O prejuízo da Petrobras em 2017, no quarto ano seguido de perdas da estatal, desagradou aos investidores nesta quinta (15) e as ações fecharam com forte desvalorização, arrastando a Bolsa brasileira. O dólar terminou o dia em alta, cotado a R$ 3,29, sob risco de guerra comercial entre EUA e China.
O Ibovespa, das ações mais negociadas, recuou 1,3%, para 84.928 pontos. O volume financeiro do dia foi de R$ 12,17 bilhões, contra média diária de R$ 11,06 bilhões em março.
O dólar comercial subiu 0,91%, para R$ 3,291. O dólar à vista, que fecha mais cedo, subiu 1,05%, para R$ 3,293.
O prejuízo de R$ 446 milhões, embora já esperado por investidores, acabou pressionando as ações da estatal nesta quinta. Os papéis mais negociados da Petrobras caíram 4,78%, para R$ 21,31. As ações ordinárias recuaram 2,08%, para R$ 23,12.
No quarto trimestre, a estatal teve prejuízo de R$ 5,4 bilhões. O resultado no ano foi impactado pelo acordo de R$ 11 bilhões que a estatal fez para encerrar uma ação coletiva de investidores nos Estados Unidos. Também foi afetado pela adesão a programas de regularização de débitos federais, que somaram R$ 10,4 bilhões.
Sem o acordo coletivo nos EUA, a estatal teria tido lucro líquido de R$ 7,089 bilhões.
“A gente já esperava números mais fracos, por causa da ação coletiva nos EUA, que sabíamos que ia impactar o resultado. O balanço foi camuflado por efeitos não recorrentes do acordo nos Estados Unidos, do Repetro e por alguns impairments [reavaliações de ativos] realizados no período”, diz Rafael Passos, analista da Guide Investimentos.
Alguns indicadores considerados relevantes para a saúde financeira da estatal pioraram, como a relação dívida líquida/ebitda ajustado, que mede a capacidade da empresa de pagar suas dívidas com a geração de caixa atual. O indicador subiu de 3,16 vezes no final de setembro para 3,67 vezes em dezembro. A meta da empresa é levar a relação para abaixo de 2,5 vezes.
“O indicador que era para estar caindo voltou a subir por causa do acordo nos EUA, uma questão pontual. Mas é um indicador que deveria estar consistentemente melhorando, e essa alta é algo que não deveria ter acontecido”, avalia Marco Saravalle, Analista da XP Investimentos.
Mas as perspectivas para a estatal são positivas, na visão de Adeodato Netto, estrategista-chefe da Eleven Financial.
“Nossa visão para as ações é de geração de valor estrutural de médio prazo. Ou seja, os fundamentos da empresa apontam para existência de margem de segurança relevante para os investidores que compreendam o conceito. Não há como dissociar a Petrobras do passado recente, muito menos de seu controlador”, avalia, em relatório.
Segundo ele, caso o fluxo de caixa livre operacional do ano passado se mantenha estável em 2018, seria o suficiente, sozinho, para honrar as obrigações de serviço da dívida, incluindo amortizações e pagamento de juros do ano.
Saravalle, da XP, tem avaliação parecida. “Do lado operacional, o resultado tem vindo consistentemente bom, com receitas crescentes. Todos os objetivos do planejamento de longo prazo estão sendo cumpridos”, ressalta. “É natural o mercado não receber bem o prejuízo, mas, no longo prazo, está mantida a estratégia e o otimismo. A empresa continua fazendo a lição de casa.”
Ações
Das 64 ações do Ibovespa, 49 caíram, 14 subiram e uma fechou estável.
A Marfrig liderou as quedas, com desvalorização de 5,99%. Papéis de outros frigoríficos também caíram, sob o mau humor do mercado. A BRF teve queda de 4,32%, a JBS perdeu 3,26% e a Minerva se desvalorizou 1,75%.
As siderúrgicas também tiveram uma sessão de perdas. A ação da CSN caiu 3,18%, a Usiminas perdeu 1,76%, a Gerdau se desvalorizou 3,18% e a Metalúrgica Gerdau teve baixa de 2,75%.
Na ponta positiva, a Via Varejo subiu 3,07%. A Cemig avançou 2,50% e a Magazine Luiza teve ganho de 1,45%.
A mineradora Vale caiu 0,47%, para R$ 42,40, embora os preços do minério tenham subido.
No setor financeiro, os papéis do Itaú Unibanco subiram 0,47%. As ações preferenciais do Bradesco caíram 1,45%, e as ordinárias recuaram 2,26%. O Banco do Brasil caiu 0,21%, e as units -conjunto de ações- do Santander Brasil tiveram desvalorização de 0,19%.
Guerra comercial
Além do balanço da estatal, os investidores acompanharam o aumento da aversão a risco provocado pela insinuação de uma guerra comercial entre Estados Unidos e China.
O presidente americano, Donald Trump, escolheu Larry Kudlow, comentarista de televisão e analista econômico, para substituir Gary Cohn. Kudlow foi conselheiro do ex-presidente americano Ronald Reagan nos anos 1980.
“É um nome protecionista, que tem um posicionamento protecionismo, o que gera uma expectativa com relação a futuras barreiras impostas por Trump, sejam específicas para a China ou para outros produtos”, diz Bruno Foresti, gerente de câmbio do Ourinvest.
Nesta semana, Trump indicou que vai impor tarifas sobre US$ 60 bilhões de importações americanas da China, elevando os temores da guerra comercial global.
Na véspera, a Casa Branca disse que a China foi convidada a desenvolver um plano para reduzir seu desequilíbrio comercial com os EUA em US$ 100 bilhões.
Na quarta-feira, Kudlow disse que um dólar forte e estável era importante para a saúde da economia americana e que não tinha razão para acreditar que o presidente Donald Trump discordaria disso.
A perspectiva de uma guerra comercial provocou a valorização do dólar ante a maioria das moedas do mundo. A divisa americana se fortaleceu ante 27 das 31 principais moedas do mundo.
O Banco Central vendeu 14 mil contratos de swaps cambiais tradicionais (equivalentes à venda de dólares no mercado futuro). O BC rola os contratos com vencimento em abril. Até agora, já rolou US$ 2,8 bilhões dos US$ 9,029 bilhões que vencem no próximo mês.
O CDS (credit default swap, espécie de termômetro de risco-país) teve alta de 1,01%, para 146 pontos.
No mercado de juros futuros, os contratos mais negociados recuaram. O DI para abril deste ano caiu de 6,531% para 6,528%. O DI para janeiro de 2019 subiu de 6,485% para 6,480%. (Folhapress)
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