A cozinheira Irene Moreno, moradora de Sorocaba (interior de SP), aderiu de vez ao pé de frango. “Sempre gostei, mas agora virou a mistura possível, pois é o que dá para comprar. A carne bovina perdeu vez em casa. Primeiro é o frango, depois o porco. Dizem que pé de frango faz bem para os ossos, mas eu digo que faz bem para o bolso.” Segundo ela, porém, sua mãe já voltou do açougue reclamando que até o pé do frango está caro. “Agora estão vendendo em embalagens de isopor e, quando você vai fazer a conta, o quilo sai a mais de R$ 10”, disse.
Com o preço do boi nas alturas e outras carnes também mais caras, o pé de frango virou a opção ao alcance do bolso do consumidor, ainda que também tenha subido. O quilo do frango inteiro estava a R$ 8,41 na quarta-feira, acumulando alta de 43% este ano, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agronomia da Universidade de São Paulo (Esalq/USP). Em janeiro, o quilo estava a R$ 5,90. No mesmo período, o preço do pé de frango, considerado o corte mais barato, subiu 100%, passando de R$ 2,50 para R$ 5 no atacado. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial do País, acumula alta de 5,67% de janeiro a agosto e, em 12 meses, chega a 9,68%.
Dono do açougue Vitória, no Jardim Novo Mundo, periferia de Sorocaba, o comerciante Aguinaldo Jesus dos Santos vê no consumo dos cortes mais baratos um reflexo da crise econômica agravada pela pandemia. “De uns tempos para cá, o consumidor passou a buscar mais o frango. Aquele que comprava carne bovina de primeira está levando o filé de peito, mas a maioria vai de pé de frango ou moela, que são carnes mais baratas.” Na quarta-feira, Santos vendia o pé de frango a granel por R$ 7,90 o quilo. “Está barato, pois em supermercados você vai comprar em bandejas e pagar até R$ 12.”
Para o representante comercial Henrique Laureano Ribeiro, de Sorocaba, que trabalha com venda da carne há 14 anos, a disparada no preço do pé de frango decorre da exportação para países da Ásia e da queda no poder aquisitivo da população. “Outros cortes mais baratos, como o pescoço e a moela, também estão tendo maior procura”, disse. A moela, que em janeiro era vendida a R$ 6,50 no atacado, hoje tem o preço do quilo em R$ 9,80 para que o comerciante revenda a R$ 15.
Ele explica que cortes mais nobres do frango também subiram porque passaram a ser opção para quem consumia carne bovina. O peito com osso subiu de R$ 6,60 para R$ 10,80 no atacado – alta de 63% – e o filezinho (sassami), de R$ 8,50 para R$ 14 – aumento de 65%.
As exportações de carne de frango in natura cresceram 6,2% este ano, até agosto, mas o que levou à alta no preço foi o aumento no consumo interno, o que permitiu que os granjeiros começassem a recuperar as perdas do primeiro semestre. Em agosto, o preço da ave viva subiu em média 4,8% em São Paulo, enquanto os custos de produção aumentaram 1,2%. Mesmo com os preços favoráveis, os avicultores controlaram o alojamento de pintinhos para evitar excesso de oferta.
“Estamos com um pé no acelerador e outro no freio. Aumentamos em 20% a quantidade de aves em alojamento, mas com cautela”, disse o veterinário Sandro Del Ben, da empresa Frango da Hora, com criatórios e abatedouro na região de Tietê, interior paulista. Ele conta que no começo do ano o preço de venda estava em R$ 6,50 o quilo e o custo era de R$ 7,20. “Era prejuízo, principalmente devido aos custos da matéria prima e excesso de frango no mercado. A partir do final de maio, a situação se inverteu e, mesmo com o preço alto do milho e soja e o preço do pintinho a R$ 2 a unidade, o frango começou a dar lucro”, disse
Consumo maior
Para Luiz Gustavo Susumu Tutui, analista de mercado de frango do Cepea/Esalq/USP, a alta nos preços acompanhou a elevação na demanda pela ave, que se tornou a carne mais consumida no País, assumindo o lugar da carne bovina. “O preço do frango aumentou mais que o de outras carnes, mas o consumidor vê que ainda está mais em conta que a bovina e a suína.” O maior consumo, segundo ele, deu margem para que o avicultor conseguisse ganho, mesmo com o aumento no custo de produção.
Ainda segundo o especialista, o setor avícola se ajustou melhor à pandemia e à escalada de preços dos insumos, como milho e soja, também utilizados nas rações para bovinos e suínos. “Como o frango tem produção rápida, podendo ser abatido em 40 dias, foi possível ajustar a produção à demanda, evitando as grandes oscilações de preços. Nas últimas semanas, vejo o setor mais cauteloso. Há o receio de até quanto desses aumentos o consumidor consegue absorver. Além disso, no fim do ano há tendência de maior consumo de outras carnes, como a suína”, analisou.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. (Por José Maria Tomazela/Estadão Conteúdo)