insulina glargina (de ação prolongada) por ano – e, na sequência, de canetas de insulina. Além disso, poderá fabricar 20 milhões de frascos de outros biomedicamentos. Entre eles a insulina humana recombinante. Conforme divulgou a Agência Brasil, a estimativa é de que a unidade gere 300 empregos diretos e 1,2 mil indiretos.

Ex-ministro Walfrido

Lula destacou a importância da fábrica para o acesso da população ao insumo e homenageou o trabalho do ex-ministro Walfrido dos Mares Gui. O ex-ministro é um dos sócios-fundadores e membro do conselho de administração da Biomm. Além disso, Walfrido é amigo de Lula e foi ministro durante os dois primeiros mandatos do presidente, entre 2003 e 2007.

Emocionado, o presidente contou a experiência de sua bisneta Analua, de 7 anos. Ela tem diabetes mellitus tipo 1. “Ela vive com aparelho no ombro, [conectado] com celular, cada coisa que ela come, ela tem que controlar. E o que é fantástico é que ela pede para mãe e para o pai aplicar a insulina nela, ela já não tem mais medo, já faz parte da vida dela. […]. Então, eu quero que a minha bisneta Analua saiba que esta figura simpática aqui [Walfrido] vai te dar tranquilidade para você viver mais do que eu e mais do ele está vivendo, porque a vida precisa que os bons vivam muito e que os maus descansem logo”, disse.

A doença

O diabetes é uma doença causada pela produção insuficiente ou má absorção de insulina. Insulina é o hormônio que regula a glicose no sangue e garante energia para o organismo. Ela tem a função de quebrar as moléculas de glicose (açúcar) transformando-a em energia para manutenção das células do organismo.

A doença pode causar o aumento da glicemia e as altas taxas podem levar a complicações no coração, nas artérias, nos olhos, nos rins e nos nervos. Em casos mais graves, o diabetes pode levar à morte.

Nísia aponta política industrial

De acordo com a ministra da Saúde, Nísia Trindade, há mais de 20 anos o Brasil não tinha produção nacional de insulina e dependia apenas de produtos importados. “Para ter uma política de ciência e tecnologia em saúde que leve os produtos à população, temos que ter política industrial”, disse.

Dados do Atlas da Federação Internacional de Diabetes, divulgados pelo governo, alertam que o Brasil é um dos países com maior incidência no mundo, com 15,7 milhões de pacientes diabéticos adultos. “O que se faz aqui é garantia de vida para uma doença que nós temos que trabalhar com prevenção. Mas sabemos que, em muitos casos, não fugiremos da medicação, da insulina e de outros medicamentos que o SUS já fornece na assistência farmacêutica e Farmácia Popular”, disse a ministra Nísia Trindade.

A insulina glargina é indicada para o tratamento de diabetes mellitus tipos 1 e 2. No ano passado, em meio a risco de desabastecimento, o Ministério da Saúde fez uma compra emergencial de 1,3 milhão de unidades de insulina asparte (de ação rápida) indicada para casos de mellitus tipo 1. Esses casos concentram de 5% a 10% das pessoas diagnosticadas com a doença. Na ocasião, a pasta informou que as demais insulinas regulares mais consumidas estavam com estoque adequado para atender a rede do SUS.

Parceria

A Biomm é considerada uma pioneira no setor de biomedicamentos no Brasil. Ela está inserida na Estratégia Nacional para o Desenvolvimento do Complexo Econômico-Industrial da Saúde (CEIS), lançada pelo governo em setembro de 2023. Até 2026, a previsão é de R$ 42 bilhões em investimentos públicos e privados neste setor industrial. A meta é reduzir a dependência do Brasil de insumos, medicamentos, vacinas e outros produtos de saúde estrangeiros.

No contexto da estratégia, a empresa participa do Programa de Parceria para o Desenvolvimento Produtivo do Ministério da Saúde. O programa envolve a articulação do governo com o setor privado. Fundada em 2001, a Biomm é uma empresa brasileira e atua na oferta de fármacos acessíveis para o tratamento de doenças crônicas no país.

Apoio do governo federal

Para implantar a nova unidade industrial em Nova Lima, a Biomm obteve R$ 203 milhões de crédito. O recurso partiu da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), empresa pública vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Também do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG). Outros R$ 133 milhões foram aportados via equity (participação acionária) pelo BNDES e BDMG.

Ainda durante o evento, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Biomm assinaram um protocolo de intenções sobre plataformas de produção de medicamentos para o tratamento de doenças metabólicas. O pano de fundo é o fortalecimento do Complexo Econômico  e Industrial da Saúde (CEIS) e a maior autonomia do Brasil na produção de medicamentos para o SUS.


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