08 de agosto de 2024
Polarização política • atualizado em 19/07/2022 às 17:53

Apoio de artistas em campanha eleitoral pode ser um problema à opinião pública, diz cientista político

Desde o polêmico apoio de Anitta ao ex-presidente Lula, artistas se manifestam através das redes sociais suas preferências partidárias
(Foto: Reprodução / Montagem)
(Foto: Reprodução / Montagem)

Desde a polêmica declaração da cantora Anitta, na semana passada, em manifestar apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o cenário político brasileiro deste ano promete ser bastante movimentado, tanto pela disputa da polarização Jair Bolsonaro e Lula, quanto no meio artístico, afim de dar engajamento e atrair eleitores para candidato X ou Y.

Percebe-se que essa polarização entre a campanha presidencial deste ano não está presente apenas nas pesquisas eleitorais e nos tradicionais eventos políticos. De um lado, os sertanejos por exemplo, apoiam abertamente o presidente Jair Bolsonaro (PL), enquanto de outro lado, artistas do pop nacional defendem a volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O embate travado da cantora Anitta nas redes sociais incomodou até mesmo o presidente Jair Bolsonaro (PL) que foi contra seu posicionamento. Bolsonaro até reconheceu que Anitta, de fato, influencia os jovens mas criticou a regulação da mídia defendida pelo PT, prometendo a esses jovens que defenderá a liberdade de continuar acessando aplicativos e redes sociais.

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Afinal, apoios de artistas em campanha eleitoral pode ser positivo ou negativo? O Diário de Goiás conversou com o cientista político e professor de Sociologia Política, Pedro Célio Alves Borges. Em sua avaliação, estes apoios podem se tornar um grande problema, a partir do momento quando as suas manifestações extrapolam o pronunciamento do direito privativo de manifestação e opinião.

”Eles também são cidadãos, são eleitores e tem direito de manifestarem suas preferências. O problema se dá, quando as suas manifestações extrapolam o âmbito do pronunciamento privativo do direito de manifestação e opinião e passa a criar ondas de opinião, a interferir na opinião pública”, avalia Pedro Célio.

Pedro explica que na tradição da política brasileira, não é ”raro” que candidatos e partidos costumem valer-se de artistas. Como não existe mais os famosos showmícios, onde a legislação brasileira proíbe a contratação de cantores e artistas em participações nos palanques de candidatos, alterou-se a estratégia de comunicação dos candidatos.

Mas segundo Pedro, por outro lado, tem a internet, um outro fenômeno de disseminação quase universalizada onde através das redes sociais a comunicação política de maneira indireta continua valendo.

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”Significa que todos os candidatos, e os artistas sabem disso, o grande público adora as celebridades, costumam inclusive seguir os comportamentos e procedimentos que elas indicam. Quanto mais celebridades ou artista, melhor cabo eleitoral ele [candidato], se torna”, afirma.

O cientista político explica ainda que esse tipo de comportamento, é visto pela legislação como abuso de poder econômico, ou uma espécie de manipulação midiática. ”Nesta eleição de 2022, isso deve ocorrer, artistas vão se pronunciar, pois eles também são cidadãos e eleitores”, avalia.

Embate entre artistas

Além da cantora Anitta, o sertanejo Gusttavo Lima  que já se declarou publicamente como eleitor de Bolsonaro, vem fazendo declarações polêmicas durante shows realizados pelo país e divide opiniões nas redes sociais. Em um de seus shows realizado no dia 21 de maio, Gusttavo disparou que o Brasil nunca vai ser comunista.

“Na vida é Deus, pátria, família e liberdade. Liberdade para pensar, liberdade para agir, liberdade para vencer, liberdade para conversar, liberdade para tá (sic) na internet, liberdade de expressão, liberdade de conquista. E a gente tem que conquistar essa porra. Porque o Brasil é nosso”, disse.

Outra polêmica envolvendo o sertanejo com o pop, foi uma crítica do cantor Zé Neto, dupla com Cristiano, sobre Anitta e a Lei Rouanet, de incentivo à cultura. Zé Neto disse artistas não dependem da Rouanet.

“Estamos aqui em Sorriso, Mato Grosso, um dos Estados que sustentou (sic) o Brasil durante a pandemia. Nós somos artistas que não dependemos de Lei Rouanet. Nosso cachê quem paga é o povo”, disse.

Já o histórico de Anitta contra o presidente Bolsonaro não é de hoje. Nas eleições de 2018, a cantora participou fielmente do movimento #elenão, contra o presidente. Em abril deste ano, Anitta diz que até bloqueou Bolsonaro em seu Twitter após o presidente responder a uma publicação.

Anitta havia defendido que a bandeira do Brasil pertence a todos os brasileiros e não deve ser apropriada por um grupo específico, referindo aos bolsonaristas. Portanto, na ocasião, Bolsonaro compartilhou a postagem e escreveu, em tom de ironia: “Concordo com a ‘Anita’”.

Outros nomes do pop nacional também se juntaram ao movimento em prol de Lula. Durante o evento Lollapalooza, em março deste ano, a cantora Pabllo Vittar chegou a ser denunciada pelo PL, partido de Bolsonaro, por ela ter exibido uma bandeira com a imagem de Lula e teceu críticas ao presidente. Para o PL, tratava-se de um showmício, proibido por resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Para o cientista político, esse tipo de apoio em campanha eleitoral acaba se tornando também um grande problema de pré-conização da igualdade e da disputa. ”Isso pode gerar desequilíbrios”, finaliza.


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