O jornalista Warlen Sabino tem 45 anos e se define como “jornalista-raiz”. Desde criança dava trabalho para a mãe quando saía de casa para a rua, no começo do dia e só voltar ao fim de tarde. Depois de formado, não mudou seu estilo. “Eu gosto do olho no olho, sair para rua”, quase que parafraseando o célebre colega Ricardo Kotscho: “lugar de repórter é na rua”.
As coisas mudaram no início da quarentena quando o isolamento social por conta da pandemia do novo coronavírus forçou a empresa que trabalha a adotar o regime de trabalho remoto, em casa. Para montar seu ambiente de trabalho, pegou o desktop, mesa e cadeira do escritório que realizava o serviço em uma assessoria de comunicação corporativa e levou consigo para onde vive no Setor Norte Ferroviário, em Goiânia. De quebra, o diagnóstico positivo para a Covid-19 que o “derrubou” comprometendo 50% do seu pulmão.
Um pé no pedal e os exames de rotina em dia
Warlen tem bons hábitos físicos. Regularmente dá voltas em toda a Avenida Goiás Norte em sua bicicleta. Também é adepto do motociclismo. É daquelas pessoas que rotineiramente fazem consultas médicas, o que de certa forma, é elogiável num país em que 50% dos homens procuram se consultar apenas após apresentados sintomas de alguma doença, de acordo com o Centro de Referência em Saúde do Homem, de São Paulo. “Eu conheço meu organismo. Não tomo medicamento, nunca adoeço, vou em médico em consultas de rotina. Então qualquer mudança de padrão do meu organismo eu sei”, comenta entre uma tossida e outra o jornalista.
Adepto de uma boa cerveja aos finais de semana, Sabino saiu no dia 19 de junho para fazer compras no supermercado. Passaria aqueles próximos dias com sua namorada, em casa. Acordou no sábado sentindo um mal estar. “Não era ressaca”, comentou brincando. “Domingo eu acordei passando mal. Mais do que o normal”.
Como conhecedor do seu próprio corpo, se resguardou e observou os sinais. Quando acordou na segunda-feira resfriado jogou a culpa no tempo seco. “É normal eu ficar assim essa época do ano”, justificou. Na terça-feira, não teve jeito: o próximo sintoma foi uma febre e o próprio Sabino realizou o diagnóstico: “É covid”.
Dexametasona é receitada: “Acabou comigo”
O teste foi feito só para “cumprir a tabela”. Sabino realizou o RT-PCR, conhecido também como “teste do cotonete” que é considerado “padrão ouro” para quem está com sintomas de covid. O PCR serve para detectar a presença do vírus no organismo do paciente. Analisando o material coletado do nariz o exame consegue identificar a presença do RNA do vírus. O teste foi feito numa quinta-feira (25/06) e o resultado saiu depois de uma semana. Durante esse período, Warlen declara que passou dias em sofrimento. “Quando o exame saiu eu já tinha passado por todas as fases da covid: fiquei sem olfato, senti dores no corpo, febre que não passava, tosse que não acabava”, explicou.
O pior de tudo foi quando pegou o resultado e descobriu que estava com 50% do seu pulmão afetado por conta da contaminação. “Voltei no médico e descobri que eu estava tomando dexametasona de forma errada. A dexametasona é para ser aplicada ao final de tratamento, quando você tem o pulmão comprometido no início. E eu não tive nada disso. Acabou derrubando minha imunidade e até hoje eu não me recuperei 100%”, declarou.
De fato, apesar da OMS considerar a dexametasona um avanço no tratamento da Covid-19, ela só é recomendada em pacientes que conseguem respirar apenas com uso de respiradores. No entanto, não há indícios que ela provoque a perda pulmonar em pacientes em começo dos sintomas da Covid-19.
Seja como for, Sabino irá investigar quando puder sair do isolamento: “Quando eu me recuperar eu vou ter que ir num pneumologista porque meu pulmão não ficou normal”, promete. Atualmente, ainda sente os vestígios da covid-19: a tosse seca continua, a voz para quem não cansava de falar e conversar, está cansada.
E onde sugere que o jornalista pegou o vírus? “Eu tenho quase toda a certeza que foi no supermercado. A ordem cronológica diz isso. Eu não saí para mais nada outros dias. No sábado, fiquei em casa” mas faz uma ressalva: “Esse vírus é muito bom pra passar para os outros, mas é muito ruim para achar de onde você pegou ele. Quando você faz os exames, nem todo mundo dá [a confirmação]. A pessoa tá com todos os sintomas de covid e ainda dá negativo. Mas para você passar isso para uma pessoa é só encostar nela”, explica.
De fato, embora a taxa exata de falsos negativos seja atualmente desconhecida, pesquisadores reconhecem que os tipos de testes disponíveis no mercado podem dar esses resultados, porém em momentos distintos da evolução da doença, daí a importância das campanhas de isolamento social que as autoridades vêm fazendo: “se puder, fique em casa”.
O Governo britânico, do primeiro ministro conservador Boris Johnson, por exemplo, em sua campanha de isolamento social ressaltou a seguinte frase: “Fique em casa, não visite amigos nem familiares. Você pode transmitir o vírus mesmo que não esteja com os sintomas”.
E o futuro? O que será?
Se lugar de repórter é na rua, como diz Kotscho, o que será do futuro? Um dilema. Sabino menciona que para ele já mudou muito. “Agora estou me tornando cada vez mais digital. Não saio de casa para nada. A empresa que eu trabalho já adotou o home office mesmo após a pandemia. Tem os fatores positivos e os negativos. Eu gosto de gente, de ver gente, de bater perna. Agora, pelo menos por um tempo, tenho que fazer isso tudo de um jeito que eu não saia de casa”, pontuou Sabino.
Dos colegas jornalistas, recebeu apoio. A dona do local em que trabalha ficou assustada – “positivamente, quis saber se eu estava bem. Quando as pessoas ficam sabendo que a outra está com covid, logo pensa no pior”, comentou rindo.
Na data da publicação desta reportagem (07/07), Warlen Sabino faria o exame que definiria se ele está totalmente curado da covid-19 e não irá espalhar mais o vírus. Jornalista, apreciador da boa companhia de amigos, o motociclista nas horas vagas não vê a hora de poder voltar tudo ao normal. “A minha casa era um verdadeiro ponto de encontro entre amigos. Eu gosto de gente, de receber gente”, concluiu.
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