O advogado Marco Aurélio de Carvalho, sócio do ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo em um escritório de advocacia, pedirá ao STF (Supremo Tribunal Federal) a abertura de “rigorosa investigação de crime de denunciação caluniosa” que teria sido praticado contra ele por Joesley Batista, da J&F.
O empresário disse em depoimento à PGR (Procuradoria-Geral da República) que acertou contratos fictícios com o escritório de Carvalho.
Segundo ele, a banca “emitia mensalmente notas de R$ 70 mil ou R$ 80 mil”. Parte do dinheiro “iria, segundo Marco Aurélio, para José Eduardo Cardozo”.
“É uma acusação absolutamente falsa e leviana”, diz o advogado. “Eu tenho farta documentação que mostra uma prestação de serviços frequente e regular em casos estratégicos da J&F. A investigação provará isso”, afirma.
Ele diz que os serviços foram prestados de 2012 a 2015, quando integrava outro escritório do qual Cardozo não fazia parte -eles só ficaram sócios neste ano.
Segundo Carvalho, uma testemunha pode confirmar o que ele diz: Henrique Meirelles, atual ministro da Fazenda que foi presidente do conselho de administração da J&F de 2012 a 2016.
“Eu fui contratado para dar consultoria à J&F, que pretendia comprar a empreiteira Delta [em 2012]. Meirelles me recebeu na casa dele em Brasília por duas vezes. Jantamos com Joesley e [o executivo e delator da J&F, Ricardo] Saud em São Paulo e certa vez tomamos um café da manhã no hotel Hyatt para falar do mesmo assunto.”
Ele afirma que indicou advogados para fazer a “due diligence” da Delta e que eles já fizeram declarações em cartório confirmando o trabalho conjunto.
Carvalho afirma que desaconselhou a compra da Delta, que foi abortada. “Ajudei a tirá-los de um negócio desastroso”, afirma.
A partir daí, ele teria firmado um contrato de assessoria jurídica com a empresa, com remuneração mensal.
No dossiê preparado para ser entregue às autoridades, Carvalho incluiu diversos e-mails com pareceres técnicos e processos trocados entre a banca que integrava e os donos e executivos da J&F.
Há correspondências dirigidas a Joesley, Saud e ao advogado do grupo, Francisco de Assis, que enviava respostas. “Não posso mostrar o conteúdo integral por causa do sigilo profissional”, diz.
A banca CM Advogados, da qual ele e Cardozo hoje são sócios, seguia patrocinando até a terça (12) quatro causas da J&F. Num comunicado à empresa, o escritório renunciou aos mandatos.
Carvalho diz que recebeu com “surpresa, indignação e perplexidade” a notícia de que Joesley o acusava de patrocinar contratos “fictícios”. “Sempre agi com lisura e ética. Essa flecha dirigida a mim é, na verdade, uma tentativa de atingir o José Eduardo.”
O advogado, que contratou o colega Fabio Tofic Simantob para defendê-lo, diz que até 2015, quando teve contrato com a J&F, Joesley e Saud nunca “pediram intervenção junto ao José Eduardo”.
Ele afirma que isso só veio a ocorrer em fevereiro, quando foi procurado por Saud.
“Depois que nosso contrato terminou [há dois anos], mantivemos contato e até amizade. Eu ia a jantares e a festas dele e do Joesley”, diz.
“Um dia, o Saud me diz que gostariam de contratar o José Eduardo porque queriam alguém com uma visão sistêmica para atuar [nas investigações que sofriam]”, afirma.
Segundo Carvalho, o executivo passou insistir para se encontrar com o ex-ministro.
“Nós acreditamos naquele momento que o interesse era profissional. Hoje percebemos que queriam nos enredar numa armadilha, gravar o José Eduardo para tentar comprometê-lo em algum crime”, afirma.
A empreitada de Saud teve sucesso: Cardozo acabou indo a um jantar na casa de Joesley, e as conversas do encontro foram gravadas. Entre os temas estava o STF. Segundo o próprio Joesley, não houve crime nos diálogos.
REGISTRO
“Pode ter havido comentários que eles mesmos [delatores] dizem ter sido impróprios. Mas o José Eduardo deixou muito claro que não havia condição de influenciar de qualquer forma uma decisão do Supremo”, diz.
Carvalho afirma que, depois do jantar, ele apresentou uma minuta de contrato a Saud. “O arquivo desse documento está intacto”, afirma.
Ele diz que não pode “entrar em detalhes” mas afirma que rejeitou os termos de uma contraproposta de Saud.
“Se ele gravou também a conversa que teve comigo [sobre as tratativas], será um áudio, para mim e para o José Eduardo, dignificante, absolvitório e engrandecedor”, afirma. “Nunca nos envolvemos em irregularidades.”
MÔNICA BERGAMO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
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