“A gente atua na política sempre que busca sobreviver”, diz Marielle Franco em entrevista de 2017 exibida nesta sexta (27) na Flip, dia em que completaria 39 anos.
O rosto da vereadora carioca morta em março preenche o telão na Casa de Cultura Paraty. Não é só na conversa exibida postumamente que #MarielleVive, como diz a hashtag-símbolo de um movimento que pede respostas para a sua morte -quem a matou e por quê?
Questões que ocupavam a vereadora do PSOL encharcam também o debate em torno da coleção Feminismos Plurais (ed. Letramento), organizado pela filósofa Djamila Ribeiro.
Durante o mestrado, conta Djamila, ela nunca estudou nenhuma mulher (negra ou não). Tampouco filósofos negros foram discutidos em sala de aula.
“Não é que a gente não produz. O problema é a invisibilidade dessa produção”, diz.
Pois pensadores negros existem e às pampas. Alguns se juntaram a Djamila na conversa, como Juliana Borges, que para a coleção escreveu “O Que É Encarceramento em Massa?”.
“Na universidade achava que ia ter descanso da política, e foi justamente quando se discutia a entrada da polícia no campus”, conta Juliana, moradora da periferia paulistana que estudou na USP, onde se avaliou a presença da PM após uma onda de crimes, em 2015.
Empoderamento, conceito e prática
A Joice Berth pediu-se uma resposta para a questão presente no título de sua obra, “O Que É Empoderamento?”. Essa é difícil, reconhece a mediadora, para risos da mesa e da plateia.
“Ao contrário do que tem sido colocado por aí, não é um conceito fácil de entender nem de se colocar em prática”, diz Joice. É sobretudo um processo pelo qual grupos minoritários em busca de equidade social precisam passar “para que se chegue de fato ao empoderamento”.
E parte desse processo inclui despir-se de estereótipos que insistem em colar ao negro, afirma.
Por exemplo, é comum dizer que mulheres negras são “as loucas raivosas, as barraqueiras”, lembra a mediadora.
Pois é preciso “não cair nessa armadilha de acreditar que a gente é assim”, diz Joice. “As pessoas continuam falando que a gente não é minoria, é maioria, pois somos mais de 50%”, prossegue, falando sobre a prevalência de mulheres no Brasil.
Mas é importante entender que a minoria, no caso, é social: aqueles que têm menos direitos do que certo grupo. “Poucos de nós conseguem furar esse bloqueio.
Eu, que sou preta mais escura, desde criança sei o que somos porque tem o coleguinha que nos xinga na escola.”
No livro “Quem Tem Medo do Feminismo Negro?” (Companhia das Letras), Djamila conta que ficava isolada na hora do recreio e que “os meninos diziam na minha cara que não queriam formar par com a ‘neguinha’ na festa junina”.
Para a filósofa, “até a própria militância usa de forma equivocada” conceitos caros ao debate, quando dizem, por exemplo, “cala a boca porque você não tem lugar de fala” a um homem branco.
Todos têm lugar de fala, diz. O importante é entenderem qual é. O homem branco, por exemplo, precisa aprender a falar a partir de sua posição no tabuleiro social.
“Ele não se marca como sujeito que também é posicionado na estrutura.” Muitos acham que neles se aplica o selo universal de “ser humano”, deixando de entender que, como homens brancos, têm uma visão formada a partir dessa pele social.
E muito cuidado com a internet, diz Djamila. “Gosto das redes sociais, sou muito atuante nelas, mas há muita superficialidade em temas muito complexos. Não é porque o Facebook está perguntando o que a gente está pensando a gente tem que responder, né? Se você tá na internet falando besteira, tem como pesquisar [o assunto] no Google.” (Folhapress)
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