07 de agosto de 2024
Política

“A campanha de Gomide ficará baseada na experiência dele”

 

Candidata ao Senado pelo PT, Marina Sant’Anna admite desgastes em Goiânia, mas diz que isso não afetará a campanha do candidato Antônio Gomide (PT). Acompanhe a entrevista concedida a equipe do Jornal Tribuna do Planalto.

 

Com a definição das coligações e das candidaturas ao governo de Goiás, a Tribuna inicia nesta semana uma série de entrevistas com candidatos das chapas majoritárias nas eleições deste ano. A primeira entrevistada é a candidata ao Senado pelo PT e suplente de deputada federal Marina Sant’Anna. Marina, que já foi candidata ao governo de Goiás em 2002, fala sobre aparecer em pesquisas na segunda colocação da preferência do eleitor no pleito deste ano, sobre a candidatura de Antônio Gomide, sobre a necessidade de mudança na legislação para inserção de mulheres e negros no Congresso Federal. Ela ainda classificou como ‘esgotado’ o projeto político de Marconi Perillo. Confira.

Tribuna do Planalto – A senhora foi indicada como candidata ao Senado na chapa de Antônio Gomide, uma chapa pura do PT. Qual a perspectiva?
Marina Sant’Anna – Quando falamos em puro sangue eu acho elogiável. A legislação faz com que todos os partidos procurem se agregar com outros por causa do tempo de televisão e rádio, substancialmente, e isso daí é um tanto prejudicial. A motivação para alianças tem sido o tempo de televisão e os partidos que não tem um tempo de televisão não tem sido tão disputados. O PT tem um tem um tempo de televisão e de rádio suficiente para poder fazer a disputa. Existem muitas personalidades que apoiam Dilma Rousseff, mas cabe ao PT que é o partido dela, fazer a grande defesa do seu governo e também do governo Lula. Por isso iremos trabalhar nessa perspectiva. O Gomide hoje tem um portfólio muito importante que é começar pequenininho lá em Anápolis e sair de lá gigante, com aprovação de 92% o referendado como melhor prefeito que Anápolis já teve. Traremos também todos os programas sociais, a linha de desenvolvimento do governo federal e o êxito do próprio governo Gomide em Anápolis. No meu caso, como a campanha é apenas para uma vaga ao Senado, ela irá se pautar no que nós entendemos ser o papel do Senado e a defesa da posição dos projetos e programas apresentados pelos governos Dilma e Lula. Quero demonstrar que é importante ter uma pessoa do PT presente ali no Senado para beneficiar Goiás. Dilma é republicana, mas, sem dúvida nenhuma, havendo uma identidade política isso colabora muito mais.

Dentro das pesquisas recentes, o seu nome aparece na segunda colocação, à frente de Vilmar Rocha (PSD), mas atrás de Ronaldo Caiado (DEM). A sra. acredita que possa haver ai uma polarização entre os dois nomes e, se houver, quais seriam os motivos?
Eu até tenho estudado essas pesquisas que estão sendo publicadas e algumas outras que eu tenho acesso, porque disputo com dois deputados federais de longa data. Eles têm visibilidade pública antiga e estão há pelo menos quatro anos dizendo que são candidatos ao Senado, o que não é o meu caso. Eu apresentei meu nome ao partido e esperei. Somente na última semana que tive a confirmação da minha candidatura. Transferência de votos de eleitores da Dilma e mulheres também gostariam de votar em mulheres, por exemplo, são fatores que justificam eu estar em segundo lugar nas pesquisas. Acredito também que uma parte também tem a ver com o recall da minha vida política. Tenho 55 anos e desde os 17 participo de atividades coletivas. Fui candidata a governadora, fui vereadora três vezes em Goiânia, tive várias participações e por último tive três anos na Câmara Federal. Como deputada, tive muita atividade conjunta com o Senado entre comissões especiais, CPMI da Violência Contra a Mulher… Isso colaborou muito.

A insatisfação entre alguns correligionários do PMDB e do DEM pode ajudar a sra. uma vez que esses partidos historicamente não se aglutinam?
Eu acredito que existe esse fator sim. Há pessoas dos dois lados que não gostariam de reforçar a liderança da coligação que o PMDB montou. Alguns têm preferência para que ele seja derrotado e ainda há quem prefira dar a Dilma uma candidatura mais próxima dela. Muitos prefeitos são altamente agradecidos a ela porque o município que se moveu minimamente recebeu pelo menos máquinas, unidades de saúde, recursos… Os prefeitos elogiam essa postura apesar de quererem um novo pacto federativo. Com isso, muitos preferem oferecer a Dilma um perfil de parlamentar de sua confiança no Senado.

Dilma ajudou muito Marconi Perillo liberando milhões e milhões de recursos tanto em obras quanto empréstimos para o Estado. Muitos elogiam seu republicanismo, mas oposicionistas reclamam que os valores foram muito altos. Como analisa isso?
Quando você ocupa um cargo que tem bastante impacto na vida das pessoas, você minimiza a disputa eleitoral ou disputa pontual em cada lugar. É obrigação. A presidenta da República tem uma obrigação com os cidadãos do país. As questões que devem passar por parceria com o governo do Estado ou com a prefeitura, não podem ter impedimento pelo fato de ter partidos diferentes ou até de receber criticas, cada um tem que fazer sua parte. O governo federal tem suas obrigações, assim como o estadual e o municipal tem a suas obrigações, não tendo como fracionar isso. Não há como deixar de dar atenção a uma demanda porque a população é prejudicada. Tanto que o próprio governador fez rasgados elogios à presidenta Dilma. Não podemos pegar o poder central do país e tratar os cidadãos como se fossem cidadãos diferenciados em função de quem eles elegeram para governador e prefeitos.

 

Mas esse republicanismo é recíproco do governador com os prefeitos?
Existem muitas críticas nesse sentido. Tenho ouvido muitos prefeitos falando da dificuldade que às vezes encontram de fazerem oposição no Estado. Muitos acabam optando por um partido “neutro” para que possa ter relação com o governo estadual, independente de quem seja. Acho que uma parte do nascimento de alguns partidos mais recentes tem a ver com isso, porque os prefeitos eleitos acabam procurando se viabilizarem para ter os recursos necessários, como asfalto, educação, etc.

A prefeitura de Goiânia sofreu com esse fato?
No caso de Goiânia acho que a prefeitura tem onerado há muito tempo uma responsabilidade que não é propriamente dela. Foi criada, com o apoio de todos os municípios, pela Assembleia Legislativa, a Região Metropolitana e muito do que é de responsabilidade de toda essa região, como o transporte coletivo, por exemplo, fica parecendo que é apenas da prefeitura de Goiânia. Sua responsabilidade é proporcionalmente maior, mas cabe ao Estado dar as condições objetivas para que isso funcione. Mobilidade é um direito fundamental do ser humano. Isso não é uma coisa para se levar para disputa partidária.

E na questão da segurança pública? Houve tentativa de divisão do ônus da crise na segurança por parte do governador com o prefeito de Goiânia?
Existe um sistema nacional de segurança pública que reparte responsabilidades, mas a responsabilidade central é do governo do Estado. Ele precisa tratar com os prefeitos, mas assumindo a responsabilidade principal. Cabe à União oferecer recursos para presídios. Cabe também ao Poder Judiciário fazer sua parte, o Ministério Público fazer sua parte e as prefeituras também fazerem suas partes principalmente no que tange as polícias comunitárias. Mas o gestor central da segurança é o governo do Estado.

Existem muitas críticas de que obras estaduais realizadas com recurso federal não vêm recebendo o devido crédito. Falta exposição maior disso?
Eu acho que falta. Houve um momento no governo Lula que isso não estava sendo percebido. Com a chegada do Franklin Martins ao governo, passou-se a investir mais em publicidade institucional nas mídias regionais que é uma obrigação constitucional de todo o setor público. Aplicar a transparência e explicar onde gasta o dinheiro. Isso é uma obrigação, é correto e precisa ser feito. O que acontece é que nesse primeiro momento do governo Dilma, houve novamente uma falta de aguçamento para essa questão de dar publicidade ao que se investe nos Estados. Hoje com o que nós temos de jornais, de rádios, de todas as dimensões em Goiás como nos demais Estados, merece uma atenção especial. É preciso fazer uma reverificação. Chegamos a conversar com o governo federal sobre essa necessidade. Falamos, inclusive, com os movimentos sociais representativos das mídias chamadas alternativas ou das mídias de menor público. É preciso regionalizar as mídias nacionais levando informação de como a União gasta os recursos para a sociedade. Hoje o cidadão encontra essas informações no site do governo. A internet é importante, mas não é suficiente para chegar a todas as pessoas.

As dificuldades que Paulo Garcia enfrenta hoje podem prejudicar a campanha de Antônio Gomide?
O Paulo é uma pessoa que se colocou como missionário sobre a prefeitura de Goiânia. Ele é uma pessoa honesta e eu acredito no Paulo como pessoa e como gestor. Mas Goiânia atravessa um período muito desafiador para ele e para a sua equipe. A superação de problemas de ordem financeira predispõe superar a máquina de cada município que não é adequada para os desafios administrativos contemporâneos. Todas as prefeituras deveriam ter uma consultoria para buscar recursos. Não adianta ir andando com um pires na mão em cada lugar. Isso não funciona mais. Temos que buscar casar os projetos nacionais com os projetos municipais. Esse cruzamento do projeto estadual dentro de um projeto nacional gera dificuldades. Esse é o desafio do prefeito Paulo Garcia. Buscar essa adaptação, investindo bastante no aspecto humano. Agora, a cidade tem problemas, mas é necessário também ver que há coisas boas. Converso com pessoas insatisfeitas, mas também converso com pessoas que dizem que melhorou a qualidade da saúde, por exemplo, com a chegada dos médicos do programa Mais Médicos. Goiânia precisava de uns 60 médicos e conseguiu mais de 40 e isso trouxe melhoras para o atendimento nas periferias. Goiânia é uma cidade fantástica. Tem uma arborização maravilhosa, muitos parques, muitos lugares para as pessoas passearem. Evoluímos bastante, mas a cidade pede mais. A cidade quer todo o conforto necessário e tem todo o direito de cobrar isso.

Mas em relação à eleição? Gomide conseguirá entrar em Goiânia mesmo com esses problemas?
Certamente vai ter gente questionando quando a gente for para a rua, e a resposta honesta que nós temos para dar é de que estamos trabalhando, ajudando para que esses problemas sejam superados. Agora a campanha do Gomide fica baseada na experiência dele. O Estado vai conhecê-lo melhor através dos programas, através da presença dele e saber qual a visão dele de gestão. Saber o porquê ele teve êxito em Anápolis.

Nós sabemos que PT estadual teve uma divisão já que o prefeito Paulo Garcia defendia a união com Iris Rezende no primeiro turno e que Gomide acabou lançando a candidatura pra acabar sendo ele o nome do PT ao governo. O PT seguirá unido na eleição?
Estamos em um momento em que terminamos as definições há uma semana. Ainda está muito recente, mas nós do PT fomos nos preparando pra esse momento. Poderíamos ter fechado com o PMDB, só que eles não tinham candidatos. Gomide precisava se desincompatibilizar. Não havia como colocar em debate uma candidatura de outro partido que não existia. Particularmente fico muito feliz em ter uma candidatura do PT. Fui a última candidata a governadora do PT. Acho que é importante ao PT, com a responsabilidade que tem no país, também protagonizar processos em Goiás. É importante para a sociedade verificar projetos diferenciados porque eles podem caminhar com mais visibilidade. Sem querer polemizar como é que se deu a nossa historia em conjunto, mas eu acho que é bom pro PMDB, é bom pro PT e é bom para os demais partidos que nós ganhemos visibilidade e protagonizemos também o nosso espaço de ação política.

Há a possibilidade de se fazer uma reforma política no Congresso, já que os deputados são os maiores prejudicados? Como fazer isso?
Como eu fiquei por três anos, tive a oportunidade de observar o que me parece possível e o que não me parece possível. Por exemplo, hoje existem 9% apenas de mulheres na Câmara Federal. Isso significa que no mínimo 91% se sentem incomodados quando nós tratamos da equiparação do numero de homens e mulheres no congresso de acordo com o IBGE. Então se há a mudança de legislação para que tenha uma harmonia maior, você já atinge o interesse de muita gente lá dentro. E eles dizem que não vão votar, porque terão que ceder a metade das vagas para mulheres, por exemplo. Não seria só vaga da campanha, por exemplo. Seria a vaga no congresso. E há muitos outros assuntos, como financiamento de campanhas, maior número de negros e negras no parlamento. Os mais velhos também olham com desconfiança para uma reforma política que possa contemplar os mais jovens. Há a desconfiança sobre índios, que poderiam ter mais espaço na política… Como o trabalhador assalariado vira um vereador se a campanha pode chegar a custar, em cidades pequenas, uns R$ 200 mil? Como é que ele é que chega? Ou então para chegar a ser um deputado federal, se não tiver R$ 5 milhões não adianta pensar em começar. Então não pode ser assim. Só que quem está lá, está confortável. Pelo menos a maioria. Por isso eu sou militante da proposta tanto do plebiscito quanto de uma constituinte exclusiva.

Nos bastidores muito tem se dito sobre o fato do PT perder dois nomes como o da sra. como o do vereador Tayrone, à Câmara dos Deputados. Ficou a impressão que por conta do partido, vocês perderam dois nomes muito fortes para a Câmara?
Eu tomei a decisão de apresentar meu nome para o Senado. Já havia ficado um tempo na Câmara Federal e acho que precisamos ampliar o número de parlamentares. Temos bons nomes. De cara já apresento o de Rubens Otoni que já é deputado federal muito bem votado. Aparece também o nome de Olavo Noleto, que há onze anos faz um trabalho com prefeitos, vereados e lideranças no Brasil. Entra também o professor Edward Madureira, ex-reitor da UFG, uma pessoa muito bem quista e elogiada. Tem o deputado estadual Mauro Rubem que é uma pessoa muito ligada aos direitos humanos e aos movimentos sociais. Enfim, temos outros parlamentares. Não faz falta nós não estarmos ali.

O projeto de reeleição de Marconi Perillo é um projeto que já esgotou?
Eu acredito que sim. Quando o Iris Rezende saiu, em 1998 nós votamos no Marconi, por entender que o projeto de Iris havia sido esgotado. E não é um esgotamento só do nome da pessoa, é de concepção da gestão, do modo como pensa no desenvolvimento do Estado. Problemas graves que vão se agravando e não são resolvidos. Naquela época nós fizemos essa opção, mas não participamos do governo do PSDB. Agora o meu entendimento é que isso aconteceu novamente. Tem as mesmas gestões continuadas, a mesma visão de desenvolvimento. Estamos em um Estado que tem um peso muito grande com o PIB na área rural, mas que ao mesmo tempo não distribui renda, não tem programas que cheguem de fato ao cidadão a não ser os programas do governo federal. Esse modelo que está no governo 16 anos, de fato, precisa partir para outra. Veja no caso da segurança pública: há um ano, um ano e meio quando houve uma greve da polícia civil, eu fui para entorno do DF e andei por alguns municípios. Participei de algumas audiências públicas. Naquele momento, já há praticamente dois anos, tinham 10 mil inquéritos policiais parados. Em uma região pobre, com dificuldades estruturais de todo nível, com o crime organizado avançando, tráfico, etc, você se depara com 10 mil inquéritos paralisados, 40 mil mandados de prisão que não estavam sendo cumpridos… Isso precisa mudar. Eu fui, pela Comissão de Violência contra a Mulher, percorrendo algumas regiões como em Formosa, por exemplo. O IML de Formosa atende mais de 30 cidades, algumas que fazem divisa com o Tocantins e Bahia. Como uma mulher vítima de estupro no nordeste goiano vai até lá? Não vai. Conversamos que um Juiz que disse que não possui estrutura necessária para diminuir os crimes. Isso é um exemplo da estagnação. Para mim esgotou.

 


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