O empresário goiano Edmundo Pinheiro assumiu recentemente a presidência do Conselho Diretor da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) para o biênio 2025/2027. Ele, que já presidia o Conselho de Inovação da NTU, assumiu com o mote: “Cidades para pessoas, não para carros”. Em entrevista exclusiva ao Diário de Goiás esta semana, ele disse que a COP30, no Pará, precisa ter o transporte coletivo entre suas principais pautas.
Ao editor-geral do DG, jornalista Altair Tavares, Pinheiro afirmou que o transporte coletivo brasileiro vive um momento decisivo de transformação, e que Goiânia tem sido protagonista nesse processo. Com foco em modernização, sustentabilidade e inclusão social, Edmundo assumiu defendendo uma nova abordagem para o transporte público, com forte presença do poder público e governança integrada.
Na entrevista a seguir, ele compartilha sua visão sobre o futuro da mobilidade nas cidades brasileiras e destaca o papel estratégico de Goiânia como referência nacional.
Altair Tavares – O senhor assumiu, recentemente, a presidência da Associação Nacional de Transportes Urbanos. Desde alguns anos, já temos percebido que há muitas novidades no transporte coletivo no Brasil. O que está acontecendo em Goiânia seria precursor dessa parceria entre o poder público e empresas?
Edmundo Pinheiro – O transporte público coletivo, desde 2013, passou por um processo de encolhimento em todo o Brasil. Praticamente desde as grandes cidades, até as pequenas cidades, houve um aumento do transporte individual com uma redução dos modos coletivos. Isso levou o setor a uma crise, e na pandemia isso se agravou. Mas, desde a pandemia, várias cidades, por exemplo, em Goiânia, têm buscado alternativas exatamente para que o transporte público seja revitalizado, porque há uma constatação, não é só no Brasil, hoje isso é em todo o planeta, que não existe uma solução sustentável para as cidades que não seja uma mobilidade apoiada nos modos coletivos.

Cada vez mais quando o transporte coletivo perde relevância na matriz de mobilidade, isso agrava as condições de trânsito, as condições de circulação, por isso que não há caminho para as cidades que não seja investir no transporte público coletivo de qualidade. E é isso que esse projeto Nova RMTC busca, promover uma grande transformação, uma qualificação do serviço para que ele fique mais atrativo, mais competitivo e possa ter uma participação maior na matriz de mobilidade da cidade, contribuindo para uma mobilidade mais sustentável e que a cidade, os espaços públicos possam ser devolvidos às pessoas, não sejam ocupados por inteiro pelos automóveis.
Altair Tavares – O crescimento da percepção sobre a qualidade do transporte coletivo em todo o Brasil tem sido como?
Edmundo Pinheiro -É um consenso entre todos os especialistas e todos que lidam com o transporte público, que é uma necessidade melhorar a qualidade do serviço. O transporte público, em razão dessa crise desde 2013, ele se degradou, ele perdeu oferta, perdeu qualidade e não há outro caminho para a sua recuperação, que é exatamente a sua modernização para que a gente possa entregar um serviço à população de mais qualidade e também de maior eficiência.
Altair Tavares – Nos grandes centros urbanos, a complexidade da infraestrutura das cidades está elevando obrigatoriamente para as pessoas. No futuro vai levar as pessoas obrigatoriamente para o transporte coletivo?
Edmundo Pinheiro – Sem sombra de dúvida. Eu acabei de vir agora, há um mês atrás, de um grande evento internacional, promovido pela União Internacional de Transportes Públicos, que reuniu em Hamburgo, na Alemanha, 5 mil especialistas dos cinco continentes, e é consenso entre todos os especialistas nas principais cidades do planeta, especialmente nas cidades mais desenvolvidas, a importância de se investir em transporte público de qualidade. Isso tem sido uma prioridade nas cidades europeias, na Ásia. Nos Estados Unidos, só hoje tem mais de 100 projetos de BRT, como esse que a gente está vendo aqui em Goiânia.
Então é um consenso, de fato, global de que as cidades precisam investir em transporte público, sob pena de agravar as questões ambientais, agravar as questões de circulação e, na verdade, degradar a própria qualidade de vida. O nosso lema tem sido: a cidade tem que ser para as pessoas e não para os automóveis e para isso a gente precisa e depende de um transporte público eficiente.
Altair Tavares – Na COP30 há espaço para debater esse assunto?
Edmundo Pinheiro – Sem dúvida. Na COP30 e em outros grandes eventos internacionais, o transporte é visto como um dos principais indutores para a questão da sustentabilidade ambiental. Hoje, com a chegada de novas tecnologias, como os ônibus elétricos e também os ônibus movidos a gás e biometano, são instrumentos poderosos para contribuir para a redução da emissão de poluentes e também, na medida que o transporte coletivo ganha maior participação na mobilidade, há uma redução dos modos individuais, que são modos bastante poluentes. Hoje, para você ter uma noção, um ônibus articulado de 26 metros de comprimento elétrico polui menos que uma motocicleta de 125 cilindradas.
É um exemplo concreto disso, sem contar outros benefícios que vão além da questão ambiental, mas da própria qualidade de vida para as pessoas nas cidades.
Altair Tavares – Em Goiânia, especificamente, o Governo Federal e a Prefeitura investiram no BRT, o Governo Estadual e também Prefeitura investiu no sistema, no geral, mas em outras cidades, em outros locais, essa presença do Governo Federal, ela é notada ou seria essencial que houvesse uma reorganização do orçamento federal para o transporte?
Edmundo Pinheiro – Nós temos conversado com o Governo Federal. Eu mesmo, na semana passada, fui recebido pelo Secretário Nacional de Mobilidade do Ministério das Cidades. Temos discutido exatamente uma agenda nacional para o transporte público, mas a gente precisa constatar que não há uma política nacional hoje, no atual governo, e mesmo no governo passado, voltada ao transporte público. O Governo Federal se afastou por inteiro das políticas públicas voltadas a promover o transporte público, o que existe são apenas algumas ações pontuais voltadas a financiamento para a aquisição de veículos e para infraestrutura. O pouco que já é feito é muito relevante, o exemplo está aqui o BRT Norte, Sul de Goiânia que foi contemplado pelo Pacto da Mobilidade nesses últimos 10 anos, mas ainda assim é muito pouco.
O que a gente precisa, verdadeiramente, é de uma política nacional para o transporte público, para as cidades brasileiras em que o transporte público seja tratado como uma prioridade e nesse sentido a gente possa ter todos os entes federativos, da União aos Estados e Municípios somando esforços. Goiânia traz um grande exemplo. nós vamos ter aqui dia 28 a reunião da Frente Nacional de Prefeitos e sempre Goiânia é muito comentada pela sua governança metropolitana. É uma cidade que conseguiu construir um arranjo inter-federativo no qual é possível a soma de esforços de maneira unificada e integrada do Estado e dos municípios da região metropolitana e essa governança metropolitana que propicia investimentos como a gente está assistindo aqui.
E é um exemplo do que precisa ser feito, por exemplo, no entorno de Brasília. O entorno de Brasília vive um problema de transporte dramático e o maior problema da região do entorno do Distrito Federal, onde você tem um milhão e meio de pessoas que em grande parte trabalham em Brasília, mas estão com uma situação extremamente precarizada, gastando às vezes duas, três horas. De alto custo.
De altíssimo custo. Para você ter uma ideia, em quanto a tarifa em Goiânia é R$ 4,30 com muitos benefícios tarifais, [enquanto] na região do entorno com uma tarifa muitas vezes acima de R$ 10,00 e com poucos benefícios tarifais, como o bilhete único, passe livre estudantil. Então são exemplos de que esse modelo, essa governança metropolitana é um exemplo que Goiânia tem para o Brasil, não é por outra razão que a Frente Nacional de Prefeitos estar se reunindo aqui para aproveitar dessa experiência aqui da região metropolitana de Goiânia, que atualmente tem o projeto Nova RMTC, liderado pelo Governo do Estado, mas com enorme comprometimento e participação do município de Goiânia e de municípios da região metropolitana, como a gente viu aqui em Senador Canedo com uma participação muito ativa, mais parecida de Goiânia e outros municípios se somando ao Estado e à capital para a solução e o avanço desse problema.
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