25 de novembro de 2024
Variedades

Ao som de Bowie, Fendi desfila em Milão última coleção de Karl Lagerfeld

(Foto: Reprodução/Instagram)
(Foto: Reprodução/Instagram)

Um silêncio incomum invadiu a sala nos minutos que antecederam o desfile da Fendi, na semana de moda de Milão. Fora do prédio da marca, na zona industrial de Milão, o circo de fashionistas continuava o mesmo, assim como os protestos de ativistas contra o uso de peles nas roupas da marca.
Dentro, porém, os convidados sentavam calados e liam o cartão com a assinatura de Karl Lagerfeld deixado nos assentos. Era uma pequena homenagem da marca ao seu estilista, morto na última terça-feira (19), que ganhou seu último desfile na grife em que passou 54 anos atuando como diretor criativo das coleções femininas. 
Fala-se pouco, mas sua colaboração com a etiqueta italiana foi ainda mais longeva do que a da francesa Chanel, onde era diretor artístico de todas as coleções. Os últimos looks desenhador por ele seguiam os códigos que embutiu na marca durante todos esses anos. 
O apelo pop estava ali, representado pelos logos cruzados adornando casacos de pele e acessórios. A silhueta trompe l’oeil, que reproduz com linhas aplicadas a bases neutra o formato de peças, como vestidos e casacos, também.
Esses monogramas usados pela Fendi nesta coleção foram desenhados por Lagerfeld em 1981, têm linha finas, clássicas, o extremo oposto das fontes em negrito usadas pelas grifes internacionais que aboliram a serifa recentemente. Soou como um último recado do designer, que parece pedir menos uniformidade e um pouco mais de elegância.
Partiu da mensagem a mistura de romantismo, idealizado em roupas esvoaçantes, transparências, comprimentos mídi e tons neutros. A estética ganhou contornos mais provocantes quando foram combinados à pesquisa do estilista sobre as possibilidades de uso da seda.
A imagem que a Fendi transmite é suntuosa, um chique descomplicado que só garotas mais afeitas a um toque de glamour do que ao estardalhaço de “likes” das redes sociais vão querer usar.
Havia, claro, os acessórios da ala mais “cool” da coleção, como a bolsa Baguette em formato de travesseiro ou uma bolsa do tipo tote metalizada. Mas era apenas um desvio na imagem aristocrática dos tules, couros e tecidos acetinados da marca.
Parceira criativa de Lagerfeld na marca, Silvia Venturini Fendi afirma que a coleção é um “verdadeiro testamento” da personalidade do estilista.
“Quando nos falamos alguns dias atrás, seus únicos pensamentos eram sobre a riqueza e a beleza da coleção”, conta.
Ela, que pela primeira vez entrou sozinha no final da apresentação, ainda homenageou o designer soltando “Heroes”, de David Bowie, para embalar a fila final composta por modelos que ele adorava, como Kaia Gerber e Gigi Hadid.Quando a música cessou e as luzes apagaram, a marca projetou um vídeo antigo do estilista desenhando um de seus famosos croquis enquanto explicava o processo criativo. 
Só aí o silêncio da plateia foi quebrado e deu lugar a longos e estridentes aplausos. (PEDRO DINIZ, MILÃO, ITÁLIA (FOLHAPRESS)


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