19 de dezembro de 2024
Brasil

Acervo de FHC tem até arreio dado por Gaddafi

Foto: Wilson Dias- imagens fotos públicas
Foto: Wilson Dias- imagens fotos públicas

Quem se aventura pelos corredores da Fundação Fernando Henrique Cardoso, em São Paulo, corre o risco de se deparar com um presente inusitado: um arreio de cavalo.

“Por que está lá? Porque foi o [ex-ditador da Líbia Muammar] Gaddafi quem me deu”, contou o ex-presidente, nesta quinta (9). “Curioso, né?”

O ex-mandatário brasileiro (1995-2002) prestou depoimento ao juiz Sergio Moro, como testemunha de defesa na ação que acusa o também ex-presidente Lula de manter o acervo presidencial com dinheiro oriundo de propina.

Os presentes que FHC ganhou à frente da Presidência foram tema de boa parte da audiência, como informou a colunista Mônica Bergamo.

Segundo o ex-presidente, os presentes têm muito mais valor simbólico do que material.

Além do arreio dado pelo líbio, são dezenas de quadros de tucano -“De todo tipo; alguns com bico, outros não”-, fotos ao lado de antigos chefes de Estado, anéis, canecas, filmagens, anotações e “centenas de milhares” de cartas.

“Mesmo que tenha valor, vai vender pra quem? Aliás, nem pode”, diz. “Tem que manter.”

“MY HORSE”

Não está no acervo uma gravura de cavalo que FHC iria ganhar da rainha Elizabeth 2ª, quando visitou a Inglaterra, em 1997, e participou de uma tradicional troca de presentes. Quem define quais serão os presentes, no caso do brasileiro, era o Itamaraty.

“Eu não sabia qual era o meu presente. Peguei um e ela disse: “Oh, my horse!’ Era um cavalo… Eu ia dar para ela, e o presente era meu.” O ex-presidente acabou ficando sem a gravura, um retrato do cavalo de Elizabeth 2ª, que acabou mesmo com a rainha.

Na mesma ocasião, o ex-presidente disse ter visitado a rainha-mãe, que manifestou estar felicíssima com o presente que havia recebido do brasileiro.

“Comecei a olhar em volta para ver o que era, e era um pássaro de pedra, com um bico de prata, bastante feioso. E ela estava entusiasmada, achando lindo”, contou.

Cardoso disse que mantém o acervo, que reúne milhares de itens, com o apoio de doações de empresas, e que seria ‘impensável’ mantê-lo sem apoio financeiro.

A troca de presentes entre autoridades estrangeiras é autorizada por uma resolução da Comissão de Ética Pública, “nos casos protocolares em que houver reciprocidade ou em razão do exercício de funções diplomáticas”. Não há menção a limite de valor.

No caso do presidente, qualquer presente recebido no exercício do cargo, em visitas oficiais ou viagens de Estado, integra o acervo presidencial ­que é considerado de interesse público, e não pode ser vendido ou usado para fins particulares.

LULA

O acervo do ex-presidente Lula, que soma nove contêineres, foi armazenado desde a saída do político do cargo, em 2011, e hoje está lacrado em função das investigações da Operação Lava Jato.

Entre os itens, estão retratos de Lula, camisas de time de futebol, um capacete do Ayrton Senna, bonés de sindicatos rurais, um capacete da Petrobras e até um saco de farinha dado como presente.

No total, são 369 mil cartas, 9.965 livros e 15.896 discursos feitos pelo petista.

O Ministério Público Federal acusa o petista de ter usado dinheiro desviado da Petrobras, por meio da empreiteira OAS, para o transporte e armazenagem dos bens.

Os advogados de Lula dizem que a OAS fez uma doação como “apoio institucional”, para preservar um acervo de interesse público.

(FOLHA PRESS)


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