O jovem morto no interior de SP cuja mãe confessou o crime, segundo a polícia, relatou, em um boletim de ocorrência, que era constantemente chamado de “veado desgraçado” por um tio materno. Esse tio, pelo registro, o ameaçou de agressão física.
Itaberly Lozano Rosa, 17, registrou uma ocorrência na Polícia Civil de Cravinhos (a 292 km de São Paulo) em março de 2015, no qual relata que sofria diversas ameaças violentas do homem. O delegado Eduardo Librandi Junior diz não acreditar em crime por homofobia.
Segundo a polícia, o jovem foi morto a golpes de faca no dia 29 de dezembro de 2016. O corpo foi encontrado carbonizado em um canavial na semana passada. A mãe assumiu a autoria do crime, de acordo com os policiais, alegando ter se desentendido com o filho.
Em uma das ameaças, a vítima afirmou que o tio, de 33 anos, teria dito que o atacaria com uma faca por ser homossexual. Itaberly se dizia privado de sair de casa, porque toda vez que encontrava o tio, era chamado de “veado desgraçado”, além de sofrer com as ameaças.
Uma dos casos teria sido presenciado pela mãe do jovem, Tatiana Ferreira Lozano, 32. Ela teria ido buscá-lo numa festa, por ser menor de idade, e teve que sair de forma violenta com o carro. O tio, segundo relato da vítima no boletim, afirmava que iria pegá-lo e que não adiantaria a mãe ir buscar o adolescente.
O delegado que apura o crime afirmou não ver elementos que justifiquem um crime de homofobia. “Pra caracterizar homofobia, a pessoa tem que que agredir o outro pelo o que ela é, não pelo o que ela faz”.
‘Mãe não aceitava filho gay’
Para o tio paterno do jovem, Dário Rosa, a homofobia foi um dos motivos para a morte do sobrinho. “Acho que tem mais motivos para a morte. Sempre quando eles brigavam [mãe e filho], ele vinha para a nossa casa. Ela não aceitava essa situação dele [homossexual]. Ela queria se afastar dele”, disse à reportagem.
Na confissão à polícia, a mãe do jovem disse não ter nada contra o filho ser homossexual. A única coisa que Tatiana disse reprovar era que o filho levasse outros homens para casa. De acordo com ela, Itaberly ignorava a recomendação, dizendo que “quem mandava lá [casa] era ele”.
Segundo o delegado, Tatiana justificou o assassinato do próprio filho em razão das ameaças sofridas por ela e o filho de quatro anos. Ela dizia ter medo que o jovem pudesse causar algum mal a ela e o filho menor. Após o crime, afirmou ter entrado em desespero, não acreditando no que tinha feito.
O jovem foi morto com três golpes de faca no pescoço. A arma estava escondida no quarto dele pela própria mãe. Uma hora após a primeira discussão, ela entrou no quarto e perguntou se ele estava pensando em algo. Em seguida, deu uma gravata no filho e aplicou as facadas no pescoço.
Após uma hora e meia do crime, Tatiana disse ter acordado o marido, Alex Canteli Pereira, 30, pedindo ajuda para descartar o corpo. Foi quando ela teve a ideia de levá-lo até um canavial e atear fogo. Os dois enrolaram o corpo em um edredon e atearam fogo com a gasolina do veículo.
Foram expedidos mandados de prisão temporária contra Tatiana, presa na Cadeia Feminina de Cajuru, e Pereira, que foi encaminhado para a cadeia de Santa Rosa de Viterbo. Os dois foram indiciados pela Polícia Civil por homicídio duplamente qualificado e ocultação de cadáver.
A reportagem não conseguiu localizar o advogado de defesa de Tatiana Lozano nem do irmão dela, Carlos Alberto Lozano, citado no boletim de ocorrência.
Folhapress
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