A valorização de quase 9% do dólar em um mês não é uma reação exagerada do mercado, na avaliação de Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs.
Nesta sexta-feira (18), o dólar sobe pelo sexto dia e, na máxima, atingiu R$ 3,77. Às 13h15, a moeda americana avançava 0,91%, para R$ 3,734.
À reportagem, Ramos negou que a moeda esteja sofrendo uma valorização exagerada. “Não há overshooting [reação que leva o preço de um ativo a valores fora das expectativas] do câmbio. A alta não resultou de condições disfuncionais de mercado, de falta de liquidez”, afirmou.
Ele não vê motivos para preocupação excessiva com a forte alta e também não acredita que o Banco Central precise usar ferramentas adicionais para controlar o câmbio. “Dada a incerteza que existe, um pouco mais de câmbio é normal”, afirma.
Para Ramos, a decisão do Banco Central de manter juros foi acertada. No comunicado após a reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), o BC atribuiu às turbulências internacionais a manutenção da Selic em 6,5% ao ano, contrariando expectativa do mercado, que via corte de 0,25 ponto percentual.
” A decisão foi correta, a comunicação não. O impacto da valorização cambial na inflação não é grande, mas também não é zero”, diz. “De fato a comunicação do Banco Central era clara, de que a gente ia cortar juros e que câmbio não era um problema. Se fosse eu, não cortava os juros também.”
O executivo atribui o comportamento do dólar a fatores externos e domésticos. Lá fora, o fortalecimento do dólar se dá pela perspectiva de aumentos adicionais de juros nos Estados Unidos. A recuperação econômica do país gera pressões inflacionárias, o que reforça a expectativa de uma maior atuação do Federal Reserve (Fed, banco central americano).
“Esses fatores são conhecidos e comuns a emergentes. O fato de que as treasuries [títulos de dívida americana com vencimento em dez anos] estão acima de 3% gerou uma pressão generalizada sobre os emergentes”, diz.
Em uma semana, o rendimento desses títulos subiu de 2,97% para 3,07%. Um mês atrás, estava em 2,87%.
As projeções do banco apontam para quatro altas de juros neste ano e quatro em 2019, uma a cada trimestre. “O diferencial de juros [entre o título público americano e dos países emergentes] é uma pressão que vai se generalizar”, diz.
Por isso, avalia, há espaço para o dólar continuar se valorizando em relação ao real.
“Se essa pressão do exterior se intensificar e se a gente tiver uma eleição com resultado que não for visto como market friendly [amigável ao mercado], a pressão no câmbio vai se intensificar e com um aumento de juros pelo Banco Central. A probabilidade de ter que aumentar juros existe”, afirma.
Já as eleições aparecem justamente como o principal fator de pressão doméstica. “O mercado está menos confiável com as eleições do que estava há quatro ou seis meses atrás. Antes havia a visão de que eleição não seria problema, que seria eleito um presidente reformista, que o governo conseguiria passar uma versão minimalista da reforma e, depois, quem viesse, aprovaria uma segunda geração de reformas”, diz.
As mais recentes pesquisas eleitorais, realizadas após a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e depois de o ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Joaquim Barbosa desistir de se candidatar, reforçaram a preocupação. Na última, divulgada pela CNT/MDA, Ciro Gomes, pré-candidato pelo PDT, aparece em empate técnico com Marina Silva, da Rede.
“O mercado não tem tanta certeza de que da eleição sairá um presidente reformista, ou mesmo que quem entrar conseguirá entregar uma agenda reformista. Nomes como Joaquim Levy e Henrique Meirelles conseguiram fazer pouco na parte fiscal. Teria que ser alguém com capacidade de articular e entregar a agenda reformista”, ressalta.
O economista do Goldman Sachs afirmou ainda que o recente dado de atividade econômica do BC mostrando queda de 0,13% no primeiro trimestre do ano não fez o banco rever suas projeções para a economia brasileira neste ano. Ainda.
“A gente sempre teve 2,5% [de crescimento do PIB em 2018]. Não tem urgência grande de revisar, vou esperar o número do primeiro trimestre, porque geralmente revisa também para trás”, diz. “Nunca fui para 3%, 3,5%, 4% Nosso número sempre esteve abaixo do consenso. Mas pode ser que 2,5% seja otimista demais”, destaca. (Folhapress)
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