21 de dezembro de 2024
Mundo • atualizado em 13/02/2020 às 00:36

Advogado de mulher de embaixador morto diz que ela se sente injustiçada

Françoise Oliveira sendo levada a presídio / Foto: Marcos de Paula/ Reuters
Françoise Oliveira sendo levada a presídio / Foto: Marcos de Paula/ Reuters

A defesa de Françoise Oliveira, 40, presa temporariamente por suspeita de ter planejado a morte do marido, o embaixador grego Kyriakos Amiridis, 59, diz que ela se sente injustiçada pela polícia.Seu advogado, Jorge Viana Dória, critica a forma como os investigadores colheram o depoimento de Françoise.

“Ela prestou depoimento na ausência de defesa. Quando a pessoa está sozinha, há palavras que são extorquidas. A polícia é muito truculenta, não avisa que a pessoa tem o direito de ficar calada e não produzir provas contra si. Ela ficou acuada”, diz o advogado.

Dória reitera o que Oliveira dissera em depoimento, que nega ter planejado o crime, mas acusa o policial militar Sérgio Gomes Moreira Filho, 29, que seria seu amante, de ter cometido o crime.O advogado diz que, por não ter tido acesso à íntegra do processo, não pode comentar detalhes.

“Era um casal harmonioso. Trabalham juntos em uma feira em Brasília para ajudar refugiados. Isso indica que é uma pessoa preocupada com injustiças. Era comum o embaixador passar dias fora de casa, por isso ela só procurou a polícia dois dias depois do desaparecimento”, disse o advogado.

Em depoimento à polícia, Oliveira disse que tinha uma relação extraconjugal havia seis meses com o soldado da PM Sérgio Gomes Moreira Filho, 29, e que foi ele o autor do crime. A motivação, disse ela, teria sido o fato de ele não aprovar da relação dela com o marido. O policial e um primo dele também estão presos sob suspeita de participação na morte do diplomata.

Em seu relato, ela disse, segundo a polícia, que não poderia ter evitado o crime. Afirmou que estava fora de casa no momento em que tudo aconteceu.

Segundo as investigações, Kyriakos Amiridis foi morto na própria casa e, na sequência, seu corpo foi retirado do local pelo policial militar e levado no próprio carro alugado pelo embaixador a um local onde foi queimado junto com o veículo.

Segundo a polícia, ela disse que notou, no dia seguinte ao desaparecimento do embaixador, que o sofá do apartamento onde o casal estava hospedado, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, estava molhado. O sofá foi peça-chave da investigação da polícia, pois os agentes encontraram nele manchas de sangue. Segundo depoimento, ela então questionou o amante, que então teria confessado a ela ter matado o embaixador.

De acordo com o delegado responsável pelo caso, Evaristo Pontes, o soldado da PM confessou à polícia ter matado o diplomata. Em depoimento, negou que o ato tivesse sido premeditado e disse que foi resultado de uma luta corporal entre os dois. Sérgio está preso temporariamente na unidade prisional da PM, em Niterói.

O soldado está na Polícia Militar desde abril de 2012 e trabalhava na UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) Fallet/Fogueteiro. Ele será submetido a processo administrativo disciplinar e um conselho de revisão disciplinar decidirá por sua permanência ou exclusão da instituição.

SUSPEITA

A polícia diz não acreditar na versão de Françoise. O delegado responsável pelo caso afirma ter provas do envolvimento dela, mas não divulgou quais são os indícios que a incriminam. Parte da suspeita tem base no depoimento do primo do soldado, Eduardo Moreira, 24, também preso temporariamente. A polícia o acusa de ter sido cúmplice do crime ao ajudar o primo PM a se desfazer do corpo do embaixador.

Em seu relato, Eduardo afirmou que Françoise havia oferecido R$ 80 mil para que ele participasse do assassinato, valor que seria pago 30 dias após o assassinato. Embora enfatize serem investigações preliminares, a polícia trabalha com a hipótese de que o crime tenha sido planejado pelo casal para que a viúva herdasse seus bens.

Segundo o delegado, Françoise ainda não tem defesa constituída. A reportagem procurou a Polícia Civil e aguarda uma posição do órgão de investigação sobre os procedimentos feitos para colher o depoimento de Françoise.

DESAPARECIMENTO

Amiridis morava em Brasília, mas o casal mantinha um apartamento em Nova Iguaçu, cidade onde vivem os parentes de Françoise. O embaixador estava de férias no Rio até o próximo dia 9, quando deveria voltar ao trabalho na embaixada em Brasília.

Ele fora visto pela última vez na segunda-feira (26). Foi a própria viúva do embaixador que comunicou o sumiço do marido à Polícia Federal, dois dias depois. De imediato, a PF avaliou que o desaparecimento não tinha relação com a atividade diplomática de Amiridis no Brasil. Por isso, o caso foi encaminhado à Polícia Civil, que tem um setor específico para investigações de desaparecimentos.Na noite de quinta (29), um corpo foi encontrado dentro de um carro cuja placa era a mesma do veículo que havia sido alugado pelo diplomata. O veículo estava queimado, sob um viaduto, no bairro da Figueira, em Nova Iguaçu. Posteriormente, a polícia confirmou que o corpo era dele.Na sexta (30), os três suspeitos foram ouvidos pela polícia, que pediu a prisão temporária, concedida pela Justiça na mesma noite.

(FOLHAPRESS)

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