07 de agosto de 2024
Leandro Mazzini

A herdeira de Jefferson

 

Um episódio de campanha de 2010 contado por Roberto Jefferson a este repórter revela como o controlador do PTB evitou aos trancos e barrancos que o partido submergisse no cenário político-eleitoral no Brasil após denunciar o escândalo do Mensalão. Estava ao lado do então candidato ao Planalto José Serra (PSDB), num anúncio de coalizão, quando o tucano evitou pegar em sua mão para erguê-la junto aos outros ilustres enfileirados, para a famosa foto da ‘aliança’. Jefferson foi ao seus ouvidos: ‘Meu irmão, é agora ou nunca. Ou você me dá essa mão e a levanta ou saio desse palanque agora!’. Serra sorriu amarelo e ergueram, ambos sorridentes, as mãos unidas daquela chapa.

Jefferson é um homem que não mede esforços políticos para conquistar o que deseja. Encarcerado, condenado no processo do Mensalão, da cela num presídio do Rio comandou um front que levou a filha, a vereadora carioca Cristiane Brasil, ao comando do PTB nacional, o sucedendo. Uma figura sem brilho no partido, Cristiane cresceu como herdeira do manda-chuva.

Contribuiu também uma campanha forte que levou muito dinheiro. Incluiu mala-direta, reuniões, banquetes, e ligações por telefone com recados diretamente de Cristiane, falando em nome do pai, para delegados do PTB que posteriormente a elegeram na recente convenção. A campanha era tão intensa quanto desorganizada. Ligaram também para militantes que não estão mais filiados. Um advogado de Brasília, hoje no PSDB, recebeu telefonema de assessor de Cristiane pedindo apoio.

Descerra-se a cortina e aparece no palco pouco iluminado do PTB uma velada disputa entre dois grupos – o de Jefferson, que desejava manter-se no Poder (e conseguiu) e o de parte da bancada de deputados e senadores que almejava renovação no comando da legenda, e manter a aliança com o governo do PT (inclui-se neste os senadores Gim Argello-DF e Fernando Collor-AL, aliados próximos da presidente Dilma).

Jefferson e Cristiane agora vão conduzir gradativamente o partido para os braços do PSDB até 2018, seja Aécio Neves ou não o candidato a presidente. O tucano presidenciável foi quem iniciou durante a campanha deste ano a aproximação com Jefferson, em diálogo aberto com emissários dele e a vereadora que se tornou presidente. Assim como Lula e a presidente Dilma, Aécio conhece o poderio eleitoral do PTB: são 25 deputados (ganhou 4 nesta eleição) e 3 senadores (perdeu 3).

Não é um grande partido, mas passa longe de um pequeno. Mediano, consegue se valorizar. E negociar bem tanto com o PT quanto com o PSDB. 

Força x chineses

A Força Sindical começou a mobilizar as centrais CUT e CGT para investigar o consórcio que vai construir as linhas de transmissão da usina de Belo Monte do Xingu (PA) para Estreito (MG). Baseada na denúncia da Coluna de que a estatal chinesa State Grid pressiona o governo para burlar lei e contratar operários fora da CLT, o presidente da Força, Miguel Torres, acionou o deputado Paulo Pereira da Silva (SDD).

O Solidariedade vai apresentar requerimento na Comissão de Trabalho da Câmara dos Deputados para realizar audiência pública e convocar os executivos. O consórcio é liderado pela estatal chinesa (51%) e tem sócias Furnas (24,5%) e Eletronorte (24,5%). Os asiáticos querem que o governo aprove uma situação surreal para obras do PAC: que dois terços dos operários sejam chineses.

O governo tenta convencer os chineses de que a legislação brasileira exige a aplicação da CLT em todas Sociedades de Propósitos Específicos (SPE), como no caso dessa obra. Já os executivos asiáticos, em conversas com o governo, querem fazer do seu jeito – como em seu país – e alegam que aqui os custos trabalhistas seriam altíssimos, sem margem de lucro. A obra envolverá nada menos que 12 mil empregos diretos.

Protesto

Os grupos ‘Revoltados online’, ProVida DF e outros movimentos vão promover hoje, durante a posse da presidente Dilma, um protesto pacífico na Esplanada dos Ministérios. Pretendem reunir 300 manifestantes e vão distribuir centenas de adesivos com a frase “Não vamos nos dispersar”. Levarão também cartazes com os dizeres “Dilma, você não nos representa”. 


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