Em análise do cenário político nacional e estadual, o presidente do PSD Goiás, Vilmar Rocha, que era suplente do candidato ao Senado, Marconi Perillo (PSDB), destacou que os eleitores não escolheram os candidatos em 2018 com base no que queriam para o futuro, mas com base no que não queriam.
“Nesta eleição, a opção das pessoas foi pelo não, não pelo sim. As pessoas não estou votando assim: “Vou votar no candidato X porque ele vai ser um bom governante”. Não, a pessoa diz: “Estou votando no candidato X dizendo não a outra situação”. Por exemplo, a população está votando não contra a classe política, ela não está dizendo sim a nenhum desses candidatos que estão aí. Tem candidato que não tem jeito de falar sim, determinados candidatos que estão postos aí. A população não está dizendo sim para eles. A população está dizendo não. A população quer mudança e a população quer ruptura”, ressaltou.
{nomultithumb}
Leia a entrevista na íntegra:
Qual é a sua avaliação até o momento, está tranquilo?
Eu brinco que, na eleição passada, na noite que terminou a apuração e eu não fui eleito depois de uma longa luta e uma longa batalha, eu dormi igual a um bebê, porque eu estava bem comigo mesmo. Esse é o problema: não fazer algo que mexe com seu coração, com a sua alma. A mesma coisa ocorre agora, eu me posicionei dizendo o que acha que deveria ser feito com a nossa base, vocês todos sabem, eu não vou repetir nem vou falar aquele negócio: “Ah, eu avisei”. Não vou entrar nessa. Eu não quero ter razão, eu quero ser feliz. Não ouviram, né? E gritei alto. Mas nesta visão, eu me posicionei, falei o que pensava, com sinceridade, com lealdade, com verdade e transparência. Com relação ao Marconi, eu pensei muito. Eu poderia ter sido candidato em outras chapas, eu tinha espaço. Mas na última hora eu resolvi aceitar ser suplente do Marconi por duas razões. A primeira é que eu acho que ele é o melhor nome para representar Goiás no cenário nacional. Eu acho isso, um senador tem que conhecer o Estado, as pessoas, tem que ver as grandes demandas. Estou convencido disso. Número dois: é por gratidão. Ele foi correto na última eleição comigo, me apoiou, por companheirismo, por amizade. Como agora o cara está em dificuldade e…? Estou ao lado, estou junto. É aquela velha história, na alegria e na tristeza. Por isso que estou bem, estou em paz, porque fiz aquilo que meu coração mandava. Agora, vamos aguardar a votação, vamos ver o que vai dar no final para a gente fazer uma análise melhor.
Qual a análise até agora?
Eu já tenho uma avaliação. Nesta eleição, a opção das pessoas foi pelo não, não pelo sim. As pessoas não estou votando assim: “Vou votar no candidato X porque ele vai ser um bom governante”. Não, a pessoa diz: “Estou votando no candidato X dizendo não a outra situação”. Por exemplo, a população está votando não contra a classe política, ela não está dizendo sim a nenhum desses candidatos que estão aí. Tem candidato que não tem jeito de falar sim, determinados candidatos que estão postos aí. A população não está dizendo sim para eles. A população está dizendo não. A população quer mudança e a população quer ruptura.
Dói ver que não te ouviram?
O grande problema é quando um grupo vai ficando muito tempo no poder, ele vai ficando dentro de uma bolha de interesses legítimos ou não. Dentro de uma bolha, e perde o contato com a sociedade, o contato com as pessoas. Vamos até usar uma expressão mais romântica: ter contato com as ruas, com as vozes rouca das ruas. Isso é um perigo para uma pessoa. Então, a gente tem que, todo dia ao sair de casa, passar Bombril na pele para sentir, para perceber e muitas vezes quem vai ficando muito tempo no poder vai perdendo esse contato. É aquela velha história: o rei está nu e ninguém via que o rei estava nu, teve que alguém dizer: Olha, o rei está nu. Então, isso é uma verdade que quaisquer grupo, quaisquer pessoas tem que ter muito cuidado, não perder o chão da realidade, não tirar o pé do chão, sair dessas bolhas que se criam às vezes em torno dos governantes.
A possível derrota política não seria difícil de recuperar?
Derrota política sim, derrota eleitoral sim, mas não acho que seja tão difícil de recuperar, porque tem uma coisa na política também que existe muitas vidas, existe a ressureição. Às vezes uma pessoa perde uma eleição acachapante e ela ressurge. Não existe morto em política. Os exemplos estão ali e são muitos. A literatura política está cheia de exemplos assim. Agora, outra coisa: quem sabe lidar com a derrota tem um valor para as pessoas. Há uma história de que foram entrevistar um velho general, que tinha vencido todas as batalhas. Chegaram e disseram: O senhor é um caso único, ganhou todas as batalhas e estamos aqui para te ouvir. Ele disse: Muito bem, só que eu não sou um homem completo, não sou o melhor. Disseram: Porque? Ele disse: Não sou completo porque nunca perdi. Eu não sei como eu reagiria na derrota, então não sou completo, tem gente melhor, vão procurar alguém que ganhou e que perdeu. Eu posso dizer que, graças a Deus, eu já ganhei e perdi muitas eleições. Então, é preciso isso para ver como a pessoa reage politicamente, emocionalmente na derrota. Isso faz parte. Ninguém tem uma vida política completa se só tem vitórias.
Iris Rezende também diz que a derrota em 98 o fortaleceu
Em 2006 eu perdi uma eleição para deputado federal sendo um dos deputados federais votados. À época eu tive 70 mil votos, um dos mais votados e perdi por falta de legenda. Fiquei quatro anos sem mandato, sem partido, sem participar nem do governo estadual nem do governo federal, voltei para a Universidade, fui dar as minhas aulas, escrevi meu livro, que preciso atualizar, chamado “O Fascínio do Neopopulismo”. Estamos vivendo no Brasil, de novo, uma fase populista. Olha, amigos, o Bolsonaro vai ganhar, eu acredito que ele caminha para ganhar a eleição, mas ele tem um perfil de um candidato populista. Nós vamos ter enormes desafios nos próximos anos caso isso aconteça. Pode até dar certo, mas o perfil é de um candidato populista. Não estou fazendo juízo de valor, estou fazendo uma análise, uma constatação. Também não acho que a opção do PT seja boa para o Brasil, negativo. Não se trata disso. Não estou fazendo juízo de valor, mas nós teremos muitos desafios. Outra coisa que às vezes aquela história de você, na política, comparando jogar a criança com a água: o que estou dizendo com isso? É o seguinte: o que está em crise no Brasil não é a política, é a má política. O diabo é você jogar fora junto a má e a boa política. É você querer substituir os políticos atuais, todos eles, por piores. Isso aconteceu na Itália.
Com Berlusconi?
Com Berlusconi. É aquela velha história: olha, não saber distinguir a boa da má política, porque existe a boa política, sim. Isso é um perigo. Nesse momento de você querer substituir todos que estão aí e colocar gente pior.
Durante a campanha, vimos pessoas que nunca se preocuparam com política e agora recomendam um candidato como o salvador da pátria. Como o senhor analisa isso?
As pessoas estão se comportando, nesses casos, não como eleitores, mas como torcedores. Há uma diferença entre eleitor e torcedor, de torcida organizada. É o seguinte: o torcedor não tem isenção para analisar o time. Ele é torcedor, ele está ao lado do time incondicionalmente. Já o eleitor, tem que selecionar e analisar. Vou votar por isso, isso e isso, não vou votar em fulano por isso, isso e isso. Isso é um eleitor, é fazer uma escolha. Se você já é torcedor, não você não tem escolha.
Seria um efeito manada?
Um pouco isso. Nós estamos vendo isso no Brasil. Isso tem que ser colocado para a gente analisar. Tem outra coisa também: não podemos ter aquela visão elitista de que o povo não sabe. Isso é visão elitista. Tem gente que é assim: quando é eleito, o povo está certo, quando ele perde, o povo não sabe. Negativo. Pode não ter tanta informação, mas elas têm um chipezinho interno. Por exemplo, as pessoas querem uma ruptura, querem uma mudança. Estão votando em candidatos aí que têm o símbolo da mudança e que é bem provável que não serão a mudança. Mas o que a população quer é isso, a população quer mudar, cansou disso que está aí, que não está bem e quer mudar. E aquele que simbolizar essa mudança, vai. E às vezes não é mudança, mas eles simbolizam mudança.
Essa análise é para nível nacional e estadual?
Também. Essa é uma análise do fato político contemporâneo, da realidade política contemporânea, vale tanto para o plano nacional quanto para o plano estadual.
O perfil do eleitor a nível nacional aponta semelhança em Goiás?
É claro que está apontando aqui, é claríssimo, é no Brasil todo.
Quando o senhor disse que a base precisava de novas propostas, novo diálogo, qual era o recado efetivamente?
Eu disse à época com a clareza do sol que nós tínhamos que ter um perfil do candidato a governador, que é quem lidera a política no Estado, diferente, da sociedade, alguém que representasse autonomia, que tivesse personalidade política, digamos. Outra coisa, que também serve para campo nacional e estadual, nós não podemos eleger para nenhum cargo relevante postes. Como você vai eleger para a Presidência da República ou para o governo do Estado um poste? Tem que ser alguém que tenha qualificação, experiência, história, formação, porque não é fácil governar, tem momentos difíceis, decisões difíceis. E, outra coisa, as decisões normalmente são solitárias. E essa pessoa tem que estar qualificada para tomar essa decisão. Um poste não está qualificado.
Tem postes aqui em Goiás?
Estou falando em tese, estou tranquilo. Eu estou analisando em tese coisas reais. Não pode ter poste. Quem exerce um cargo relevante, não pode. Olha onde nós fomos cair em eleger Dilma Rousseff como presidente do Brasil, olha o que deu? Porque era um poste. Agora, de novo, Haddad, é um bom moço, professor, mas é um poste, não está qualificado para ser presidente do Brasil. É o que eu penso. Não pode. Então, é isso. Mas isso tudo serve como ensinamento, amadurecimento, é um estágio em que a política no Brasil está passando, outros países já passaram por isso. O Brasil não vai acabar, vai ficar aí, terá mais ou menos dificuldades, mas não vai acabar, vai continuar. E cabe a nós todos que temos responsabilidade de debate para ver o que é melhor para nosso Estado.
As pessoas que viram seu discurso de ruptura não teriam ficado frustradas quando o senhor aceitou ser suplente de Marconi Perillo?
Essa foi uma decisão difícil que eu tomei. Mas eu poderia ter sido candidato a senador em outra chapa. Para isso, eu teria que fazer duas coisas: fazer um estupro político do partido que eu presido e eu não vou fazer estupro político em partido nenhum. A maioria do partido queria continuar na base, por razões A, B ou C. E eu teria que ficar na oposição a muitos companheiros e amigos, inclusive que me ajudaram, da atual base política. Isso seria muito desconfortável para mim. Por uma conveniência política minha circunstancial, eu ficar lá contra essa base política da qual eu sempre participei. Então, diante disso, eu resolvi evidentemente dar um passo atrás. Eu nunca queria ser suplente assim, não. Meu projeto não era de ser suplente, era de ser candidato ao Senado, mas em função dessas realidades, eu resolvi dar um passa atrás, aceitar a suplência. Eu sabia que seria difícil, mas estaria junto também com meus companheiros. Eu fiz essa opção pessoal. Talvez politicamente pode não ter sido a melhor opção, mas pessoalmente, por meus valores, meus conceitos, meus princípios, eu preferi isso e estou feliz com isso, estou satisfeito com isso. Não tenho nenhum arrependimento de ter feito essa opção, ou para ganhar ou para perder. A vida é isso mesmo, você ganha, perde e vida que segue. O que está em jogo nessa eleição, mais do que crise econômica, desemprego, são os valores, o que é uma coisa até bacana. Os valores da família, da democracia, da ordem. Então, popularidade vai e volta, ela depende da circunstâncias do momento, das composições políticas. Você jamais pode perder é credibilidade, confiança. Se você perder isso, acabou.
Houve interferências externas nesta eleição que possam mudar o resultado final, como a Operação da Polícia Federal?
Isso pode ter atrapalhado, agravado um pouco, mas não é a causa central. Ela pode ter atrapalhado, foi em um momento eleitoral, interfere no resultado do pleito, claro, mas não é a causa central, não foi a razão central. Já existia um quadro de realidade que ela pode ter agravado um pouco. Ela pode ser sido aquela gota d’água.
Leia mais sobre: Derrota / Marconi Perillo / psd / vilmar rocha / Política