22 de dezembro de 2024
Entretenimento

‘Adoraria andar por São Paulo rasgando coisas’, diz ilustrador de jogos GTA

O inglês Stephen Bliss queria muito andar por São Paulo arrancando pedaços de cartazes velhos colados em muros da cidade -como já fez em Nova York (EUA), onde mora atualmente. Lá, ele usou o material coletado em uma exposição chamada “I, Frankenstein”, exibida em galerias americanas. Aqui, ele não sabe se terá tempo para fazer o mesmo.

Trazendo no currículo os 15 anos em que trabalhou, entre 2001 e 2016, como artista-sênior na Rockstar Games -empresa responsável por jogos como “Bully”, “Red Dead Redemption”, “L.A. Noire” e todos os títulos da série “GTA” (“Grand Theft Auto”)-, o artista e ilustrador é uma das atrações que falará ao público na BGS (Brasil Game Show), evento dedicado ao entretenimento eletrônico que ocorre entre os dias 11 e 15 de outubro, no Expo Center Norte.

Na feira, Bliss compartilhará um pouco de sua experiência na empresa e também em outras atividades que exerceu ao longo de sua carreira de “35 anos no mercado”. “Sou muitíssimo grato à Rockstar e às oportunidades que me deram. Ali estão alguns dos melhores artistas de games do mundo”, diz sobre a empresa fundada em 1998 e na qual ele foi um dos responsáveis por desenhar e pintar capas de jogos, pôsteres e outros materiais.

Segundo o próprio, tudo começou por causa do trabalho que ele fez para na capa do álbum “No Protection”, da banda de trip hop Massive Attack. “Eles [a gigante dos games] viram que eu conseguia pintar coisas realistas e cenas de ação. E viram meu design de lifestyle para a marca de camisetas que eu tinha na época, chamada Steroid”, lembra.

O primeiro trabalho de Bliss para a Rockstar Games foi na capa de “GTA 3”. “A versão que seria usada na Europa era como uma cena de um filme do James Bond, com coisas explodindo e pessoas com armas”, conta. “Aí veio o 11 de Setembro [de 2001, quando atacaram as Torres Gêmeas, em NY, mesmo ano em que o game foi lançado] e tivemos que mudar. Fizemos outra, com os quadrinhos e rostos, sem violência.”

Bliss diz que não tinha “a menor ideia” que a franquia se tornaria algo tão grande quanto é hoje. “São jogos que têm um impacto enorme na cultura contemporânea. Foi um processo maravilhoso fazer parte, de dentro, de toda a evolução de algo que se tornou tão incrível. Foi algo como estar nos Beatles ou na cabeça do Elvis [Presley]. Uma experiência fenomenal.”

Para ele, games podem ser considerados arte. “Muito do que é feito atualmente deveria estar em museus e galerias.” Mas Bliss não vem ao Brasil só para palestrar sobre seus tempos de GTA. A bem da verdade, ele quer falar mais sobre sua carreira para além da empresa. “Tenho muito mais histórias que não só as da época na Rockstar”, diz”.

[Na BGS] Quero entreter as pessoas, fazer com que elas se sintam inspiradas a serem elas mesmas e também falar sobre o que tenho feito atualmente.” Ele se refere ao seu trabalho de ilustração comercial para marcas e sua produção artística –em 2015, por exemplo, Bliss pintou uma imagem da roqueira americana Debbie Harry, da banda Blondie, em um muro de Miami na feira de arte Art Basel.

“Saí [da Rockstar] porque queria enfrentar medos e novos desafios. Queria ter novas aventuras e nunca mais usar a palavra chefe”, explica o inglês, que começou a desenhar fazendo pôsteres para sua banda de punck-rock Militia.

“Minha habilidade com a guitarra não era tão boa, então comecei a rabiscar”, brinca Bliss sobre sua adolescência no fim dos anos 1970, quando era leitor voraz de quadrinhos da Marvel e da DC –duas de suas maiores influências no trabalho até hoje.

“Era para eu ter me alistado na Marinha –minha família toda serviu na Marinha”, conta o ilustrador, que, no entanto, cursou arte na universidade. Depois de formado, mudou-se para o Japão, onde viveu por quatro anos e trabalhou em uma marca de moda chamada Hysteric Glamour. “Foi uma época muito divertida. Tenho muitas histórias desse tempo, mas que só posso contar ao meu terapeuta. [Risos]”

A vinda à feira de games será sua primeira visita ao Brasil. “Tenho amigos que dizem que São Paulo é uma selva de pedras. É verdade?” Depois da BGS, ele vai à Inglaterra para estrear uma nova exposição, ainda em desenvolvimento. (Folhapress)

 


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