Este texto é sobre Carlos Cachoeira.
Mas, vamos começar falando de Peter Sellers.
Peter Sellers foi um gênio perturbado, cuja vida pessoal se misturava com sua arte, tornando ambos frenéticos, sensacionais e, em última análise, fatais. Uma vida que, encerrada bruscamente, deixou um legado na Arte de forma profunda. Nem tudo era só riso no sujeito que deu voz, trejeito, sotaque e afetação ao Inspetor Closeau, de A Pantera Cor-de-Rosa.
Em uma parceria explosiva de talento e genialidade de Sellers com Stanley Kubrick está um belo exemplo comparativo do que acontece hoje com Carlos Cachoeira. O filme se chama “Dr. Strangelove – ou como eu deixei de me preocupar com a bomba e passei a amá-la”. No Brasil, o já genial título foi simplificado por “Dr. Fantástico”. Pelo menos o filme o é.
Muito bem, na história, o tal doutor interpretado por Sellers sofre de uma síndrome chamada “Strangelove” ou a síndrome da mão alheia. Ela faz com que partes do corpo, sobretudo a mão, faça movimentos estranhos e até mesmo ataque o seu “dono”. A interpretação de Sellers nestes momentos é genial.
O que isto precisamente tem a ver com Cachoeira?
Bem, isto, nada, apenas peço que assistam ao filme e entendam do que estou falando. No entanto, o que de fato tem relação com o dilema Cachoeira é que o enredo do filme mostra o auge da guerra fria na qual há a eminência de ataque nuclear dos dois lados, capitalistas e comunistas. No meio disto, como se já não fosse trágico o bastante, há um dispositivo chamado de “Botão do fim do mundo”. Este mecanismo simplesmente dispara uma bomba que não detona somente o inimigo, mas o mundo por completo.
É o fim. O detalhe principal desta arma: uma vez acionada, ela não pode ser parada. Sua ação jamais pode ser cancelada. Dr. Strangelove é um conselheiro para assuntos de crise que busca equacionar e ponderar as diversas situações e cenários possíveis das relações russo-americanas. O filme se baseia amplamente na Teoria dos Jogos, também conhecida como Teoria da Galinha ou – veja só que ironia – também tem uma variação conhecia como Teoria do Prisioneiro.
O resumo da coisa toda é: você tem uma arma que pode atacar, ofender e intimidar o inimigo. Pode, até mesmo, fazê-lo desistir de atacá-lo. Mas o grande segredo desta arma é: jamais usá-la. Você pode mostrar ao inimigo seu poder, insinuar que pode usar aquele armamento, mas você sabe que – caso venha a usar – estará perdido, liquidado já que não só ele, o inimigo, mas também você irá perder.
No filme, usar a arma do fim do mundo significar todo mundo: aliados e inimigos, morrerem. A arma de Carlos Cachoeira é a ameaça que fez e faz ao Partido dos Trabalhadores, dizendo que ele, Cachoeira, é o Garganta Profunda do PT.
Carlos Cachoeira apresenta sua arma do fim do mundo. Sacode para todos verem que, talvez, por trás daquele acena haja mesmo uma arma, mas ninguém de fato a viu ainda. Mas, sua chance de intimidar é: jamais mostrá-la ou apertar seu gatilho.
Ora, por que?
Porque se Cachoeira realmente tiver conhecimento de casos, podres e demais situações constrangedoras de políticos ligados ao PT, irá causar um grande estrondo na política nacional, comprometer biografias e tremer o chão do Brasil. E em seguida, ele terá: nada. Nada mais, nada a apresentar e nada a negociar. Logo, será menos que um condenado comum, um criminoso – como a justiça o considera hoje, condenado a 39 anos de prisão – ele será, a partir deste momento, um condenado odiado, com uma mira em sua testa e o dedo de todos os seus inimigos estará coçando para disparar contra ele.
E o que ele terá para se defender ou contra-atacar? Absoluta e totalmente nada.
Será o fim da tensão, o fim da disputa, o fim do mistério e, por consequência, o fim de ambos os lados: os políticos ameaçados e o ameaçador garganta profunda.
Portanto, Dr. Strangelove observa Carlos Cachoeira e diz: balance, grite, berre, mas jamais aperte o botão do fim do mundo. Uma vez disparado, é impossível cancelar sua ação e o fim será inevitável para todo mundo.
Em tempo: Sellers interpreta não somente o doutor, mas também outros dois personagens no filme. E o final do filme tem uma das melhores músicas já escolhidas para um fim. Vale a pena assistir.
Quanto ao Dilema da Galinha, dos Jogos ou do Prisioneiro da nossa vida real, a que envolve políticos, Cachoeira e demais segredos, este ainda não sabemos qual a trilha ideal e tampouco qual desfecho pode ter.
Uma coisa a matemática e o mundo das probabilidades não deixa fugir: o botão do fim do mundo atinge a todos.
Sem exceção.
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