Um levantamento realizado pelo Datafolha mostra que 74% dos estudantes da redes públicas municipais e estaduais do Brasil estão recebendo algum tipo de atividade não presencial durante a pandemia. Entre os estudantes do ensino médio, esse número chega a 85%. A pesquisa sobre o ensino a distância no país foi encomendada pelo Itaú Social, Fundação Lemann e Imaginable Futures.
Pelos dados apresentados, o maior déficit de atividades EaD é no ensino fundamental 1, onde 33%, ou um terço dos estudantes, não receberam atividades durante o período de restrições pela Covid-19. (Vide gráfico abaixo).
A pesquisa mostra que grande parte dos estudantes acessam essas atividades por meio de dispositivos eletrônicos, como celulares, computadores, televisão ou rádio (71,5%). Por outro lado, 2,7% recebem apenas material impresso.
Apesar da distância, 50% dos pais ou responsáveis veem que os estudantes estão evoluindo no aprendizado. Este dado é maior no fundamental 1 (56%) e menor no médio (44%). O temor de evasão escolar por conta do EaD atinge 31% dos pais. Há ainda a avaliação, de 58%, de que é muito difícil para as crianças, sob sua responsabilidade, manter a rotina de estudos, esse fato é ocasionado principalmente pela falta de tempo dos adultos e as dificuldades que sentem para explicarem o conteúdo aos pequenos.
Cerca de 84% dos alunos dedicam mais de uma hora por dia aos estudos. Segundo pais, mães ou responsáveis, 82% das crianças e adolescentes estão realizando a maioria das atividades propostas.
Para Lucas Rocha, gerente de inovação da Fundação Lemann, é preciso destacar que as escolas públicas estão conseguindo ofertar atividades a distância em um período curto de tempo e enfrentando todas as dificuldades que o momento impõe. “Contudo, a pesquisa também aponta para problemas estruturais como o acesso à internet e a dispositivos, que precedem a situação de pandemia, e que intensificam a desigualdade ao ainda deixar um em cada quatro alunos sem acesso às atividades remotas”, avalia.
O gerente de inovação da Fundação Lemann pontua aspectos que as redes de ensino públicas têm que dar maior atenção. “Não existe uma única solução. As redes públicas devem lançar mão de um conjunto de estratégias para chegar ao maior número de alunos possível. Unir a oferta de materiais didáticos impressos com estratégias on-line e pela televisão tem se mostrado a maneira mais efetiva de chegar nos alunos que mais precisam”, diz.
Desigualdades regionais e socioeconômicas
O estudo escancara as desigualdades regionais em relação à oferta de Ead. Na região Norte do país, por exemplo, pouco mais da metade dos alunos receberam atividades escolares durante a pandemia (52%). Na região Nordeste, esse número chega a 61%. Nas demais regiões, os percentuais são: Centro-Oeste (80%), Sudeste (85%) e Sul (94%).
Do total de pessoas que responderam a pesquisa, 24% dos estudantes das redes públicas não receberam nenhum tipo de atividade não presencial na pandemia. Essas crianças e adolescentes são, na maioria, moradoras de favelas ou comunidades (57%), estudam em escolas municipais (67%), cursam o ensino fundamental (90%) e são pretas ou pardas (60%). 42% residem na região Nordeste e 22% no Norte do país.
Outro ponto importante do levantamento é o acesso dos estudantes à internet. Mais uma vez, as desigualdades regionais são grandes. Enquanto nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste os estudantes com internet banda larga são, respectivamente, 71%, 65% e 65%, na região Norte apenas 37% declararam ter internet, e 53% no Nordeste.
O levantamento foi realizado entre 18 e 29 de maio em todo o Brasil, por meio de ligações telefônicas. Os números de telefones celulares foram escolhidos de forma aleatória por meio de sorteio. Foram feitas 1.028 entrevistas com pais, mães ou responsáveis por 1.518 alunos da rede pública de ensino. A margem de erro máxima para o total da amostra é de 3 pontos percentuais, para mais ou para menos, dentro do nível de confiança de 95%.
Essa foi a primeira pesquisa de uma série de três estudos encomendados ao Instituto de Pesquisa Datafolha. Os outros dois levantamentos estão previstos para julho e agosto, também evidenciando os panoramas atualizados acerca da educação das redes públicas durante a pandemia.