07 de agosto de 2024
Política

Na Tribuna – Eleição 2014: A dificil arte de renovar

A disputa eleitoral para o governo de Goiás não deve sair da repetida polarização entre Iris Rezende (PMDB) e Marconi Perillo (PSDB), relata reportagem do Tribuna do Planalto. Assim, o clima de renovação na política, de outros lugares, não deve se apresentar em Goiás.

A avaliação do cientista político Itami Campos é esclarecedora: “A política em Goiás é baseada em estruturas conservadoras, fruto ainda do coronelismo e de uma visão tradicional. A capacidade de mudança é mínima, pois a própria população tem uma visão clientelista”.

O Diário de Goiás recomenda a leitura: 


A difícil arte de renovar

Por Daniel Gondin, Tribuna do Planalto (Ed. 1366, 10 a 16 de fev.13)

Polarização histórica deve se repetir em 2014. Conservadorismo e falta de participação popular contribuem para dificuldades de mudança

A corrida ainda está no começo, mas o cenário deixa poucas esperanças de que haverá renovação no Palácio das Esmeraldas após as eleições de 2014. Mesmo com desgastes naturais trazidos pela longevidade no poder, o governador Marconi Perillo (PSDB) e o ex-prefeito de Goiânia Iris Rezende (PMDB) ainda são os nomes mais fortes na base aliada e na oposição, respectivamente. A terceira via, ainda que em processo de crescimento, terá dificuldades de apresentar novidades e se mostrar como algo diferente dos outros dois grupos.
Cientistas políticos ouvidos pela Tribuna listam motivos para a dificuldade de renovação no Estado. Segun­do eles, o modelo histórico de polarização é uma característica e, mais do que isso, ainda não se esgotou. “Pelo modo como se apresenta, a eleição em Goiás é uma competição fechada entre dois partidos. Não há multipartidarismo, não há diversidade econômica ou social para estimular uma mudança mais profunda”, define a cientista política da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), Maria do Socorro Braga.
“A política em Goiás é baseada em estruturas conservadoras, fruto ainda do coronelismo e de uma visão tradicional. A capacidade de mudança é mínima, pois a própria população tem uma visão clientelista”, explica o cientista política e professor aposentado da Universidade Federal de Goiás (UFG), Itami Campos.
Desde 1982, ano em que foi realizada a primeira eleição direta após a ditadura militar, Goiás só conheceu governadores de três partidos (veja quadro). Até 1998, o PMDB, liderado por Iris Rezende, reinou soberano no Estado. Naquele ano, porém, os peemedebistas viram a união da oposição em torno de Marconi, que venceu o ex-prefeito de Goiânia, dan­do início ao reinado do PSDB. Em 2006, Alcides Rodrigues, do PP, acabou eleito, mas apoiado pelo tucano, de quem era vice.

Dificuldades

O primeiro fator que dificulta a renovação é a força dos dois principais líderes. Iris e Marconi são referências em seus respectivos grupos, e a atuação de ambos inibe a formação de novas lideranças. “É um tipo de política que gira em torno de polos. Isso é um quadro de sustentação que já está formado. Iris e Marconi não vão jogar poder fora, ninguém joga. Poder é para ser conquistado”, analisa Itami.
Nesse sentido, a dificuldade de renovação aconteceria não só pela atuação dos dois, mas também pela falta de atitude de novas lideranças em potencial. Em vez de buscar o vácuo de poder, elas preferem ficar à sombra do tucano e do peemedebista, em uma posição de conforto.
Além disso, as características socioeconômicas de Goiás também não contribuem para uma maior renovação na política. Muito ligado à agropecuária, a política no Estado ainda é feita de forma tímida e por grupos pequenos. “É um sistema oligárquico que impede a formação de novas lideranças. Não é tão democrático, pois as outros segmentos não tem força suficiente para ser representado”, analisa Maria do Socorro.
Uma solução para aumentar a oxigenação na política de Goiás seria uma maior participação popular, além do envolvimento do setor empresarial, que cresce a medida que avança a industrialização no Estado. O fato, porém, é que isso ainda não acontece. “O setor empresarial, que poderia ter maior participação, também aposta na política tradicional. Além disso, falta uma maior participação popular, com envolvimento real”, critica Itami.

Terceira via

A alternativa para a polarização entre PSDB e PMDB seria a chamada terceira via. Atualmente, ela é materializada na união do deputado federal Ronaldo Caiado (DEM) com o ex-prefeito de Senador Canedo, Vanderlan Cardoso (sem partido). Em outras épocas, houve tentativas de quebrar a dicotomia, mas nenhuma delas deu certo.
O próprio Vanderlan foi candidato em 2010 sob o discurso do “diferente”. Ele teve mais de 500 mil votos, em um desempenho razoável, mas não chegou a ameaçar Iris e Marconi. Em 2006, Demós­tenes Torres (DEM) e Barbosa Neto (PSB) tentaram romper a polarização, mas também não foram bem sucedidos. Em 2002, Marina Sant´anna (PT) também havia tentado, mas sem sucesso.
A grande dificuldade da terceira via, segundo Maria do Socorro Braga, é conseguir mostrar ao eleitor, já acostumado à polarização, que há outras opções. “O principal desafio da terceira via é mostrar isso ao eleitor e quebrar esse status quo”, argumenta a cientista política. Ainda assim, caso Caiado e Vanderlan consigam mesmo “cair no gosto” do eleitorado, a oxigenação poderá não ser tão real.
O argumento é que o democrata faz parte de um grupo conservador, formado pela elite rural do Estado. Com cinco mandatos na Câmara dos Deputados, Caiado já possui bandeiras mais do que definidas na forma de atuação. Vanderlan, por sua vez, é até uma liderança relativamente nova, com trajetória a ser construída. Ainda assim, o ex-prefeito de Senador Canedo não poderia ser considerado como uma renovação, já que, nas concepções políticas, não apresenta grandes novidades.

A história da polarização política goiana

 

P1 - Iris Rezende - Humberto Silva

Iris Rezende (PMDB)* – de março de 1983 a fevereiro 1986
* Em 1983, o peemedebista, que já tinha sido prefeito de Goiânia, conseguiu apoio popular por sua participação na campanha das Diretas Já. Vencedor, Iris investiu maciçamente na infraestrutura do Estado. Até hoje, é lembrado pelo grande volume de obras, especialmente no setor rodoviário.
* Henrique Santillo (PMDB) – de março de 1987 a março de 1991
* Senador por Goiás durante oito anos, Santillo foi escolhido para ser o sucessor de Iris, de quem era aliado na época. Na esteira da popularidade do antecessor, o peemedebista conseguiu ser eleito e teve participação importante na divisão do Tocantins, que ocorreu em 1989.
Iris Rezende (PMDB) –  de 1991 a 1994
* Depois de ser ministro da Agricultura no governo de José Sarney, Iris decidiu se candidatar ao governo em novamente em 1991. Rompido com Santillo, o peemedebista consegui vencer novamente e comandou o Estado, voltando a investir em infraestrutura.
* Maguito Vilela (PMDB) – de 1995 a 1998
* Vice na gestão anterior, Maguito foi eleito graças à influência de Iris. O peemedebista apostou em uma gestão voltada para a assistência social. Poderia ter tentado a reeleição em 1998, mas acabou candidato ao Senado. Iris disputou o governo, mas foi derrotado, pondo fim a 16 anos de domínio do PMDB.


P1 - Marconi Perillo - Wesley Costa

* Marconi Perillo (PSDB) – de 1999 a 2002
* A vitória do tucano em 1998 marcou o fim da hegemonia peemedebista e o início da dinastia tucana em Goiás. Com dificuldades até o terceiro ano da gestão, Marconi conseguiu deslanchar o governo com investimentos na chamada rede de proteção social. No ano seguinte, saiu atrás na corrida eleitoral, mas conseguiu a virada, sendo reeleito.    
* Marconi Perillo (PSDB) – de 2003 a março de 2006
* O segundo mandato foi marcado pela alta popularidade. Ainda colhendo os frutos dos programas da primeira gestão, Perillo aproveitou para fazer grandes investimentos em Goiás e preparar o sucessor. Em 2006, concorreu ao Senado e venceu com mais de 75% dos votos válidos.
* Alcides Rodrigues (PP) – de abril de 2006 a 2010
* Vice de Marconi nas duas administrações anteriores, o pepista saiu atrás nas primeiras pesquisas, mas, pegando carona na popularidade do tucano, conseguiu a virada. Durante a gestão, porém, houve desentendimentos com Perillo, causando um rompimento definitivo entre ambos.
* Marconi Perillo (PSDB) – de 2011 a 2014
* Em 2010, ocorreu o segundo round da disputa entre Marconi e Iris. Eleito senador em 2006, o tucano disputou o terceiro mandato e saiu vencedor. Durante os primeiros dois anos da gestão, porém, teve dificuldades administrativas e políticas. Por isso, a tentativa de reeleição em 2014 ainda é uma incógnita.


Alternância é parcial em outros estados

Em outros Estados, a dificuldade de renovação existe, mas em menor escala. A explicação pode estar no formato político brasileiro, reforçado ainda mais desde a possibilidade de reeleição, em 1998. “A política brasileira funciona assim também, é só você ver o Renan Calheiros na presidência do Senado. A reeleição não permite que se tenha uma renovação efetiva”, explica Itami.

Em São Paulo, por exemplo, seis governadores diferentes foram eleitos para comandar o Estado desde 1983. No entanto, como em Goiás, PMDB e PSDB também se revezaram no poder, com três chefes do Executivo paulista cada. Em Minas, sete nomes já comandaram o Estado, com peemedebistas e tucanos se alternando no comando. Em uma oportunidade, o extinto PRS saiu vitorioso.
No Rio de Janeiro, houve seis governadores no período, embora com uma variação maior de partidos, já que PDT, PMDB, PSB e PSDB conseguiram sair vitoriosos no Estado desde a redemocratização.
A grande referência em renovação é mesmo o Rio Grande do Sul, que viu oito governadores em um período de trinta anos. Mesmo com a possibilidade de reeleição, a partir de 1998, os gaúchos nunca reelegeram ninguém, vendo cinco partidos se revezarem no poder durante o período.
Apesar da grande renovação, os gaúchos não devem ser considerados, para efeito de comparação com outras unidades da federação, especialmente Goiás. A avaliação é do cientista política Itami Campos, que considera a história política do Rio Grande do Sul única e, por isso, determinante para essa característica.
“O Rio Grande do Sul não serve de comparação. É um Estado de fronteira, que sempre teve que brigar muito por sua independência e tem um povo muito lutador ao longo da história. Isso criou uma cultura política muito maior do que nos outros lugares”, define ele, que é taxativo ao eleger um modelo comparativo para a política goiana. “A nossa política é uma política mineira piorada”, resume.


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