Nesta segunda-feira (28) em que observaram as ações da Vale despencarem quase 25% em razão da tragédia em Brumadinho (MG), acionistas da mineradora cobraram investigação rígida e responsabilização.
“Descaso” foi a palavra usada pelo presidente da Abradin (associação de acionistas minoritários), Aurélio Valporto, para definir o rompimento da barragem que deixou dezenas de mortos e centenas de desaparecidos na lama da mineradora.
“Certamente é descaso, economia de custos, é achar que não vai acontecer nada. É jogar na loteria com a vida dos outros. Temos que esperar a apuração dos fatos para ver se cabe uma acusação criminal contra eles”, afirma.
Valporto diz que, por ora, a Abradin não vai se movimentar em respeito às vítimas. Mas pretende reunir acionistas até alcançar 5% do capital da empresa, o que permite a convocação de uma assembleia geral extraordinária cuja pauta será responsabilização dos administradores.
Ele estima que os acionistas da empresa nos Estados Unidos rapidamente entrarão com uma “class action” (ação coletiva), o que pode desencadear novas perdas para o acionistas minoritários no Brasil.
“O americano preserva muito o investidor, ao contrário daqui. Vai haver pagamento a quem investiu em ADRs [recibo de ação negociado em Nova York]. E o investidor brasileiro vai pagar duas vezes: agora, com a desvalorização das ações em função do acidente, e, depois, vai pagar também a desvalorização com a perda da Vale no momento do acerto com os americanos”, diz Valporto.
Ele se queixa de que a Lei das Sociedades Anônimas coloca “obstáculos” para que os minoritários acionem diretamente os administradores.
A Vale perdeu R$ 71 bilhões em valor de mercado só nesta segunda-feira (28), no primeiro pregão da Bolsa brasileira após o rompimento da barragem, caindo de terceira para quinta empresa mais valiosa do país.
Foi a maior perda de valor de mercado em um único dia na Bolsa brasileira.
Já os acionistas majoritários Petros, Previ e Funcef, fundos de pensão que têm participação na Vale por meio da Litel, cobraram rigor da mineradora.
A Petros, dos funcionários da Petrobras, afirmou em nota que “demanda que a companhia realize uma rigorosa apuração dos fatos que levaram ao rompimento da barragem, com consequente e necessária penalização exemplar dos responsáveis”.
A Previ (Banco do Brasil) afirma que, como acionista, quer se certificar de que a Vale está dando o suporte adequado aos atingidos e de que adotará providências para apurar os motivos.
Questionada sobre como foi impactada financeiramente pelo desastre, a Previ diz que ainda é cedo para falar e que “não tem qualquer urgência de venda da sua posição na Vale” porque tem um colchão de liquidez que lhe dá conforto e que permite aguardar o desenrolar dos fatos.
A Funcef (Caixa), por sua vez, diz querer garantir “que os motivos do acidente sejam apurados com a máxima transparência”.
As manifestações chegam na esteira de cobranças feitas também por autoridades. O presidente interino Hamilton Mourão afirmou nesta segunda-feira que o gabinete de crise criado pelo Palácio do Planalto estuda a possibilidade de afastamento da diretoria da Vale durante as investigações sobre a tragédia em Brumadinho.
A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, afirmou nesta segunda-feira que executivos da Vale podem ser penalizados.
A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) abriu dois processos para analisar a conduta da Vale na divulgação ao mercado do rompimento da barragem na sexta-feira (25). O órgão regulador vai coletar informações para apurar se a mineradora seguiu os procedimentos de divulgação de fatos relevantes a investidores em ações da companhia. (TÁSSIA KASTNER E JOANA CUNHA, SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
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